O que têm
ocorrido na região metropolitana do Rio de Janeiro é uma combinação
histórica e perigosa da falta de investimentos públicos
em moradia, juntamente com a necessidade - imposta pelo
capitalismo - dos excluídos habitarem em condições
extremamente precárias e em áreas impróprias, o que
ocasionou uma tragédia de dimensões assombrosas, com mais
de 227 vítimas fatais e mais de 52 mil pessoas desabrigadas
e desalojadas, evidenciando que a “cidade maravilhosa” não
possui tantas maravilhas para os trabalhadores super
explorados e excluídos pelo modo capitalista.
No município do Rio de Janeiro são 65 vítimas fatais, 28 delas no
Morro dos Prazeres. Na cidade de São Gonçalo o número de
mortos chega a 16. O Corpo de Bombeiro especula que existam
cerca de 150 pessoas soterradas pelo deslizamento do Morro
do Bumba com poucas possibilidades de sobreviventes.
De acordo com a Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro, os
deslizamentos que ocorreram no Estado afetaram
principalmente Niterói (cidade da Baixada Fluminense) com
140 vítimas fatais, 31 mortos só no Morro do Bumba (antigo
lixão desativado). O caos maior se encontra em Niterói
onde a população esta totalmente abandonada.
Cidade em colapso
A cidade está em colapso. Para se ter uma idéia o maior hospital da
região o hospital Azevedo Lima, o único em que o setor de
Emergência funciona, não tem mais leitos disponíveis, a
segunda opção da região o Hospital Universitário Antônio
Pedro, da Universidade Federal Fluminense, está com as
portas do pronto-socorro fechadas há três anos e, para
piorar, o Instituto Médico Legal de Niterói está fora de
atividade há dois anos.
Moradores do Morro do Céu, que ocuparam uma região de
aterro, ainda correm risco com possibilidade de
deslizamentos de terra. Os moradores desse morro
denunciam já há algum tempo que suas casas estão
afundando e que a prefeitura de Niterói não presta nenhum
auxilio e nenhum projeto; sequer foi apresentado para
atender estas pessoas que são em sua maioria famílias
extremamente carentes e sem emprego.
As enchentes e alagamentos já se tornaram comuns nas grandes cidades.
Isso se deve por vários fatores, tais como: à
impermeabilização generalizada do solo, pelo uso de
asfalto em praticamente todas as vias, o desmatamento dos
morros pela falta de políticas de moradia que atendam as
necessidades da massa de trabalhadores que são obrigados a
se espremerem nos grandes centros urbanos para sobreviver.
Esse complexo de problemas vem sendo agravado pelo
Aquecimento Global – fator socioeconômico – que
se combinado com o fenômeno do aquecimento das correntes
marítimas (El Ninõ) no oceano Atlântico, provocando
fortes chuvas.
Entretanto, a tragédia que acomete a população trabalhadora que
ocupa os morros da baixada fluminense não é causada por
fatores climático-naturais como querem sugerir o
presidente Lula (PT) e o governador do Estado do Rio de
Janeiro Sergio Cabral (PMDB), mas por faltas de políticas públicas
capazes de atender a população que não tem onde morar. O
prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB),
cinicamente afirmou que se a meteorologia tivesse avisado
com mais antecedência sobre as chuvas o caos poderia ter
sido menor na cidade. Esta é uma grande falácia, pois
todos sabem que estamos em uma época do ano onde as chuvas
são mais intensas e, obviamente, se o poder público não
intervém para solucionar os enormes problemas infra-estruturais
ligados à moradia, os mais atingidos são àqueles que estão
em área de risco. A grande burguesia e o governo querem
culpar as vítimas, em uma tentativa de amenizar sua
responsabilidade, dizendo que essa é uma tragédia natural,
mentindo descaradamente, principalmente porque estamos em
ano eleitoral e o fato pode comprometer muitas aspirações.
Os representantes da elite atuam, mesmo diante das
grandes tragédias humanas, com grande cinismo, pois sua
prioridade não é atender às massas operárias super
exploradas; atuam para resguardar verbas públicas ao
pagamento das absurdas dívidas públicas dos Estados,
causadas pela especulação e pelas políticas de juros;
priorizam obras que não favorecem o transporte público,
saneamento básico, moradias, educação para,
evidentemente, favorecer as grandes empreiteiras, montadoras
de automóveis e banqueiros.
Não há investimentos na área de moradia popular
O fato é que há muito não há investimentos na área de moradia
popular do Estado, prova disso é que a tragédia não
atingiu na mesma proporção quem mora na zona central do
Rio e os que moram nas encostas. Neste sentido, culpar a
meteorologia, o tempo, as chuvas e as vitimas, além de ser
uma grande mentira não se sustenta, pois não tem base na
realidade. Mais do que um desastre ambiental é um
desastre socioeconômico, pois aqueles que não possuem
condições econômicas são os primeiros e mais
prejudicados. Querem nos convencer que essas pessoas
moram nos morros/aterros por livre e espontânea vontade,
como se tivessem escolha, ou que trocaram uma casa segura no
Leblon para morar nas encostas, colocando em risco suas
vidas e de seus familiares, por puro extinto de aventura. O
que assistimos, nestas últimas semanas no Estado do Rio,
foi um retrato da total irresponsabilidade e descaso dos órgãos
públicos ao longo dos tempos, que permaneceram inertes ao
grande êxodo rural da primeira metade do século XX. Deixemos
claro que o problema não são as chuvas em si - como querem
os demagogos governistas nos fazer acreditar - mas sim a
falta de planejamento habitacional para os trabalhadores.
Sendo assim, a equação só poderia resultar nesta tragédia
que abalou e denunciou a precariedade do Estado Fluminense.
A solução para a grave situação
A solução para a grave situação passa pela mudança radical de
toda política orçamentária no estado do Rio de Janeiro,
onde todo o investimento que seria destinado para o
pagamento da divida do estado com capital financeiro,
assim como as cifras exorbitantes previstas para
investimento da realização da Copa do Mundo, a qual o está
previsto que será sediada no Rio de janeiro, seja
viabilizado para o atendimento emergencial às famílias
desabrigadas e, posteriormente, para a construção de infra-estrutura
e moradias regulares para todos. Sabemos que isto de
forma alguma será realizado sem uma forte pressão popular.
Sendo assim, propomos uma ampla campanha realizada por
todo o movimento social (movimento operário, juventude,
transporte, moradia etc.) e organizações políticas
comprometidas com os interesses dos trabalhadores para a
construção de uma jornada de lutas para impor essas e
outras medidas ao poder público.
[1]
Totais de mortos no estado do Rio até esta publicação
totalizam mais da metade de vitimas fatais no terremoto
assombroso do Chile.
[2]
Estado de São Paulo, 10/04/2010.