Conlutas: política de exigência é insuficiente
Por
Antonio Carlos Soler
Práxis,
Fevereiro
de 2009
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Metalúrgicos do ABC
Chega de banco de horas e redução de salários,
Assembléia Geral do Sindicato e Plano de Lutas Já!
Práxis–Diadema
Fevereiro de 2009
Como parte dos reflexos da crise econômica mundial, a
categoria está enfrentando um verdadeiro ataque aos seus
empregos e salários, várias fábricas têm demitido e
reduzido os salários com a conivência criminosa do
Sindicato, que tem se comportado como verdadeira correia de
transmissão dos interesses das fábricas.
Estamos diante dos primeiros enfretamentos e
infelizmente o Sindicato tem encaminhado todas as lutas,
sendo que muitas delas tiveram as greves transformadas em
acordos muito ruins.
Em uma situação como a que estamos vivendo, muitos
companheiros acreditam que o mais importante agora é
garantir o emprego, mesmo que para isso os já arrochados
salários sejam reduzidos. O problema é que já está mais
que provado que isso não resolve a situação, a cada redução
e diminuição de direitos os patrões exigem mais redução
e mais diminuição, e o Sindicato, apesar de fazer barulho,
pouco faz para resistir. A recente greve da TWR, em Diadema,
é prova cabal dessa política.
Durante o fechamento desta edição chegou a notícia
de que no dia 6/2 paralisaram as atividades por três horas
as fábricas Max Precision e Special Quality, que juntas reúnem
cerca de 400 trabalhadores, contra a demissão de 49
companheiros e pelo pagamento do 13 salário que ainda está
pendente. Também a Mahle, empresa multinacional que em sua
fábrica de São Bernardo do Campo possui 1200 operários,
acaba de demitir 400 e ameaça outros 140 com o mesmo
destino, enfrentou a paralisação de suas atividades por 24
horas.
O que está ocorrendo com as fábricas metalúrgicas no
ABC, principalmente no setor de autopeças, é um reflexo da
crise econômica e atinge todo o setor e também as próprias
montadoras.
A Mercedes–Benz acaba de anunciar férias coletivas a
partir de 23 de fevereiro e a GM de São Jose dos Campos
demitiu 802 operários, 10% de seu quadro.
Nessa
situação temos que exigir que o Sindicato convoque
imediatamente uma assembléia geral de todo o setor
automobilístico para que juntos organizemos a resistência,
o que a nosso ver passa por rejeitar todas as propostas de
banco de horas e redução de jornada com redução de salário.
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“Metalúrgicos
do ABC” |
Com
toda a ofensiva da patronal e da burocracia na base do
Sindicato dos Metalúrgicos de São José, dirigido pelo
PSTU, existe uma forte pressão para se aceitar propostas de
redução de salário e de jornada. Aí se colocam duas
questões, uma de ordem tática e outra de ordem política e
ideológica. A primeira é por quê diante da demissão
massiva de 800 trabalhadores na GM não foi encaminhada uma
proposta de greve da fábrica e mobilização conjunta de
toda a categoria? A segunda é por quê em uma categoria
dirigida pela CONLUTAS e pelo PSTU trabalhadores tendem a
aceitar propostas de rendição antes de lutar?
Voltemos
um pouco à história recente do movimento sindical. Desde a
mobilização de maio e junho de 2008 contra o pacote
patronal da GM, com apoio de toda a classe dominante de São
José dos Campos, onde foi imposta a contratação de
trabalhadores temporários, havia um debate no movimento
sobre a estratégia da CONLUTAS/PSTU em manter aquela luta
isolada nos marcos locais e que a contratação de temporários,
no final deste processo, teria sido uma derrota. Este é um
balanço político que nunca foi feito pelos companheiros da
direção da CONLUTAS e do PSTU.
Trazemos
estes fatos porque em que pese os fatores objetivos que
influenciam a consciência e ação dos trabalhadores, a política
do setor majoritário da CONLUTAS não arma os trabalhadores
para o nível de enfrentamento que a conjuntura exige,
pois a estratégia superestrutural e corporativista
desenvolvida pela direção majoritária da CONLUTAS nos últimos
anos é inegavelmente o fator para que lutas reais e diretas
em suas bases não tenham se desenvolvido até o momento.
A
CONLUTAS, sob a direção do PSTU, não consegue
construir políticas que façam frente às demissões
massivas, nem mesmo nas categorias que dirige. Exemplo
recente da falência política desta corrente é como tem
orquestrado a tática de exigência ao governo. Vejamos: ao
não impulsionar a organização pela base de um grande
plano de lutas nacional transformou a tática de exigência
ao governo em estratégia.
A
carta da CONLUTAS ao presidente LULA que poderia ser uma tática
correta, levando–se em consideração
a popularidade do governo e as ilusões que milhões de
trabalhadores tem de que saídas favoráveis podem ser
encontradas sem o enfrentamento direto com o governo, sem dúvida
uma questão meramente tática, passou a ser encaminhada
pela direção da CONLUTAS como uma verdadeira estratégia.
Pois ao não organizar, mesmo em sua base, a
resistência concreta às demissões, esta tática acaba
emergindo como ação privilegiada e não como uma das
pontes para impulsionar a mobilização direta.
