Compartir el post "► BRASIL: Luta radicalizada dos metalúrgicos da Volks e GM mostram o caminho a seguir"
Por Antonio Carlos Soler, Práxis –Socialismo ou Barbárie, 12/03/2015.
Em um cenário de crise político-econômica estrutural e sem perspectivas de solução a curto prazo, setores fundamentais da classe trabalhadora voltam depois de ao menos duas décadas de inatividade política a protagonizar greves radicalizadas que são exemplo de luta não apenas para os trabalhadores do Brasil.
Os metalúrgicos da General Motors (GM) de São José dos Campos e da Volkswagem de São Bernardo do Campo protagonizaram greves com um nível de independência dos patrões e da burocracia há tempos não verificada. Trata-se de uma categoria de trabalhadores que durante o ciclo lulista não tinha sentido as consequências da crise econômica de 1998 e, mais recentemente, do fim do ciclo de alta internacional das commodities.
Um cenário de polarização política que veio para ficar
A crise econômica se combinou a partir de 2013 com uma nova situação inaugurada com a explosão de indignação popular que balançou o cenário político nacional e deixou marcas indeléveis na realidade. De lá para cá, momentos de relativa tranquilidade são interrompidos com uma atividade massiva e radicalizada dos trabalhadores e da juventude não vista há anos em nosso território.
Essa crise até a eleição de Dilma pôde ser camuflada e ter os seus efeitos diluídos porque até o momento não havia se desdobrado no crescimento do desemprego e nem em cortes de direitos e políticas sociais. Mas, após as eleições, como era de se esperar, o governo passou a um duro ajuste neoliberal que tem no cerne o ajuste fiscal que objetiva poupar mais de 80 bilhões que serão destinados ao pagamento de juros.
Ajuste este que combinado com a crise política ligada ao esquema de corrupção, que tem a Petrobrás no centro (detonado por uma operação da polícia federal denominada Operação Java Jato), já está afetando diretamente o emprego de milhares de trabalhadores por todo país. O cenário econômico vem se deteriorando continuamente e tem como consequência déficits sistemáticos na balança comercial e pagamentos, crescimento da dívida pública, alta inflacionária, estagnação econômica e crescimento acelerado do desemprego.
Apenas no primeiro mês deste ano foram demitidos mais de 30 mil trabalhadores, número este que se soma aos milhares de demitidos na indústria metalúrgica, na construção civil e agora nas milhares de demissões sem indenização pelas empresas contratadas pela Petrobrás e pelas grandes construtoras que estão no centro do esquema de corrupção. Este elemento é o que gera maior agitação sindical que se bem aproveitada pode se desdobrar em uma luta política importante contra as medidas do governo e que se coloque acima da forte polarização pela direita posta após a eleição de outubro de 2014
A Petrobrás e todo o complexo de empresas que giram em torno dela são responsável por algo em torno a 15 % do PIB nacional. Por isso, não é exagero dizer que a crise de corrupção que levou a suspensão de contratos tem repercussões econômicas e políticas. Os trabalhadores da COMPERJ (Complexo petroquímico do Rio de janeiro), por exemplo, já estão em um processo intenso de lutas que tende a radicalização. A última ação foi ocupar temporariamente a sede do Ministério do Trabalho após uma negociação frustrada com a patronal.
Estas lutas ocorrem em um cenário em que há uma combinação explosiva, de fatores políticos e econômicos que colocou o governo Dilma contra a parede. Há pelo menos dois anos o Brasil passa por um processo contínuo de deterioração econômica ligada diretamente ao fim do ciclo da valorização mundial da commodities.
Como resultado dessa situação, e em resposta ao “estelionato eleitoral”, houve uma queda brutal da popularidade da presidente e dos governadores de estado. Dilma perde base de sustentação em todos os setores. Entre os trabalhadores devido ao aumento do desemprego e a perda de direitos com o ajuste fiscal, entre a classe média com alta do dólar e a burguesia compradora que com à valorização do dólar eleva os custo, sobretudo das importações. Além disso, perde apoio no Congresso Nacional que, afetado diretamente pelas denúncias de propina, passa a dificultar a aprovação de projetos ligados ao ajuste fiscal. Recentemente a proposta de desoneração da folha de pagamento foi devolvido para ao planalto para ser reavaliada.
