«Arrancar alegria ao futuro”
Ontem tornou-se público o “Manifesto pela construção de uma nova organização socialista e revolucionária no Brasil”. Trata-se de uma importante ruptura no PSTU, o maior partido da esquerda revolucionária do país.
Essa ruptura, que abre uma verdadeiro “cataclismo” na esquerda brasileira, não é totalmente inesperada.
A visível inércia do PSTU diante dos acontecimentos revolucionários de junho de 2013, já a prefigurava. Se, no geral, qualquer ruptura de nossas pequenas organizações não deve ser festejada, essa cisão se demonstra de todo ponto de vista muito progressiva.
A avaliação de que se era possível continuar convivendo sob o mesmo teto diz respeito inteiramente aos seus militantes. No entanto, parece-nos categórico que as posições que esboçam os companheiros e companheiras que fundam esta nova organização, expressam uma importante superação no marco anterior de atuação.
O problema é que internacionalmente a LIT vinha cometendo um erro atrás do outro. Apoiada em uma abordagem extremamente objetivista dos problemas da luta de classes (que reduz a importância do amadurecimento da consciência e organização dos trabalhadores a zero), essa corrente confunde referenciais políticos elementares: desde o Egito até a Venezuela, passando por Cuba ou Ucrânia, os seus posicionamentos, uns mais do que os outros, foram totalmente disparatados (no primeiro país, por exemplo, comemorou como uma “revolução” o golpe de Estado do general Al-Sisi).
Indo do mundo ao Brasil, a política do PSTU em relação a crise do governo do PT foi completamente equivocada. Perdeu-se de vista um aspecto fundamental da analise marxista, de que não é o mesmo que um governo burguês de mediação (colaboração de classes) seja derrubado pela ação das massas ou por uma ofensiva de direita.
Durante meses o PSTU apoiou o impeachment de Dilma Rousseff mesmo sendo evidente que não estávamos em 1992 (quando o julgamento político de Collor de Melo ocorreu pela esquerda).
Porque o que acabou tirando do poder Dilma e seu governo de ajustes foi uma mobilização das classes médias altas reacionárias que contou com a passividade dos trabalhadores (produto da perda de sustentação do governo e do PT devido à sua gestão inteiramente capitalista da crise económica). A maioria do PSTU pareceu não aprender nada de outras experiências da região (Argentina, Venezuela…), que demonstravam a necessidade de colocar no centro da ação uma política intransigente de independência de classe, que se expressa na fórmula: nem com os governos progressistas, nem com a oposição patronal de direita.
A minoria, que na realidade é a metade do partido, viu-se obrigada assim a romper levantando bandeiras que nos parecem absolutamente corretas: considerar-se – contra toda a autoproclamação – como parte do marxismo revolucionário internacional, tomar o conjunto das reivindicações dos explorados e oprimidos, conceber a revolução socialista como um processo de autoemancipação dos trabalhadores, defender uma concepção verdadeiramente leninista de partido (que combina o centralismo na ação e a mais ampla democracia na discussão), levantar uma perspectiva de independência de classe e revolucionária em oposição ao reformismo, economicismo, sindicalismo e eleitoralismo; e que signifique, ao mesmo tempo, impulsionar a mais ampla unidade na luta de classes e as frentes únicas necessárias para o avanço da organização dos revolucionários.
Além do mais, a forma como os companheiros apresentam a sua saída do PSTU expressa uma renovada sensibilidade: com uma frase de um poema de Maiakovski que demonstrava a confiança deste – a pesar da terrível burocratização da Revolução Russa! – no futuro.
Então saudamos a formação desta nova organização socialista revolucionária no Brasil e nos colocamos a disposição de seus militantes para que a seu tempo vejam a possibilidade de iniciar uma relação fraternal com nossa corrente internacional. Sua ruptura reabre o jogo do trotskismo na região: dinamiza os processos de construção colocando a possibilidade de novas confluências. Que assim seja.
Por Roberto Sáenz e Antonio Soler, Socialismo ou Barbárie Internacional, 7/7/2016