Os
antecedentes da REVAP e GM
É
por isso que afirmamos que a direção política do PSTU a
frente da CONLUTAS tem se demonstrado, já em momentos
anteriores, desastrosa para os trabalhadores e as
categorias que dirige. Foi assim na luta dos trabalhadores
da REVAP e da GM no primeiro semestre de 2008, agora a
estratégia sindical calcada no corporativismo, na
superestruturação e imediatismo e incapaz de colocar
os trabalhadores em um movimento de resistência real,
demonstra de forma dramática o seu fracasso.
Mas
não nos iludamos, a política errática da direção
majoritária da CONLUTAS faz parte de uma concepção
economicista (corporativista, superestrutural e
conservadora) que vem se construindo ao longo da formação
da entidade. O caso dos metalúrgicos de São José dos
Campos é emblemático para compreender a lógica com a qual
opera esta direção, por isso vale a pena nos debruçarmos
um pouco sobre ele.
Quando
eclodiu a crise em setembro, o Sindicato dos Metalúrgicos
de São José dos Campos (CONLUTAS) elaborou a consigna
“se demitir, vamos parar” e que iria preparar um
“plano de lutas concreto, com chamados a assembléias em
cada categoria ou região, para discutir a preparação da
luta em caso de demissões”. Vieram as demissões na GM
de São José dos Campos e a política do PSTU se limitou a
paralisação de duas horas e um ato político no centro de
São José dos Campos.
Outro
problema que salta aos olhos é como a direção majoritária
(PSTU) da CONLUTAS está encaminhando as propostas de
unificação dos trabalhadores para enfrentar a crise. Em
vez de chamar pela base imediatamente encontros regionais
e um encontro nacional para organizar a resistência
propõe de forma superestrutural um plano de ação com as
demais centrais para os meses de fevereiro e março. É
claro que não vamos resistir às demissões ou tirar da
luta contra os patrões e o governo nenhuma conquista sem a
mais dura mobilização, a questão é por quê até agora,
diante do desemprego em massa em todo o país, a direção
da CONLUTAS, em vez de chamar a base para discutir a crise e
tirar um plano concreto de lutas se limita a propor um plano
de atividades por cima e abstrato com as demais centrais?
A
questão fica mais dramática na medida em que a crise
econômica mundial se revela aguda e crônica, ou seja,
tende a durar anos. O que exige dos trabalhadores uma direção
sindical e política que seja capaz de construir programas,
táticas e métodos de luta que enfrentem, de fato, os
ataques que, como já estamos sentindo, são duríssimos.
Ao
não preparar ações pela base contra as demissões, a direção
da CONLUTAS (PSTU) compromete qualquer possibilidade de uma
campanha que possa fazer frente aos ataques patronais. O
fato é que nesta conjuntura não há mais espaço para o
“parlamentarismo sindical”, ou seja, encontros anuais de
juramento à bandeira que não encaminham nenhuma proposta
concreta e para políticas superestruturais, conservadoras e
corporativistas que só levam os trabalhadores a derrotas, e
o que é pior, em muitos casos derrotas sem resistência.
É
preciso um plano de lutas nacional em defesa do emprego
votado por um encontro nacional de base
Infelizmente,
até o momento, a CONLUTAS tem se limitado a organizar
“Encontros Parlamentares” que pouco tem servido para
organizar de verdade a luta dos trabalhadores e da juventude.
O CONAT e o ENAT foram exemplos de oportunidades perdidas.
Apesar da disposição de um importante setor de vanguarda,
que viajou dias e dias atravessando o país para participar
desses encontros, voltou para casa sem uma orientação
clara para organizar a luta. As poucas deliberações
votadas foram letras mortas.
Em
sua curta existência, a CONLUTAS tem sido incapaz de
organizar a luta mesmo nas categorias que supostamente
dirige. É preciso romper a lógica que o PSTU tem imposto.
Basta de encontros parlamentares, retomemos os métodos de
luta tradicionais da classe trabalhadora. Nesse sentido, é
urgente organizar assembléias por local de trabalho
que discutam as demandas e necessidades da luta pela
defesa do salário, do emprego e de todos os direitos. O
PRÁXIS apresenta um programa para o debate
que pensamos poder contribuir com a luta dos trabalhadores
neste momento:
•
Basta de demissão, não aos Planos de Demissão Voluntária,
nenhum trabalhador sem carteira assinada;
•
Não a diminuição e flexibilização dos direitos
trabalhistas;
•
Redução da jornada de trabalho sem redução de salário,
trabalhar menos para trabalharem todos;
•
Estabilidade no emprego já;
•
Aumento do valor e do tempo de seguro desemprego para os
trabalhadores que se encontram sem trabalho e
vale–transporte gratuito aos desempregados;
•
Empresa que demita, empresa em greve, empresa que venha a
falir, deve ser estatizada sob o controle dos trabalhadores;
•
Abertura dos livros contábeis, abaixo o segredo comercial;
• Pelo fim
do latifúndio, reforma agrária radical, sem indenização
e sob o controle dos trabalhadores.
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