Construamos uma saída independente para a crise
Nenhuma confiança em Lula e nas
centrais sindicais
pelegas!
Editorial do Práxis, Fevereiro
de 2009
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“Metalúrgicos
do ABC” |
Em dezembro de 2008 ocorreu um verdadeiro
“tsunami” em nosso país. Os tsunamis (ondas
gigantes) têm causas naturais, já o tsunami econômico que
nos assolou tem causas históricas e sociais, e fez com que
milhares de empregos fossem ceifados. Segundo dados oficiais,
cerca de 650 mil trabalhadores perderam seus empregos. A
crise econômica que vinha mostrando suas garras de maneira
“tangencial”, se instalou com toda a força fazendo
desaparecer do cenário a tão falada “blindagem econômica”
que Lula vinha repetindo em todo o ano de 2008.
Neste marco, dados nacionais e internacionais
demonstram que longe de chegar ao fim, a crise econômica
se aprofunda de maneira global: demissões em massa estão
ocorrendo em todas as partes do globo, chegando finalmente
à China. A realidade objetiva desmente os que se
apressaram em decretar o fim da crise após a injeção de
cifras faraônicas por parte dos governos dos países
centrais e, também, dos periféricos.
Esses milhões de dólares e euros tinham como
primeiro objetivo salvar os bancos que se encontravam
quebrados e, assim, estabilizar os sistemas financeiros.
Logo se viu que a crise era mais dramática, tendo que se
“ajudar” também as montadoras de automóveis, e agora
se sabe que os bancos seguem quebrados, que as montadoras
estão prestes a falir e que finalmente o sistema não está
estabilizado. Passada a onda de otimismo pós-posse de Obama,
na melhor das hipóteses a situação segue como antes.
Dizemos na melhor das hipóteses pois há indícios de que
estamos entrando em nova fase da crise, uma depressão
mundial cujas conseqüências serão dramáticas.
Obama tem se limitado em tomar medidas pontuais sem
enfrentar o real problema da economia norte-americana, isto
é: sua solvência. Junto a isso tem lavado as mãos em relação
aos ataques que a burguesia yanque tem desferido contra os
trabalhadores; age assim porque além de seu discurso
“progressista” e de determinadas medidas que venha
eventualmente a tomar para agraciar sua base social, é um representante
da grande burguesia imperialista norte-americana e está
comprometido até os ossos com os interesses materiais desta
mesma classe.
Em momentos de crise econômica desta magnitude e
profundidade - pois estamos em uma das mais profundas crises
de superprodução global - não existe saída neutra, ou
seja, ou os trabalhadores por meio de sua luta impõem aos
patrões os custos da crise ou demissões em massa, perda de
direitos etc irão ocorrer. Em todo caso, os ataques aos
trabalhadores não ocorrerão sem luta, os acontecimentos em
várias partes do mundo começam a demonstrar: a grande
greve geral na França e as lutas que têm esquentado a fria
Finlândia, por exemplo.
Atenção
para uma nova conjuntura nacional
Em terras tupiniquins a conjuntura está mudando
rapidamente: primeiro foi o discurso de “descolamento
e blindagem” da economia, agora Lula e a burocracia
sindical organizada na CUT, Força Sindical, CGT, CGTB e
demais aparatos pelegos verborragem “que a crise será
passageira”. Com isso tentam impedir que os trabalhadores
comecem a sair à luta por seus empregos, e quando não
conseguem, levam as lutas ao beco sem saída dos acordos que
reduzem salários e outros direitos e conquistas de lutas
anteriores.
O modelo que se forjou para o crescimento econômico
dos últimos anos está esgotado. Esse modelo baseava-se
basicamente em crédito fácil para a compra de bens de
consumo, principalmente carros. Acontece que agora esses
empréstimos estão cada vez mais caros e as exigências por
parte dos bancos e financeiras são cada vez maiores. Junto
a isso, o recente boom de demissões e o aumento dos
preços têm levado a um crescimento de inadimplentes,
isto é, de pessoas que não mais conseguem pagar seus empréstimos.
Dados de novembro do ano passado são os maiores desde 2002
e com certeza os de dezembro, que ainda não foram
divulgados, serão ainda maiores.
