Brasil

PM invade Campus da Cidade Universitaria da USP
e agride estudantes, professores e funcionários

La Policía Militar invade la Universidad de San Pablo y agrede
estudiantes, profesores y empleados

Professores e os alunos da Unicamp também entraram em greve
em solidariedade aos colegas da USP

Profesores y alumnos de la Universidad de Campinas también entran
en huelga en solidaridad con la USP

En el día de ayer, 9 de junio, Brasil ha sido conmovido por un hecho que no se producía desde la dictadura: la Policía Militar del Estado del San Pablo ha invadido el Campus de la Universidad de San Pablo, desatando una feroz represión sobre los estudiantes, profesores y funcionarios. Aquí publicamos relatos y videos que nos han hecho llegar sobre lo ocurrido. (SoB)

Solidaridad internacional con los
estudiantes, funcionarios y
profesores en lucha

A través de los materiales de los compañeros de Praxis, hemos venido informando acerca de este conflicto, que ahora ha da un salto con su extensión a la Universidad de Campinas (Unicamp). Desde Socialismo o Barbarie, hacemos un llamado a la solidaridad internacional con los estudiantes, profesores y funcionarios que enfrentan este bárbaro ataque. Hoy, en Buenos Aires, se realizó frente a la Embajada de Brasil una manifestación de repudio. En ella participaron los compañeros de la juventud Ya Basta! del Nuevo MAS y otras organizaciones del Frente de Izquierda. Hay que seguir este ejemplo y desde todas partes hacer llegar la solidaridad a los universitarios brasileños en lucha.

Chovem bombas na USP

Prezados colegas,e alunos,

O que os senhores lerão abaixo é um relato em primeira pessoa de um docente que vivenciou os atos de violência que aconteram poucas horas atrás na cidade universitária (e que seguem, no momento em que lhes escrevo – acabo de escutar a explosão de uma bomba). Peço perdão pelo uso desta lista para esse propósito, mas tenho certeza que os senhores perceberão a gravidade do caso.

Hoje, as associações de funcionários, estudantes e professores haviam deliberado por uma manifestação em frente à reitoria. A manifestação, que eu presenciei, foi completamente pacífica. Depois, as organizações de funcionários e estudantes saíram em passeata para o portão 1 para repudiar a presença da polícia do campus. Embora a Adusp não tivesse aderido a essa manifestação, eu, individualmente, a acompanhei para presenciar os fatos que, a essa altura, já se anunciavam. Os estudantes e funcionários chegaram ao portão 1 e ficaram cara a cara com os policiais militares, na altura da avenida Alvarenga. Houve as palavras de ordem usuais dos sindicatos contra a presença da polícia e xingamentos mais ou menos espontâneos por parte dos manifestantes. Estimo cerca de 1200 pessoas nesta manifestação.

Nesta altura, saí da manifestação, porque se iniciava assembléia dos docentes da USP que seria realizada no prédio da História/ Geografia.

No decorrer da assembléia, chegaram relatos que a tropa de choque havia agredido os estudantes e funcionários e que se iniciava um tumulto de grandes proporções. A assembléia foi suspensa e saímos para o estacionamento e descemos as escadas que dão para a avenida Luciano Gualberto para ver o que estava acontecendo. Quando chegamos na altura do gramado, havia uma multidão de centenas de pessoas, a maioria estudantes correndo e a tropa de choque avançando e lançando bombas de concusão (falsamente chamadas de “efeito moral” porque soltam estilhaços e machucam bastante) e de gás lacrimogêneo. A multidão subiu correndo até o prédio da História/ Geografia, onde a assembléia havia sido interrompida e começou a chover bombas no estacionamento e entrada do prédio (mais ou menos em frente à lanchonete e entrada das rampas).

Sentimos um cheiro forte de gás lacrimogêneo e dezenas de nossos colegas começaram a passar mal devido aos efeitos do gás – lembro da professora Graziela, do professor Thomás, do professor Alessandro Soares, do professor Cogiolla, do professor Jorge Machado e da professora Lizete todos com os olhos inchados e vermelhos e tontos pelo efeito do gás. A multidão de cerca de 400 ou 500 pessoas ficou acuada neste edifício cercada pela polícia e 4 helicópteros.

O clima era de pânico.. Durante cerca de uma hora, pelo menos, se ouviu a explosão de bombas e o cheiro de gás invadia o prédio. Depois de uma tensão que parecia infinita, recebemos notícia que um pequeno grupo havia conseguido conversar com o chefe da tropa e persuadido de recuar. Neste momento, também, os estudantes no meio de um grande tumulto haviam conseguido fazer uma pequena assembléia de umas 200 pessoas (todas as outras dispersas e em pânico) e deliberado descer até o gramado (para fazer uma assembléia mais organizada).

Neste momento, recebi notícia que meu colega Thomás Haddad havia descido até a reitoria para pedir bom senso ao chefe da tropa e foi recebido com gás de pimenta e passava muito mal. Ele estava na sede da Adusp se recuperando.

Durante a espera infinita no pátio da História, os relatos de agressões se multiplicavam. Escutei que a diretoria do Sintusp foi presa de maneira completamente arbitrária e vi vários estudantes que haviam sido espancados ou se machucado com as bombas de concusão (inclusive meu colega, professor Jorge Machado). Escutei relato de pelo menos três professores que tentaram mediar o conflito e foram agredidos.

Na sede da Adusp, soube, por meio do relato de uma professora da TO que chegou cedo ao hospital que pelo menos dois estudantes e um funcionário haviam sido feridos. Dois colegas subiram lá agora há pouco (por volta das 7 e meia) e tiveram a entrada barrada – os seguranças não deixavam ninguém entrar e nenhum funcionário podia dar qualquer informação. Uma outra delegação de professores foi ao 93o DP para ver quantas pessoas haviam sido presas. A informação incompleta que recebo até agora é que dois funcion? ?rios do Sintusp foram presos – mas escutei relatos de primeira pessoa de que haveria mais presos.

