No momento da escrita destas linhas, a vitória do “NÃO” no referendo grego sobre a última proposta da Troika parece irreversível: com 65% escrutinado, o NÃO leva uma vantagem de mais de vinte pontos sobre o SIM (61,3% contra 48,7%)
Trata-se de uma vitória dos trabalhadores e o povo grego contra os ajustadores da União Europeia, o FMI, o Banco Central Europeu, e todos os governos capitalistas europeus que buscam impor ao povo grego um novo memorando de austeridade e lhes infringir uma derrota política. Está claro que, apesar da política enganadora do Syriza ao redor do referendo, política que temos denunciado, os explorados do país helênico expressou na urnas seu rechaço à austeridade, às políticas de fome dos últimos anos, à prepotência imperialista da Troika e o caráter quase “semicolonial” da Grécia na UE. Uma vez mais, como nas eleições de 25 de janeiro – repetimos, apesar disso não se expressar ainda de maneira claramente independente, de classe e socialista -, o povo grego propiciou uma derrota de primeira ordem aos ajustadores de todo tipo e cor, particularmente significativa dada à campanha terrorista do imperialismo, na qual o próprio presidente do Parlamento Europeu chegou a afirmar esta manhã que a vitória do “NÃO” significaria diretamente a saída da Grécia do euro.
Sem dúvidas, o governo do Syriza tentará aproveitar está vitória para reforçar sua política de negociações com a Troika, que levou ao impasse e que renuncia a todas as promessas iniciais de campanha e aceita o essencial das imposições da Troika. Existe o perigo de que Syriza e Tsipras saiam legitimados do referendo e tentem canalizá-lo para novas capitulações e derrotas, porém isto tampouco será fácil: a grande vantagem do NÃO – maior que prevista -, a polarização social e política que precedeu o referendo, a dinâmica e mobilização desde baixo que organizou em torno de 100.000 pessoas e a mostra de solidariedade internacional parecem reduzir as margem de manobra do Syriza para uma capitulação que Tsipras vem buscando fazem meses. Desde o princípio assinalamos que o nosso NÃO é crítico, independente do reformismo de Syriza. Consideramos que com esta votação, os trabalhadores e o povo grego não deu um cheque em branco ao governo grego: o que se expressou nas urnas não é um apoio a proposta apresentada por Syriza à Troka, na qual tem que se procurar com lupa as “melhoras” em relação à proposta feita pela Troika, já que aceita o pagamento da dívida, aumento do IVA, continuidade das privatizações, reforma da aposentadoria… O que se expressou é um rechaço à austeridade, à política do imperialismo e da Troika. Indireta e contraditoriamente também o referendo rechaça as tentativas futuras do Syriza de levar adiante essa mesma política de austeridade.
Do que se trata agora é de fazer desta vitória no referendo uma pontapé de uma ampla mobilização operaria e popular, que tire este NÃO difuso da mão do reformismo do Syriza e o transforme claramente em um NÃO às negociações com a Troika, em um NÃO à austeridade, em um NÃO ao pagamento da dívida, É sobre essa base que deverá se avançar nas medidas estratégicas que a classe operária grega necessita: nacionalização dos bancos e do comércio exterior, dos setores-chave da economia, ruptura anticapitalista com a União Europeia imperialista, resolução das necessidades básicas dos trabalhadores e do povo (saúde, educação, trabalho, moradia e etc.). Apenas com um programa anticapitalista e socialista, claramente independente da direção reformista do Syriza, apoiado na auto-organização e na mobilização massiva dos trabalhadores gregos que coloque no centro da cena a questão de quem governará o pais e para qual interesse, que poderá se dar uma saída da crise capitalistas ao serviço dos interesses dos explorados e oprimidos. O referendo é apenas um ponto de apoio, um ponto de partida, nunca de chegada: na realidade, as eleições nunca poderão mudar a raiz do sistema capitalista opressor que nos condena a fome e a miséria. Apenas a mobilização revolucionária e independente dos trabalhadores e do povo grego, com fortes partidos revolucionários na sua direção, poderá acabar com este sistema desumano e colocar de pé o poder dos trabalhadores e o socialismo.
Declaração de Socialismo ou Barbárie Europa, 05/07/2015, 22hs