Brasil

Universidade de São Paulo

Diante dos ataques de Rodas

Assembléia estudantil vota indicativo de greve para 20 de Maio

Práxis, 15 de Maio de 2010

Vivemos uma conjuntura – apesar da crise mundial e dos importantes enfrentamentos dos trabalhadores da Europa, particularmente na Grécia, aos planos de ajustes – no Brasil ainda marcada pelo isolamento e fragmentação das lutas. A classe dominante no país tem respondido aos processos de mobilização com uma intensa campanha de criminalização dos movimentos, com a fragmentação das formas de contratação e com a tradicional ilusão de que através das eleições os problemas podem ser resolvidos.  Dentro desse cenário pode se assumir basicamente duas posições: a apatia diante dos sucessivos ataques patronais ou encontrar pontos de apoio para a mobilização e resistência.

Desde 2007 trabalhadores e estudantes da USP enfrentam uma ofensiva global contra o caráter público dessa universidade e contra a organização independente dos estudantes e trabalhadores. Em 2007 a mobilização massiva e a ocupação da reitoria por estudantes e funcionários permitiram uma vitória parcial diante da política de aprofundar o controle governamental sobre a universidade. Em 2009 funcionários e professores – diante da truculência da reitoria manifestada na demissão e perseguição de lideranças dos trabalhadores e dos estudantes da universidade, da precarização das condições de trabalho, do arrocho salarial, da privatização da universidade e da política de precarização do ensino através, dentre outras políticas, da Universidade Virtual de São Paulo (UNIVESP) – realizaram uma importante mobilização através da greve, mas que não teve suas reivindicações atendidas.

Em 2010 o novo reitor (Grandino Rodas), conhecido direitista a serviço da repressão à luta dos trabalhadores e estudantes – responsável pela resolução do conselho universitário que recomenda a intervenção policial no interior da universidade – que em sua posse foi responsável pela repressão de uma manifestação estudantil que resultou em agressões policiais e na prisão de três estudantes, vem para  aprofundar a política tucana de desmonte da universidade pública. Um claro exemplo disso é a assinatura da UNIVESP – um dos itens fundamentais que levou a mobilização estudantil em 2009 – logo no início do ano letivo na USP.

Com a assinatura da UNIVESP se institui um novo patamar de ataques à universidade pública. Os cursos voltados para a formação de profissionais para atender ao ensino público de nível básico com essa política são clara e diretamente precarizados. Instituem–se no interior da universidade dois processos formativos – presenciais e a distância – que acabam por gerar um processo ainda maior de diferenciação profissional já existente anteriormente entre cursos tradicionais, como direito, engenharia e medicina de um lado e os cursos de humanidades e licenciatura de outro. Tudo isso sob o marketing de que o acesso à  universidade pública esta se ampliando.

Ocupação do COSEAS aponta o caminho...o da luta e resistência

A ocupação do COSEAS (órgão responsável pela permanência e moradia estudantil) além de ser uma importante iniciativa independente dos estudantes trouxe à tona outro grande flagelo vivido no interior da USP.  O grande déficit de vagas, a precariedade dos alojamentos e a política de repressão aos estudantes já eram conhecidos por todos, no entanto a ocupação que reivindica mais vagas e a gestão democrática do CRUSP veio revelar uma realidade ainda mais assustadora desse órgão. Documentos encontrados revelam um verdadeiro departamento de controle policial da vida e do dia–a–dia dos moradores do CRUSP. Somado à ocupação do COSEAS, os funcionários após uma série de tentativas frustradas de terem suas reivindicações atendidas pela reitoria entraram em greve a partir do dia 5 de maio. Trata–se de uma greve por recomposição de enormes perdas salariais, contra precarização do trabalho manifestada nas tercerizações de vários setores, pelo direito de livre organização, com a exigência da readmissão de Brandão e o fim dos processos de perseguição política de funcionários e estudantes além de outras pautas, como o fim da UNIVESP. Como podemos verificar, as bandeiras de 2009 estão recolocadas em sua totalidade. Diante da greve, como era de se esperar, a reitoria vem tomando medidas para reprimir o movimento como a ameaça de cortar pagamentos e multas aos piquetes de greve organizados pelo sindicato dos funcionários (SINTUSP)

