Oct - 27 - 2014

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Queremos com essa breve nota, além de reafirmar nossa posição eleitoral de voto nulo diante de alternativas anti-operárias, pontuar algumas divergências com dois setores da esquerda socialista: o PSOL, particularmente o Movimento Esquerda Socialista (MES), e o PSTU.

A movimentação eleitoral ainda está em aberto

Com o resultado eleitoral do primeiro turno cresceu a perspectiva de vitória de Aécio Neves no segundo turno. A situação fica ainda mais preocupante quando as primeiras pesquisas eleitorais são divulgadas e colocam o candidato ligeiramente à frente de Dilma. A possibilidade de vitória do tucano causa arrepios àqueles que guardam alguma memória política dos anos de neoliberalismo puro e duro. Não é por acaso que entre a juventude que quer mudanças o candidato tucano aparecia com grande vantagem sobre a petista. Mas, à medida que a campanha se desenvolveu, a estratégia de “desconstrução” usada contra Marina no primeiro turno foi eficiente também contra Aécio – não é difícil encontrar argumentos que liguem esse candidato às mazelas da década de 1990 – fazendo Dilma figurar alguns pontos à frente de Aécio.

Apesar de considerarmos que a vitória de Dilma é a mais provável devido a mobilização de amplos setores do movimento social e da intelectualidade a favor da candidata, não se pode dizer que a fatura esteja já encerrada. A maior parte da burguesia e dos seus meios de comunicação parecem inclinar-se a favor de Aécio e novas denúncias de corrupção estão sendo agora feitas diretamente contra Dilma. Mas, aqui o mais importante não é fazer uma previsão de quem sairá vitorioso no segundo turno, mas de encontrar um posicionamento justo diante da eleição e das tarefas que teremos que enfrentar após esse momento.

Dilma se eleita vai governar para os patrões

Não se trata, em absoluto, de negar as diferenças entre as candidaturas que estão na disputa presidencial. Aécio é representante direto do neoliberalismo que foi hegemônico na década de 1990 – mas que ainda tem muito espaço político inclusive no interior dos governos petistas de Lula e Dilma – responsável por um amplo processo de privatização, precarização e desmonte dos serviços públicos.

Dilma, como continuadora de Lula, é um governo que mantém-se no famoso tripé neoliberal – cambio flutuante, rigorosas metas inflacionárias e superávit primário para pagar os juros da divida pública – e, apesar de fazer algumas gestões para regulamentar a atividade privada, logo recuou diante do capital rentista, aumentando a taxa de juros e abriu mão do controle sobre a taxa de retorno dos investimentos. Além disso, privatizou serviços que antes eram monopólio do estado, como portos, estradas e aeroportos, privatizou também bacias de petróleo do pré-sal entre elas a maior descoberta realizadas no mundo nos últimos dez anos as áreas de Libra, com volumes superiores a 8 bilhões de barris de óleo recuperáveis. Isso sem falar na forma como esse governo encara greves e as lutas sociais. No quesito reforma agrária esse foi o governo que menos fez assentou inclusive em relação ao governo do PSDB, priorizando linhas de investimentos aos proprietários agrícolas.

Durante a greve dos servidores federais em 2012, Dilma cortou ponto dos grevistas, não negociou aumentos salariais acima da inflação e perseguiu ativistas, trabalhadores grevistas de usinas foram presos, o mesmo tratamento deu aos estudantes que lutaram contra a precarização das condições de ensino nas universidades federais, foi cúmplice dos governos estaduais na repressão às ocupações de reitoria e outros movimentos. E, mais recentemente, durante a Copa do Mundo, esteve a frente do aparato repressivo quebrando naquele momento os movimentos por direitos sociais. Esses quesitos deixam claro que tanto Dilma como Aécio estão a serviço da classe dominante. Isso foi demonstrado em vários momentos e será novamente assim após as eleições, quando os planos de ajuste serão dirigidos diretamente contra os trabalhadores.