A situação, agora, é de aparente tranquilidade. Há uma assembléia de professores que se reuniu novamente na História e estou indo para lá. A situação é gravíssima. Hoje me envergonho da nossa universidade ser dirigida por uma reitora que, alertada dos riscos (eu mesmo a alertei em reunião na última sexta–feira) , autorizou que essa barbárie acontecesse num campus universitário. Estou cercado de colegas que estão chocados com a omissão da reitora. Na minha opinião, se a comunidade acadêmica não se mobilizar diante desses fatos gravíssimos, que atentam contra o diálogo, o bom senso e a liberdade de pensamento e ação, não sei mais.

Por favor, se acharem necessário, reenviem esse relato a quem julgarem que é conveniente.

Cordialmente,

Prof. Dr. Pablo Ortellado
Escola de Artes, Ciências e Humanidades
Universidade de São Paulo


“Uma tropa de choque, cacetetes, bombas, spray de pimenta,
marchou em nossa direção...”

Prezados colegas, amigos e alunos:

Estou estarrecido. Nunca pensei que ia viver isso na na nossa Universidade. Uma indignação enorme me fez deixar a assembléia de professores no prédio da História e descer correndo para a reitoria. A informação que tinha chegado à nós era de que o batalhão de choque estava soltando bombas sobre os estudantes e funcionários na reitoria. De alguma maneira, como professor, imaginei ter – junto com outros colegas – a força necessária para arrefecer o conflito. Era preciso evitar o pior, evitar que algum estudante se machucasse. Tínhamos visto nos jornais no dia anterior, policiais com metralhadoras.

Chegando mais perto, uma fumaça enorme, estudantes correndo, e um clima bastante ameaçador. Um aluno passou por nós dizendo que não devíamos ficar ali. Retruquei: Não. Vamos ficar aqui.

Descemos mais um pouco e uma tropa de choque, cacetetes, bombas, spray de pimenta, marchou em nossa direção.

Subimos a calçada, que passem ! Tratava de saber o que de fato ocorria, procurar responsáveis, tentar negociar, verificar se alguém estava ferido. Mais perto, um policial do batalhão – uns quinze – mandou a gente se afastar. Dissemos que éramos professores. Se afastem! gritaram. Somos professores! Eles jogaram spray de pimenta na nossa direção. O Thomás que estava um pouco mais a frente, de carteirinha na mão, recebeu o spray nos olhos. Saímos correndo. Uma bomba de gás caiu a um metro dos meus pés. Parei um pouco e olhei na direção dos policiais com toda a raiva que já pude sentir.

Um policial com uma bomba na mão olhou pra mim. Senti que iríamos receber mais um presente da corporação. Estupei o peito e falei gritando: Você vai jogar na gente? Somos professores! Você vai jogar? O absurdo era tanto que fui mais absurdo ainda. Como eu podia fazer um negócio desses? Mas fiz.

Não dava mais para ficar lá. Chamei a Vivian Urquidi e o Jorge Machado para subir novamente até à História. O Thomás já tinha saído porque mal conseguia abrir os olhos. Meus olhos também ardiam muito.

Eu só gostaria de saber: o que um professor de carteirinha na mão, um outro com mochila nas costas, pasta em uma mão e blusa na outra, outra professora com uma flor na mão representam de perigo ao patrimônio da USP? Gostaria de saber até onde a tese de preservação do patrimôniose sustenta? Que espécie de comunicação e negociação é essa, que coloca policiais cegos a serviço da Reitoria? Para onde fomos? Para onde foi a experiência de 75 anos em produzir saber?

Saudações académicas.

Rogério Monteiro de Siquiera
Professor Doutor EACH–USP
História e Geometría
http://www.each. usp.br/rogerms
Escola de Artes, Ciências e Humanidades - Universidade de São Paulo


Professores e alunos da Unicamp também entram em greve

O Globo, publicada em 10/06/20 às 19h52m
Wagner Gomes, Adauri Antunes Barbosa,

São Paulo.- Os professores e os alunos da Unicamp também entraram em greve nesta quarta-feira em solidariedade aos colegas da USP, que foram reprimidos pela polícia, na terça, durante uma manifestação. Eles prometem voltar as aulas somente quando a PM deixar o campus da Universidade de São Paulo, na zona oeste da capital. A categoria também quer a reabertura de negociações entre o Fórum das Seis (a entidade que reúne os seus representantes) e o Conselho de Reitores das três universidades paulistas (Cruesp) por reajuste salarial.

Em São Paulo, professores, estudantes e funcionários da USP decidiram continuar a greve e exigiram a demissão da reitora Suely Vilela. Por conta da chuva que caiu na capital paulista nesta quarta-feira, os manifestantes transferiram para a próxima terça-feira uma passeata que tinham programado. Eles sairão da Cidade Universitária e irão até o Masp, na Paulista. Na quarta, os manifestantes prometer fazer um ato em frente a faculdade de Direito, no Largo São Francisco, no centro da cidade.

Ontem, professores, alunos e funcionários da USP entraram em confronto com a PM, que reprimiu o protesto com bombas de efeito moral, gás pimenta e balas de borracha . Várias pessoas ficaram feridas e pelo menos três foram presas. A briga começou depois que os manifestantes tentaram bloquear a entrada principal da USP, próximo a Rua Alvarenga, na zona oeste de São Paulo.

Há nove dias a PM ocupa o campus da universidade, sob o argumento de que os manifestantes impediam a entrada de quem queria trabalhar.