Construir uma alternativa classista
no segundo semestre
Praxis, Setembro 2009
No campo da luta contra o desemprego, o segundo semestre terá como característica
básica a continuidade dos efeitos da crise sobre os
trabalhadores (desemprego, arrocho etc.), o que cobrará do
movimento desenvolver formas efetivas de resistência.
Teremos uma combinação que pode ser explosiva,
pois será marcada pela continuidade da recessão e por uma
série de categorias importantes que estarão em campanha
salarial. Indicação da factibilidade da hipótese de
termos importantes lutas no segundo semestre é a campanha
salarial dos metalúrgicos da Volkswagen/Audi e Renaut/Nissan,
de São José dos Pinhais, no Estado do Paraná (em greve
por tempo indeterminado); Volkswagen, Ford e mais seis
autopeças, em Taubaté, interior do Estado de São Paulo.
No ABC paulista os sindicatos também preparam ações para
pressionar patrões.
É importante esclarecer que não temos ilusão alguma que os dirigentes
(CUT) destas categorias irão propor qualquer ação ou
reivindicação que sirvam para unificar as luta do segundo
semestre, pois farão de tudo para que estas mobilizações
fiquem restritas às categorias, às reivindicações
meramente salariais e que estas “lutas” não respinguem
no governo Lula. No entanto, o fato é que diante das altas
taxas de lucro das montadoras – sustentadas, além do mais,
pelas políticas de isenção fiscal dada pelo governo Lula
– e do arrocho salarial, mesmo sob a direção traidora da
CU/Força Sindical, os trabalhadores são impelidos à luta.
CONLUTAS e Intersindical
Este é um importante momento onde CONLUTAS e Intersindical devêm convocar
estes trabalhadores para que se unifiquem com as demais
categorias que estão também em processo de mobilização.
CONLUTAS e Intersindical não podem cometer os mesmos equívocos
superestruturais e corporativistas dos últimos tempos, sob
pena de atrasarmos ainda mais a construção de uma
alternativa real para os trabalhadores. Na etapa em que
vivemos só poderemos resistir com a mais ampla unidade pela
base, enfrentando as direções burocráticas, e com um
conjunto de bandeiras que respondam às necessidades
imediatas e apontem para a ruptura com o sistema gerador de
todas as mazelas: o capitalismo.
Parte complementar da situação política é a crise política que, apesar
de todos os esforços do governo e dos demais partidos da
ordem, permanece candente. Como todos sabem a oposição
burguesa não em condições políticas/éticas para se
colocar como porta–voz de qualquer “moralização” do
Senado ou de qualquer outra coisa. Por isso acabou sendo
feito um acordo velado entre oposição e governo para
diluir a crise de forma que esta não fosse transferida para
as ruas e resolvida pela juventude e pelos trabalhadores.
Afirmamos no artigo A crise da democracia dos ricos, “não
há grande novidade neste caso em relação ao modo como a
burguesia nacional conduz a sua política”. Assim, uma
alternativa classista não pode se restringir ao “Fim do
Senado, por uma Câmara única”, como faz PSTU e CONLUTAS,
pois esta formulação mal arranha o problema.
De outra forma, é necessário criar uma alternativa que questione o
conjunto da estrutura política do Estado capitalista através
de um sistema de reivindicações que se inicia pela exigência
da renúncia de Sarney e construa pontes até a imposição
de um governo dos trabalhadores, condição necessária para
qualquer mudança efetiva. A proposta que alguns setores
fazem de Assembléia Constituinte Soberana tem a sua
validade enquanto articuladora entre a atual crise da
democracia burguesa e uma saída radicalmente estabelecida
pela luta dos trabalhadores. Por isso, apresentamos a
formulação de Assembléia Constituinte Revolucionária
para que os trabalhadores encontrem caminhos para substituir
a representação formal (burguesa) por uma estrutura de
poder baseada na mobilização e em organismos de representação
direta, estas são as condições necessárias para a
conquista do poder pelos trabalhadores que se materializa no
seu governo e Estado próprio.