Por isso, não se trata apenas de posicionar-se pelo voto nulo, pois essa é uma condição necessária porém insuficiente para orientar e organizar a classe trabalhadora no sentido da resistência. Nesse sentido, pensamos que os principais setores da esquerda socialista não apresentam para os trabalhadores, juventude e suas respectivas vanguardas um posicionamento que contribua para um armamento político eficaz após o próximo domingo, 25 de Outubro.

MES, deixa a escolha para os trabalhadores, se querem cortar seus braços com ou sem anestesia

É preciso, mesmo que sinteticamente traçar as divergências com as posições políticas da esquerda socialista e que podem influenciar negativamente na necessária resistência do período pós-eleitoral. Resistência essa que será inclusive decisiva para definir se a situação política pós-junho de 2013 permanece mais favorável à luta dos trabalhadores e da juventude combativa.

Em primeiro lugar, queremos apontar que o posicionamento do MES – corrente que se coloca no campo do socialismo – que ao não se diferenciar da posição oficial do PSOL – voto branco, nulo ou em Dilma – acaba corroborando com o oportunismo deslavado desse partido. Em seu texto o PSOL diz que deve-se preparar para lutar contra o ajuste dos capitalistas mas afirma que a “resolução do PSOL de vetar qualquer apoio em Aécio e de liberar dirigentes e militantes para declarar o voto nulo, em branco ou em Dilma foi uma política acertada. Ainda mais porque, em caso de optarem pelo voto em Dilma, a recomendação foi de não realizar uma campanha pelo voto”.

Essa posição é de um oportunismo indisfarçável, pois é evidente que ao abrir praticamente duas possibilidades, voto nulo/branco e voto em Dilma, esse partido acaba contribuindo para o voto em Dilma, diante da polarização eleitoral no interior de dois partidos que representam os interesses da classe dominante. Ou seja, o MES, ao defender essa formulação, rifa a sua independência de classe com medo de ficar em extrema minoria.

E lógico que qualquer organização política que não seja uma seita tem que lutar para aumentar a sua influência sobre a vanguarda e setores de massa, o problema que isso não pode nunca ser feito a custo de não dizer abertamente para a classe trabalhadora que diante de alternativas políticas da burguesia temos que manter a mais absoluta independência, pois, do contrário. estaremos enfraquecendo nossas fileiras diante desses governos, com ou sem verniz progressista.

Deixar o voto em aberto para não se enfrentar momentaneamente com setores que vêem em Dilma uma alternativa significa uma posição que enfraquece a resistência contra qualquer um dos dois – Dilma ou Aécio – que teremos que travar depois do próximo domingo. Isso não passa de um velho filme oportunista visto milhares de vezes e que acaba invariavelmente desarmando para a luta e desmoralizando os setores que embarcam nessa nau.

Mas, essa corrente, continua o seu argumento desfilando um verdadeiro show de horrores político. Traça uma analogia que causa estranhamento em qualquer um que se coloque no campo da resistência mais elementar. A citada nota da direção dessa corrente afirma que “esse partido seria a opção de cortar o braço do povo com alguma anestesia, e Aécio seria o corte sem anestesia alguma. A melhor hipótese porque a eleição não tem a capacidade de definir se a classe dominante terá forças para atacar o povo desta forma. Por isso, o voto nulo ou branco foi considerado como opção para os militantes desse partido.”[1] O referido argumento só pode ter sido tirado das profundezas do umbral do oportunismo, um fatalismo que tenta se disfarçar dizendo que as eleições não podem decidir o futuro da luta de classes, mas que na verdade não aposta centralmente na independência dos trabalhadores, dizendo que os militantes do PSOL tem a opção do voto nulo mas para as massas…o “cortar o braço do povo com alguma anestesia”.

