Brasil

Carta aos estudantes

Não podemos perder nem mais um minuto para
iniciar a greve estudantil
!

Práxis, 23/05/09

A greve dos funcionários da USP acaba de completar três semanas e a Reitoria se mostra intransigente diante das reivindicações dos grevistas: reincorporação do companheiro Brandão e retirada dos processos contra estudantes e servidores, reajuste de salários, não a Univesp, além de outras demandas. Por sua vez, os docentes votaram indicativo de greve a partir do dia 28 de maio.

Nesse marco, na última terça-feira, dia 20 de maio, foi realizada uma importante assembléia de estudantes com mais de 300 companheiros, cujo saldo tem sabor agridoce. O grande problema foi que na assembléia não se votou uma data categórica para a paralisação dos estudantes, esse resultado tem dois responsáveis, por um lado, o PSTU, que dirige o DCE da USP e que tinha maioria na assembléia, que com um calculo mesquinho fez com que os estudantes não saíssem armados com uma data de inicio da greve estudantil, bem como com um calendário de luta que possibilitasse aos estudantes da USP em conjunto com dos demais estudantes das estaduais paulista enfrentarem os ataques da reitoria e do governo Serra.

Por sua vez, um importante setor encabeçado pelo Movimento Negação da Negação (MNN) sustentou durante toda assembléia uma posição ultimatista, isto é, que a greve deveria ser votada naquele momento, sem demonstrar nenhuma preocupação com a sua preparação.

Também nos chamou atenção a passividade dos companheiros de A Plenos Pulmões (LER-QI), sobretudo se levarmos em conta sua responsabilidade como co-direção do SINTUSP. Suas intervenções giraram em torno de questões gerais, se abstendo de uma luta direta para votarmos uma data concreta para o início da greve. Ante a passividade burocrática do PSTU e ao ultimatismo do MNN, ao invés de proporem a greve a partir da próxima semana, se abstiveram na principal votação da assembléia que foi a de iniciar a greve ou não.

Diante da heróica luta dos funcionários, do indicativo de greve dos professores e da dinâmica de mobilização dos estudantes, entendemos que a política que daria conta dessa situação seria iniciar a greve a partir da próxima semana, sem tergiversações.

Construamos a unidade para lutar entre estudantes, funcionários e docentes

A assembléia, lamentavelmente, votou a posição defendida pelo PSTU de indicativo de greve para o dia 28. Aqui há um paradoxo, se os docentes confirmarem a paralisação para o dia 28, a greve será um fato consumado não pela luta estudantil, mas sim, pela greve docente. Na realidade, essa resolução desnuda a postura conservadora e passiva do PSTU, que não prepara os estudantes para a luta e sim para serem seguidistas dos professores. Apesar desse resultado repleto de contradições, existem condições para lutarmos em perspectiva oposta, ou seja, deflagrar uma grande luta estudantil em conjunto com a comunidade universitária. Precisamente para cumprir esse objetivo temos que ir de curso em curso, de sala em sala, para organizar assembléias por cursos, transformando a paralisação do dia 25 no início de nossa greve por tempo indeterminado. Ao mesmo tempo, temos que aproveitar o Encontro Estadual para organizarmos em conjunto com as demais Universidades Estaduais Paulistas uma forte e poderosa greve unificada.

Por que lutar?

Outro debate importante na assembléia foi sobre as reivindicações de nossa luta. Não adianta somar uma infinidade de reivindicações que diluem o verdadeiro conteúdo da luta em curso. Em primeiro lugar, essa luta tem um reclamo de fundo político e não somente reivindicativo, quebrar o processo de caça às bruxas desenvolvido pela Reitoria contra os principais ativistas sindicais e estudantis, que nesse momento se concretiza na imediata readmissão do companheiro Brandão e nos desprocessamentos de todos os indiciados pelas lutas que ocorreram nos últimos tempos aqui na USP. Dessa forma quebraremos com a tentativa da Reitoria e do Governo Serra de enquadrar os movimentos reivindicatórios, aqui também entra a reivindicação democrática de defesa dos espaços estudantis, que têm sido sistematicamente atacados pela reitoria e os diretores das faculdades. Em segundo lugar está a questão do arrocho salarial a que estão submetidos os trabalhadores da USP. Nesse aspecto os trabalhadores da USP têm os mesmos problemas de todos os trabalhadores do país submetidos à política de ajustes econômicos (arrocho e demissões) levada a cabo pelos governos capitalistas como o de Lula. Em terceiro lugar há uma reivindicação muito sentida de todos os setores em relação à Univesp, esse reclamo unifica a todos, a USP tem que ser menos elitista, deve abrir suas portas para milhares de companheiros trabalhadores e populares que com a atual estrutura da Universidade e sua respectiva elitização impede os setores populares de entrarem.

Nesse sentido, polarizamos com os companheiros da LER-QI, que colocaram um debate sobre o programa da luta que ninguém entendeu, onde os eixos programáticos se diluíram em formulações gerais, desconsiderando que se essa luta sair vitoriosa (reincorporação do Brandão, Univesp, salários etc) a correlação de forças dentro da USP se colocaria em um patamar distinto, por exemplo, estaríamos em melhores condições para derrotar o elitismo na USP impondo uma perspectiva de se construir concretamente uma universidade voltada aos interesses da classe trabalhadora, onde essa possa frenquentar as salas de aulas de nossa universidade.