Apresentação
Apresentamos essa pré-tese
ao Congresso de Unificação entre CONLUTAS e INTERSINDICAL
como esforço inicial de elaboração sobre temas que
julgamos fundamentais na luta de classes no Brasil e no
mundo. Além desses temas também apresentamos uma visão
sobre os principais desafios políticos e organizativos
colocados para que essa unificação se constitua como uma
alternativa de fato à total adaptação das demais organizações
dos trabalhadores. Para que essa pré-tese possa ganhar
maior concretude e amplitude, contamos com a contribuição
do/as companheiros/as que estão inseridos no cotidiano da
luta de classes em todas suas manifestações e lugares, nas
escolas, fábrica e bairros.
Internacional:
classe operária grega dá exemplo de resitência
A propaganda do fim da crise econômica e
da volta do crescimento tem se demonstrado de fato mais
propaganda do que realidade, as ameaças de novas turbulências
generalizadas não estão fora de cogitação, o que
pode
significar uma nova onda de destruição econômica mesmo
nos países que foram menos afetados no período anterior.
Os trabalhadores gregos levantaram uma
onda de mobilização na Grécia, reagindo com fortes
enfrentamentos de rua contra a política de transferir aos
trabalhadores a crise que se instalou fortemente no país
com a insolvência das contas públicas.
A resistência dos trabalhadores europeus
demonstra que há um processo crescente de tomada de consciência
de que as crises econômicas não devem ser resolvidas pelo
aumento da taxa de exploração dos trabalhadores nem na
redução de diretos e postos de trabalho, em resposta a
isso vemos em seus cartazes dizeres como que os capitalistas
paguem a conta da crise que o seu sistema econômico criou. Apesar
de limitada, por não se tratar de uma clara consciência
política socialista e revolucionária, está se gerando um
ponto de partida muito superior ao visto em etapas
anteriores onde a ideologia de que não havia uma
alternativa classista era predominante.
Cuba:
por uma revolução socialista dirigida pela classe operária
Outro ponto importante da conjuntura
internacional, particularmente a da América latina, é a
situação política vivida atualmente em Cuba - pela importância
paradigmática que tem na mentalidade socialista de várias
gerações de lutadores - e as posições políticas que se
perfilam diante dos seus rumos conferem a análise da
realidade cubana destaque. Cuba, da mesma forma que os
demais países de estrutura econômica e social
predominantemente agrária, realizaram revoluções de
libertação nacional. A ausência da classe operária
organizada politicamente em organismos de poder democráticos
e autônomos, apesar das medidas anticapitalistas tomadas,
fez com que esses estados se configurassem não como estados
operários, mas como estados burocráticos.
As medidas anticapitalistas, apesar de
levadas a cabo por um estado onde não há livre organização
dos trabalhadores, permitiu a Cuba avanços no campo da saúde,
educação, emprego etc. Entretanto, como aconteceu em todos
os demais países, a emancipação real dos trabalhadores
depende da sua atividade autônoma enquanto classe. Por isso defendemos que é necessária uma nova revolução,
dessa vez encabeçada pela classe operária organizada autônoma
e democraticamente, para que as tarefas socialistas possam
ser desenvolvidas até o final.
Ao contrário do que diz a organização
internacional do PSTU (LIT),
Cuba não se constitui como uma “ditadura capitalista”,
pois para tal deveria ter recomposto uma classe social
proprietária e dominante, além do retorno total das regras
de mercado, afirma também que “Nessas situações lutamos
pelas mais amplas liberdades democráticas para todas as
correntes opositoras, inclusive as burguesas”. Para nós
o centro do programa vai ao sentido oposto, é a luta das
massas trabalhadoras que devem derrotar a burocracia e impor
a democracia operária e o aprofundamento das tarefas
socialistas.
Honduras:
Por uma campanha internacional contra os assassinatos políticos
Na
conjuntura Latino Americana o golpe de Estado realizado em
Honduras teve como principal objetivo conter a onda de lutas
dos trabalhadores hondurenhos por reformas sociais. A eleição
fraudulenta que colocou Porfirio Lobo no governo não fez a
situação política em Honduras voltar à “normalidade”,
pois apesar do refluxo do movimento pós-eleições e da
capitulação de alguns setores que estavam na resistência,
as marchas continuam acontecendo. E com o objetivo de
esmagar a resistência uma série de assassinatos está
ocorrendo em Honduras. Mesmo assim,
Obama e outros
governos da região estão dando passos para reconhecer um
governo que se originou em um golpe de estado, e tem sido no
mínimo, cúmplice dos assassinatos de figuras proeminentes
da resistência.