A farra de empréstimos fáceis, que junto com o
mecanismo de juros altos fizeram os bancos lucrarem como
nunca findou, prova disso é que o Bradesco, um dos
principais bancos do país, divulgou seu resultado
financeiro onde encerrou o ano de 2008 com um lucro de R$7,62
bilhões, significando uma diminuição de 5% na comparação
com o ano anterior. Entretanto, quando olhamos somente o último
trimestre de 2008, a queda significou quase 27% em referência
ao mesmo período do ano passado. Esses dados, que com
certeza vão se repetir em outras instituições financeiras,
tiram por terra outro mito bastante repetido em todo o ano
passado: que o sistema financeiro brasileiro se encontrava
“sólido”.
Lula
quer que os trabalhadores paguem a conta. Quando tudo “corria bem” as empresas tinham lucros faraônicos,
agora que a crise chegou forte, Lula corre a “ajudar”.
Assim foi com o Grupo Votorantin, do empresário Antônio
Hermírio de Moraes, líder no mercado nacional de papel e
celulose e também de cimentos, que aproveitando o paraíso
do crédito abriu seu próprio banco, e agora teve parte das
ações compradas pelo Banco do Brasil. Por sua vez, os
trabalhadores têm tido que apertar ainda mais o cinto para
saldar as dívidas que possuem.
Conlutas
deve organizar a luta de forma conseqüente
Nessa conjuntura se fortalece a santa trindade,
governo Lula, Patronal e Sindicatos Pelegos. Eles têm feito
de tudo para impedir que a classe trabalhadora saia a lutar
por seus direitos e com seus próprios métodos de luta, o
que em muitos locais já está acontecendo, principalmente
no setor fabril, setor de grande importância.
Há poucos dias, na região do ABC paulista, berço
das grandes greves operárias do fim dos anos 70 e 80 e que
geraram o PT e a CUT, fábricas metalúrgicas se
encontravam em greve, entre elas Max Precision, Special
Quality, Mahle, a TWR autopeças, com tradição de luta e
protagonista de lutas importantes em momentos anteriores.
Agora essa fábrica se encontra sob o controle da burocracia
Lulista que manejou a luta para um acordo rebaixado.
Por sua vez a Conlutas, da qual fazemos parte
e reivindicamos como o que existe de mais progressista na
atual conjuntura, tem sido incapaz de organizar a luta de
forma conseqüente, mesmo nos lugares que supostamente
dirige, como é o caso dos Metalúrgicos de São José dos
Campos, se limitou a organizar um ato no centro da cidade
que reuniu 3000 pessoas (vale lembrar que somente na GM de São
Jose trabalham quase 5 mil metalúrgicos e que o ato era
contra a demissão de 800 companheiros).
Para enfrentar as conseqüências da crise econômica
é preciso mais que palavras bonitas e saudações à
bandeira. Precisamos colocar de pé imediatamente uma
alternativa totalmente independente do governo e da
burocracia. Não podemos cair no canto de sereia que tem
sido entoado pela patronal e pela burocracia das centrais
sindicais, que reduzindo salários e horas de trabalho vamos
salvar nossos empregos. Já está mais que provado que isso
não funciona, basta vermos o caso dos metalúrgicos do ABC,
onde tem sido sistematicamente aplicado esse princípio, nos
anos 80 eram 200.000, hoje, depois de bancos de horas,
diminuição de direitos conquistados, são 130.000.
Não podemos deixar passar esses primeiros ataques
sem uma resposta à altura. Nesse sentido a última reunião
da Conlutas realizada no Fórum Social Mundial é um erro
total, uma vez que somente votou dois atos, um no Rio de
Janeiro e outro em São Paulo e a realização de um
encontro no fim do ano, encontro esse que se depender da
disposição do PSTU será mais um parlamento que discute e
não organiza a luta.
É
preciso romper com essa lógica. Temos que organizar
imediatamente uma ampla campanha nacional contra as
demissões e a redução dos salários, uma ampla
campanha que se inicie por apoiar os que já estão
lutando, ao mesmo tempo, que coloque em marcha um Encontro
Nacional de Base com delegados eleitos e que discuta e
organize um plano de lutas que parta das reivindicações
imediatas e possa organizar uma forte e contundente resposta
aos ataques da patronal e do governo.
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