Superar a dispersão dos
lutadores socialistas
A cada etapa da luta de classes fica mais claro que a dispersão entre os
lutadores revolucionários cria extremas dificuldades para a
construção de um pólo político alternativo às falsas
alternativas para os trabalhadores que partidos como o PT e
agora o PSOL, representam. A crise econômica mundial e o seu desdobramento no Brasil
tornaram esta realidade mais crítica. Demonstra com mais
clareza ainda que as correntes revolucionárias dispersas não
constituem um centro de atração para as novas gerações
de lutadores que surgem no enfrentamento com o governo e com
os patrões. A resposta parcial que mesmo as maiores
correntes, como o PSTU, estão dando diante dos ataques aos
trabalhadores torna a necessidade de uma autêntica síntese
revolucionária ainda mais urgente. Um processo de unificação
possibilitaria não apenas a soma aritmética das correntes
existentes, pois este novo pólo certamente animará para a
militância revolucionária milhares de lutadores.
Cabe aqui fazer uma referência crítica de como o PSTU, notadamente por
meio de Eduardo Almeida Neto, vem tratando a questão da
crise política no interior do PSOL expressa em seu último
congresso. A questão é que Heloisa Helena tem resistido em
assumir a candidatura à presidente para 2010 além e dar
declarações elogiosas sobre Marina Silva (ex–PT e atual
pré–candidata do PV). No artigo citado é possível ler
“Queremos fazer um chamado a todas as correntes e
militantes do PSOL. A crise do congresso é expressão de um
retrocesso evidente, que pode se agravar. Existem milhares
de companheiros do PSOL com quem militamos no dia–a–dia
no movimento sindical, estudantil e popular. Apesar das inúmeras
diferenças que temos com o partido, tivemos uma frente
eleitoral em 2006, através da candidatura de Heloísa
Helena, com 6,5 milhões de votos.” Ou seja, todo o
chamado político que o PSTU, tanto no artigo que estamos
citando quanto no seu horário eleitoral, vem fazendo ao
PSOL e às suas correntes vai ao sentido de
“seduzi–los” para recompor a frente eleitoral de 2006.
Nenhuma crítica aos limites programáticos, política de
alianças ou mesmo sobre a contribuição financeira da
Gerdau aceita por Luciana Genro na eleição de 2008 são
citados.
Parece que o que importa, dentro da lógica da direção do PSTU, são os
6,5 milhões de votos que Heloisa Helena obteve em 2006. Não
que a tática eleitoral não seja importante, no entanto,
para os revolucionários esta deve estar a serviço da luta
imediata e histórica dos trabalhadores. A crise vivida
pelo PSOL deveria ser um momento para realizar um chamado à
construção imediata de uma Frente de Esquerda para a luta
de classes, que no seu momento oferecesse, a partir de uma sólida
base programática em 2010, uma alternativa eleitoral
anticapitalista às massas trabalhadoras. Ou seja, o que
é decisivo para os trabalhadores é a construção de um
bloco de classe não só pelas eleições, mas,
fundamentalmente, para enfrentar os imensos desafios
colocados na etapa aberta pela crise mundial.
Este é um momento oportuno para iniciar os debates em torna à construção
de um partido revolucionário com a unificação de todas as
correntes a partir da discussão programática, metodológica
e prática. O PSTU pelo seu sectarismo e as correntes de
esquerda
do PSOL pelas suas “ilusões eleitoras” estão adiando
este projeto decisivo. Assim se faz necessário convocar
todas as correntes revolucionárias e iniciar a discussão
sobre a necessidade inadiável de construir um partido
revolucionário com direito de tendência.
É tempo de estas correntes fazer um balanço sobre a
malfadada ideologia de que é possível construir um
partido único entre reformistas e revolucionários. A
história já demonstrou que não, pois se tratam de
correntes antagônicas pelo projeto, programa e método.
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