Como
parte da corrente Socialismo o Barbárie Internacional, o Práxis
está impulsionando uma campanha para deter a ofensiva
criminosa da classe dominante hondurenha, pelo
esclarecimento desses assassinatos e pela prisão de seus
autores materiais e intelectuais. Pela gravidade dos fatos, contamos
com a participação de todas/todos e das organizações que
defendem os interesses dos trabalhadores para encaminhar um
abaixo-assinado, como parte de uma campanha mais geral, que
será encaminhado, através de um ato político, à
embaixada de Honduras no Brasil.
Nacional:
Pela redução radical da jornada de trabalho sem redução
de salário
O governo Lula se demonstrou nesses quase
oito anos na presidência como um verdadeiro guardião dos
fundamentos neoliberais, superando de longe seu antecessor,
FHC. A política econômica do governo não saiu um milímetro
do “trilho” garantindo taxas de acumulação nunca
vistas.
No auge da crise econômica o Brasil e
outros países emergentes se tornaram altamente lucrativos
para o capital especulativo. Com a redução - a
praticamente zero - das taxas de juros nos mercados dos EUA
e demais países centrais tornaram-se altamente lucrativos
tomar dinheiro emprestado nesses mercados para investir no
Brasil.
Os patrões, apoiados pelas centrais sindicais
governistas (CUT e Força
Sindical), aproveitaram a situação de defensiva em que se
encontravam os trabalhadores diante da ameaça de demissões
para reduzir salários e benefícios.
A crise econômica, que ainda não
terminou e esta gerando novos ataques as condições de vida
dos trabalhadores, deve ser respondida com campanhas que
mobilizem os trabalhadores em nível nacional. Um setor que
se propõe alternativo (CONLUTAS e INTERSINDICAL) ao
governismo no movimento sindical não pode deixar de se
posicionar diante de uma questão como a jornada de trabalho
sob pena de perder mais um momento decisivo
de se apresentar com alternativa real à CUT e a Força
Sindical.
Diante de constantes e variadas ofensivas
da classe dominante cabe aos trabalhadores encontrarem
pontos de apoio para sua ação. Nesse sentido a questão da
redução da jornada de trabalho merece toda a nossa atenção.
O problema é que esse tema está sendo levado a cabo
pelas centrais governistas que defendem a Proposta de Emenda
à Constituição (PEC) que reduz a jornada de trabalho de
44 horas semanais para 40 horas. CONLUTAS (central da qual
nos reivindicamos) e a Intersindical até o momento não estão
desenvolvendo uma campanha alternativa, aos encaminhamentos
que as centrais governistas vêm dando a esse tema tão
importante para os trabalhadores. Uma solução que
interesse verdadeiramente aos trabalhadores passa pela redução
da jornada de trabalho de forma permanente até que todos
estejam empregados.
Defendemos que a jornada de trabalho deve
ser reduzida para 30 horas por semana e novas reduções
deveriam ser feitas até o fim do desemprego (mecanismo é
conhecido como escala móvel da jornada de trabalho). A
luta pela redução da jornada de trabalho deve ser seguida
da luta contra as terceirizações, contra a precarização
e intensificação da jornada de trabalho, pelo salário mínimo
do DIEESE para todos trabalhadores, tudo isso deve ser
acompanhado da luta pela reforma agrária e urbana radical
sob controle dos trabalhadores, da luta pelo não pagamento
da dívida externa e interna e pela ampliação de verbas públicas
para saúde e educação. Essas propostas devem ser
completadas pela luta pela organização autônoma no
interior de todas as fábricas através da criação
de Comissões de Fábricas independentes e democráticas.
Esquerda
se divide diante da falsa polarização entre Dilma e Serra
A retomada da ofensiva dos trabalhadores
passa, também, pelo campo político mais geral. As ilusões
criadas pelo PT de que bastava que representantes dos
trabalhadores fossem assumindo cargos públicos até se
chegar à presidência da república para que as mazelas
fossem resolvidas se demonstram, na prática, totalmente
superadas. Por isso, construir uma alternativa política/programática/partidária
à altura das reais necessidades dos trabalhadores no próximo
período é decisivo.
O processo eleitoral no
atual regime de democracia dos ricos em que vivemos, tem
como por objetivo a realização de consulta popular para
saber quais seriam os melhores “governantes” do atual
Estado. No entanto, este é um momento político importante
para propagandear alternativas socialistas para transformação
social. Criticamos a incapacidade de parte da esquerda
socialista em compor uma frente de esquerda com um programa
anticapitalista e socialista para as próximas eleições
para ocupar o espaço monopolizados pelos partidos
burgueses. Diante
da falsa polarização entre Dilma e Serra, a construção
de uma frente de esquerda, mesmo que com capacidade
eleitoral reduzida, sem Heloisa Helena como candidata, com
um claro programa anticapitalista, contribuiria para a
disputa ideológica que as eleições permitem.