Há nesse momento uma perda significativa de protagonismo do governo que não poderá mais definir a pauta política sem uma intensa negociação e compartilhamento do poder com o congresso nacional, o que pode significar também dificuldades ainda maiores para impor o pacto de maldades para voltar as condições macroeconômicas ideais para a exploração capitalista no Brasil.
Podemos dizer que estamos diante de uma crise política orgânica, pois começa a haver uma combinação explosiva entre a deterioração econômica, perda de apoio popular e de base parlamentar e mobilizações de rua. Crise essa que mesmo que não se desdobrar em um impeachment de Dilma do poder tende a significar um longo período de indefinições e polarização política.
Métodos históricos de luta voltam a fazer parte do cotidiano dos trabalhadores
Os metalúrgicos da Volkswagen de São Bernardo do Campo e da GM de São José dos Campos protagonizam greves vitoriosas contra demissões em massa desde o início do ano.
Não foram os primeiros a após dez anos de pacificação lulista a entrar em cena de maneira radicalizada, foram antecedidos no processo de radicalização pela juventude universitária, trabalhadores dos serviços construção civil em várias partes do país a partir de 2011, trabalhadores da limpeza e trabalhadores do transporte coletivo. Mas, sem dúvida, vêm a cena política como ingrediente definitivo para coroar o fim do ciclo político inaugurado em 2002.
Passamos a descrever resumidamente a dinâmica dos conflitos operários que nos transmitem lições fundamentais da luta de classes em qualquer cenário, principalmente quando se estabelece uma crise política estrutural como a que estamos assistindo atualmente.
Os trabalhadores da planta da Volkswagem (VW) de São Bernardo do Campo no mês de dezembro de 2014 rejeitaram a proposta em comum acordo entre o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (ligado a CUT e ao governo) e a patronal. Acordo este que previa dois anos sem reposição salarial em troca de um bônus e um Plano de Demissão Voluntária (PDV) para 2100 trabalhadores.
Já no no dia 5 de janeiro 800 trabalhadores que estavam em férias coletivas receberam o aviso da demissão. No dia seguinte em assembleia na porta da fábrica os trabalhadores decidiram que todos entrariam em greve e permaneceriam no interior da fábrica.
Mesmo sendo dirigidos pela burocracia dilmista que queria assinar em dezembro de 2014 o acordo com a patronal, a disposição de luta dos trabalhadores polarizou na Volks, contou com o apoio ativo dos trabalhadores das montadoras de São Bernardo do Campo (SP), ações de rua que paralisaram a cidade e uma solidariedade interna impressionante. Assim, após 11 dias de greve total com ocupação, piquetes na porta e passeatas a patronal foi obrigada a readmitir 800 trabalhadores.
Na planta da General Motors (GM) de São José dos Campos, a partir do dia 13 de fevereiro 784 trabalhadores que estavam em lay-off, acordo assinado entre patronal e o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (ligado a CSP-Conlutas e dirigido pelo PSTU), deveriam voltar ao trabalho e ter estabilidade até o mês setembro. Mas, a empresa descumpriu o acordo e queria demitir todos 784 trabalhadores.
Na GM desde 2012 foram demitidos mais de 2400 trabalhadores sem que uma resistência efetiva contra as demissões fosse impulsionada pelo sindicato. Mas, a história não iria se repetir. Após o anuncio das demissões uma agitação tomou conta da fábrica e em assembleia no dia 20 de setembro todos os trabalhadores em assembleia decidiram fazer a greve no interior da empresa para garantir que a produção seria totalmente paralisada.