A escolha em Dilma ou Aécio não tem nada haver com uma perspectiva de aceitar uma derrota mais ou menos dolorida, e nem que o voto de setores da classe trabalhadora em Aécio seja considerado por está como porta de entrada para o direitismo absoluto. Não parece ser essa a psicologia que move as massas, há o setor que acredita que Aécio seja uma “mudança”. O problema é que a direção do MES capitula à polarização dentro do espectro político no interior da classe dominante. Essa corrente, e o PSOL como um todo, acaba, no afã de não se desligar de setores mais amplos dos trabalhadores e da juventude, por ceder à pressão dos aparatos burocráticos dirigidos majoritariamente pelo lulismo. Ao desconsiderar que não vivemos no signo da derrota do movimento dos trabalhadores ou da juventude, pelo contrário, depois da revolta de Junho as cartas da correlação de forças ainda estão sendo jogadas e só se decidirão nas lutas após o segundo turno, não apostam na independência de classes e na resistência contra os ajustes burgueses que virão.

Na verdade, essa corrente não aposta na possibilidade de que a classe operária em unidade com a juventude possa resistir aos ataques que virão, mesmo porque em seu texto a classe trabalhadora não figura entre os setores que irão resistir no próximo período. Não temos o menor acordo com essa apreciação, a situação de crise econômica, os ajustes, o desemprego, o arrocho salarial e o desgaste com os aparatos burocráticos em sua maioria dirigidos pelo PT será uma combinação que pode colocar em movimento a classe trabalhadora, sim.

PSTU, sectarismo fortalece patrões e o governo

Já o PSTU critica corretamente essa tergiversação política, mas incorre, mais uma vez, no sectarismo de uma linha política que já se faz estrutural. No texto «Não basta derrotar Aécio, Dilma não governa para os trabalhadores: O porquê do voto nulo no segundo turno», assinado por Zé Maria, vemos a critica a posição política do PSOL e do MES, porém, ao não realizar nenhum balanço da sua posição eleitoral do primeiro turno, acaba incorrendo no mesmíssimo beco sem saída da sua política eleitoral.

Ao finalizar o texto essa corrente aponta que o voto nulo “busca fortalecer e desenvolver a organização e a luta dos trabalhadores em base a um critério de independência de classe e para construir uma alternativa operária, de luta e socialista para o Brasil.” É isso e ponto,

em nenhum momento o texto referido sequer apresenta a necessidade de construir uma frente única das organizações política e sindicais independentes dos patrões. Essa é uma política estratégica fundamental em um período em que a classe trabalhadora como um todo ainda não ganhou o centro da cena política nacional, somente a juventude.

Longe de ser um raio em céu aberto essa tem sido a orientação central de do PSTU. A sua tática eleitoral foi incorreta, como já apontamos em nossa declaração anterior, pois voto nulo por voto nulo não altera nada, pois ao não dar a batalha para criar uma frente eleitoral independente enfraqueceu o pólo da esquerda nas eleições, deixando o PSOL capitalizar a ampla maioria dos votos dos setores da juventude e da classe trabalhadora que rompem a esquerda com o lulismo.

Se na política eleitoral essa linha já é um sério problema, na luta de classes ganha contornos inaceitáveis para uma organização revolucionária. Não compreendem a necessidade imperiosa de ter política de frente única para lutar, este é um sério equívoco para orientação de qualquer corrente revolucionária, principalmente para uma que tem alguma influência no movimento operário, mesmo que sendo ultra minoritária, como o PSTU.

Essa orientação não contribui para que a luta dos trabalhadores no próximo período possa existir e ser vitoriosa principalmente diante de uma burguesia que após as eleições estará novamente unida contra a classe trabalhadora. Por isso, não temos acordo com a posição oportunista do PSOL, pois contribui para criar ilusões de que votando em Dilma a situação pode ser mais favorável para a sua luta – ao contrário só a independência de classe pode nos favorecer. E, também, não concordamos com aqueles que desprezam, como o PSTU, a necessidade imperiosa da unidade para enfrentar os ajustes. Por isso, no segundo turno: voto nulo e preparação imediata da unidade para lutar contra os ajustes que virão contra a juventude, e trabalhadores e demais oprimidos.

[1].- Coordenação Nacional do MES / PSOL. 19/10/2014.

Práxis – Socialismo ou Barbárie, 24/10/2014 http://praxisbr.blogspot.com.br

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