Nesse ano estamos diante do Congresso que
irá unificar os setores que pretendem surgir como
alternativa à CUT. Pela
importância do tema, o congresso de unificação não pode
se furtar em fazer esse debate e apresentar aos
trabalhadores uma posição diante das eleições. Somos a
favor da construção de uma frente eleitoral da esquerda
radical nas próximas eleições para se colocar entre as
falsas polarizações entre Dilma e Serra e da falsa
alternativa.
Dessa forma, está sob a responsabilidade do
PSOL e do PSTU, partidos que infelizmente tem se
demonstraram incapazes de construir uma frente param
polarizar com as alternativas burguesas, apoiados em um
processo de discussão nos fóruns do movimento, construir
uma frente eleitoral e candidaturas que apresentem a ruptura
com o capitalismo através de um programa socialista com ênfase
na auto-organização dos trabalhadores.
Educação: Lula aprofunda neoliberalismo
na educação
As reformas educacionais do governo LULA dão continuidade
e aprofundam as políticas de FHC. Isto pode se verificar em
todos os domínios da política educacional. O Brasil é um
dos países que menos investe neste setor, a porcentagem do
PIB investido na educação não chega a 5%, índice que nos
países imperialistas ultrapassa 10%.
O
PROUNI constitui uma das maiores transferências de verbas públicas
da história brasileira. Calcula-se que as verbas destinadas
para este programa poderiam criar o dobro de vagas nas
escolas públicas, sem falar na importância estratégica
que tem a universidade pública no sentido da autonomia da
produção científica local. É preciso realizar
campanhas sistemáticas para desmistificar o caráter pseudo
popular do PROUNI, que na prática atende mais as empresas
privadas de ensino do que o acesso da população
trabalhadora ao ensino superior. Neste sentido a
levantamos a bandeira de que as verbas públicas devem ser
destinadas apenas ao ensino público.
LULA
mantém a mesma política dos fundos de manutenção de
ensino de FHC, amplia o antigo fundo estadual criando o
Fundo Nacional da Educação Básica (FUNDEB). A lógica é
a mesma com a diferença de que neste fundo também é incluído
o ensino infantil. A questão central é que as verbas
destinadas ao ensino continuam muito aquém da necessidade
de universalização de todos os níveis da educação básica
e superior. Podemos constatar isso na política de extensão
dos campi das Universidades Federais que tem sido realizada
de forma totalmente precária, não garantindo as mínimas
condições de funcionamento, estrutura de ensino e de
alojamento dos estudantes.
Outro
tema de destaque da política educacional é a avaliação.
Assistimos na última década uma verdadeira febre de políticas
voltadas para avaliação do ensino calcadas na ideologia de
que a qualidade de ensino seria “puxada” pelos
resultados obtidos nos exames externos. O governo LULA,
acompanhando as tendências internacionais de controle
burocrático sobre o processo educacional.
É
dentro deste marco que se insere a política de extensão do
ensino público superior condensado no programa federal
denominado REUNI. Este é um programa de incentivo a expansão
do ensino superior que está longe de atender às reais
demandas de universalização deste nível de ensino. Desta
forma, está colocada a luta por mais vagas no ensino
superior e fim do vestibular. A ampliação das vagas deve garantir todas as condições fundamentais de
ensino, tais como: bibliotecas, laboratórios, restaurantes,
alojamento, bolsas, enfim, todas as condições básicas de
ensino e de pesquisa.
Organização:
Superar falsas polêmicas e lutar contra corporativismo e
pelo protagonismo da classe operária
O balanço apresentado, até agora, sobre
o processo de unificação é bastante preocupante, não por
compreender que a unificação não seja fundamental, mas
porque neste processo de unificação nenhuma preocupação
em superar a prática economicista e superestrutural,
fortemente marcada pelos setores em unificação não é
discutido e muito menos reconhecido pelas principais
correntes envolvidas. A unificação entre CONLUTAS e
INTERSINDICAL é sem dúvida fundamental para que se possa
alavancar uma alternativa às burocracias sindicais no
Brasil. Mas sabemos que uma unificação que não supere os
equívocos de direção das duas entidades não interessa
aos trabalhadores.