Com esse nível de organização e garantindo 100% de paralisação foi imposto a patronal um acordo que garante a continuidade do lay-off. No acordo está previsto que 650 trabalhadores continuam em lay-off por mais 5 meses, a partir do dia 9 de março, e terão estabilidade de mais 90 dias após o término da suspensão de contrato. Além disso, os dias parados não serão descontados e mais três meses de estabilidade.
Estes são exemplos vitoriosos de lutas que colocaram em prática os métodos históricos foram vitoriosos. Nem sempre é assim, a história é repleta de exemplos de greves e lutas derrotadas mesmo quando os trabalhadores utilizam métodos radicalizados.
Somos contra tomar burocraticamente medidas que a classe não possa levar adiante. No entanto, fomentar entre os trabalhadores, quanto existem as mínimas condições para isso, os métodos tradicionais de luta têm valor inestimável para a educação política da classe. Além do mais, a atual dinâmica da luta de classes aponta para a necessidade crescente de enfrentamentos radicalizados em defesa do emprego, salário e condições de trabalho.
Como todos sabem, na luta não existe garantia prévia de vitória, os conflitos se resolvem a favor deste ou daquele contendente a depender da correlação de forças. Mas a questão que também queremos sublinhar aqui é sobre o processo de adaptação de correntes de esquerda que assumem perspectivas revolucionária mas quando estão à frente da luta, da necessidade e possibilidade de resistir de forma contundente assumem posição conservadora. Esse foi o caso em vários momentos da direção do sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos que em diversas vezes diante das demissões em massa na GM ou em outras fábricas da região sequer apresentou proposta de greve para a categoria.
Nem governo e nem oposição burguesa – Superar o sectarismo e organizar os trabalhadores
No cenário de polarização política que estamos vivendo, esses exemplos, além do método que trazem, têm grande transcendência política, pois ao lutar este setor da classe operária industrial pode colocar objetivamente em colapso a todo o complexo industrial brasileiro.
Do ponto de vista político as greves dos metalúrgicos, além de responder diretamente a uma situação objetiva dada pela demissão massiva de trabalhadores por essas empresas, traz para a esfera da luta política de classes a ruptura eleitoral da classe operária verificada durante a eleição de outubro de 2014, na qual Dilma e o PT foram derrotados em todas as regiões operárias do Brasil.
As greves da Volks, GM e as lutas dos trabalhadores da construção e os seus métodos de luta (ocupação e piquetes) demonstram que a ruptura eleitoral com Dilma, ao menos entre a classe operária, não tem um viés político direitista como desavisadamente se poderia inferir.
É necessário romper com a polarização entre o PT e as demais forças conservadoras e colocar em pé uma plataforma política que apresente uma alternativa política pela esquerda que tenha no centro a luta contra o ajuste antioperário, a defesa do emprego e do salário.
A crise política novamente detonada pelos esquemas de rapinagem das grandes empresas que coloca a olho nú a falência do estado capitalista e requer da nossa parte uma alternativa política total, uma alternativa que dê conta de resolver a crise orgânica na qual estamos inseridos.
O PT e o governo querem realizar uma reforma política que em nada irá mudar os terríveis mecanismos de dominação sobre a classe trabalhadora. Da nossa parte pensamos que temos que apresentar para os trabalhadores a proposta de uma assembleia constituinte que mude de cima a baixo o estado e a estrutura econômica atual.
Na próxima semana a política nacional está polarizada entre o ato em defesa do governo chamado pelo PT e CUT que será realizado no dia 13 e o ato oposicionista de direita convocado para o dia 15. Os trabalhadores estão tomando as ruas, fazendo greves, passeatas e ocupações mas a sua indignação não encontra uma representação política autêntica. Em muitos casos acabam sendo atraídos pela política do PSDB e de outros setores da classe dominante, o voto em Aécio na última eleição demonstrou isso muito claramente, por isso, pensamos que a esquerda, particularmente, PSTU, PSOL e as organizações sindicais e estudantis ligadas aos trabalhadores, devem superar imediatamente toda forma de dicotomia e autoproclamação e passar a organizar imediatamente um movimento dos trabalhadores e da juventude que rompa com esse torniquete entre governo e oposição de direita.