A polêmica central em torno à unificação
passa pela diferença em relação concepção organizativa
da nova central. A INTERSINDICAL defende uma nova
central voltada para organizar “os que vivem do trabalho”
e tem se negado a incorporar os estudantes na nova central.
Já a maioria da CONLUTAS defende uma central operária,
popular e estudantil. Não nos parece que nenhuma das duas
formulações dá conta das necessidades político-organizativas
atuais e históricas dos trabalhadores. A formulação de
“central dos que vivem do trabalho” é uma formulação
que peca pela sua generalidade. O fato é que o movimento
operário deve incorporar centralmente o conjunto da classe
trabalhadora, tanto os desempregados quanto os empregados,
todos os tipos de contrato de trabalho, os trabalhadores
contratados pela CLT, estagiários e os por contrato temporário.
Mas a formulação da INTERSINDICAL não leva em consideração
o papel central que tem os trabalhadores produtivos e
assalariados na constituição da sociedade.
A formulação da direção da CONLUTAS,
apesar de ser mais progressiva ao incorporar o conjunto dos
setores oprimidos em uma única organização sindical, também
não dá a devida atenção ao papel protagonista dos
trabalhadores produtivos assalariados na luta de resistência
e de superação do capitalismo. A polêmica entre CONLUTAS e INTERSINDICAL
passa, também, pela questão da incorporação dos
estudantes na nova entidade nacional. Precisamos ter claro
que a luta contra o capitalismo deve ser feita com um
programa que mobilize o conjunto dos explorados, mas não
podemos perder de vista qual é o centro de gravidade político-organizativo
deste movimento.
A classe trabalhadora assalariada, pelo
seu papel e sua forma centralizada de organização é
aquela identificada pelo socialismo científico, por razões
objetivas, como a única que pode, ao se por em movimento
colocar em cheque a sociedade capitalista e ao tomar o poder
político com o apoio dos demais setores, levar a cabo a
superação do capitalismo. A história política do século
XX é farta em exemplos dos entraves provocados pela ausência
da classe trabalhadora como protagonista no processo
revolucionário (como já citado aqui o caso de Cuba). A
partir daí cabe propor uma entidade que dê conta das
especificidades de cada setor sem perder de vista a
hierarquia concreta entre os setores sociais envolvidos.
Os processos de mobilização dos últimos anos forjaram
uma nova vanguarda combativa que ocupou a cena do movimento
estudantil brasileiro. Essa nova vanguarda sabe que a luta
deve ser organizada de forma independente, democrática e
ligada aos trabalhadores, e que esta organização não pode
se limitar aos Centros Acadêmicos, pois os combates devem
romper os muros da escola.
A falência da UNE está dando lugar à criação de outras
formas de luta nacional e internacional dos estudantes, a
mais importante expressão deste processo de reorganização
tem sido a criação da Assembléia Nacional dos Estudantes
Livre (ANEL).
Além de impulsionar, de fato, campanhas em defesa da educação
pública, o que significa o enfrentamento direto à política
educacional do governo LULA, a outra grande tarefa da
juventude é impulsionar a solidariedade direta à luta dos
trabalhadores pela redução da jornada de trabalho, contra
a precarização e intensificação da jornada de trabalho,
pela implantação do salário mínimo do DIEESE para todos
trabalhadores etc. Esta nova entidade que ainda esta em
fase de formação deve possuir uma identidade classista além
de ter alguns desafios se quiser, de fato, de despontar como
alternativa a UNE um deles é a necessidade de romper com a
lógica corporativista e superestrutural da corrente majoritária
que dirige a ANEL.
A
crítica que fazemos à direção da CONLUTAS pode ser
estendida à parte das correntes que estão organizando o
Congresso Nacional, pois a nova central deve romper com a
política corporativista que vem desenvolvendo desde a sua
formação, dizemos isto porque esta direção não se
coloca a tarefa de construir campanhas nacionais e intervenções
que permitam que trabalhadores e estudantes unificarem suas
forças a partir de processos reais de mobilização. Um
claro exemplo disso é a questão da redução da jornada de
trabalho. Até o momento a direção da CONLUTAS não
impulsionou uma campanha nacional em torno a esse tema,
isso permite que CUT e outra sindicais governistas
monopolizem essa questão e a tratem dentro dos limites da
ordem estabelecida.
O
Congresso de unificação de Junho na cidade de Santos - SP
é um momento muito importante para os trabalhadores e para
a juventude. Pois será um momento fértil para colocarmos
as diferenças e acordos tendo como objetivo melhor
encaminhar a luta dos trabalhadores e da juventude
brasileira.