Esse breve apanhado da situação na USP coloca objetivamente para os estudantes, professores e trabalhadores em greve novamente o desafio de organizar um grande movimento unificado capaz de fazer a reitoria e o governo tucano do estado de são Paulo recuar em sua clara política de destruição da universidade pública. A gestão de Rodas na prática já demonstrou a que veio. Bastou os estudantes e trabalhadores se colocarem em movimento para que o discurso do diálogo caísse totalmente por terra. Assim o movimento estudantil está diante de uma realidade incontornável: ou se mobiliza imediatamente somando–se aos já mobilizados na ocupação do COSEAS e aos trabalhadores para fazer recuar a reitoria e lutar pela universidade pública e democrática ou irá assistir outros ataques, como a ampliação da UNIVESP e o recrudescimento dos ataques à livre organização, com novas demissões e outras formas de repressão ao movimento. Diante desse quadro é necessário analisar o papel que vem cumprindo o Diretório Central dos Estudantes da USP (DCE). Em um processo eleitoral cheio de irregularidades e com os setores mais combativos ausentes ou dividido em chapas diferentes, foi eleita a chapa organizada pelo PSOL. Essa desde o início da gestão Rodas vem alimentando ilusões em relação à possibilidade de um verdadeiro diálogo com a reitoria. Essa postura vem contribuindo e muito para a atual confusão de parte dos estudantes que ainda não chegaram à conclusão de que não há alternativa que não passe pelo enfrentamento direto ao atual reitor. Assim, uma série de manobras vem sendo feitas pela atual direção do DCE (PSOL) – a exemplo que do fez a direção anterior (PSTU) na greve de 2009 – para que o movimento estudantil não entre em cena.

Os posicionamentos na última assembléia demonstraram claramente isso, chegando–se ao cúmulo da direção do DCE propor a não realização da assembléia que ela mesma havia convocado para discutir a greve estudantil. No, entanto, mesmo sem a presença do DCE, os estudantes reunidos no prédio da História realizaram a assembléia que votou um indicativo de greve para o dia 20 de maio. Durante a assembléia se manifestaram dois posicionamentos totalmente distintos. Um alegando que não há a menor condição para se propor uma greve dos estudantes (PSOL e PSTU) e a outra de que as condições objetivas permitem um indicativo de greve a partir das condições objetivas, da greve dos funcionários e da ocupação do COSEAS. É claro que a política do DCE, sob a direção do PSOL, e a do PSTU contribuem e muito para a desmobilização atual da maioria dos estudantes, isso é um fato. Mas também é verdade que diante dos acontecimentos expostos acima e da discussão clara com os estudantes nos cursos é possível se reverter essa situação e mobilizar os estudantes ainda nesse semestre.

Na verdade, o debate sobre a greve estudantil não se dá em torno de uma apreciação das condições objetivas e subjetivas para se fazer a luta, mas em torno à concepções e perspectivas políticas totalmente distintas. O bloco PSOL/PSTU caracteriza–se por priorizar as ações institucionalizadas e pelo “parlamentarismo sindical/estudantil”, pois se dedicam muito mais à disputa nas eleições sindicais e estudantis do que as atividades voltadas para a ação direta dos trabalhadores e estudantes na luta de classes. Nesse momento a grande preocupação dos militantes do PSTU, por exemplo, é com a eleição de delegados ao congresso de unificação. Não que a organização dos fóruns independentes do movimento em nível nacional não seja importante, mas esses devem ser organizados no calor das lutas não em detrimento delas. No ano passado a greve dos estudantes foi adiada em semanas por conta da política desse bloco de adiar ao máximo o ingresso dos estudantes na greve sob a alegação de que os estudantes não estavam dispostos a se mobilizar.

Agora é necessário levar para todos os estudantes a necessidade de, através da greve a partir do dia 20 de maio junto com os funcionários, dar uma resposta à altura dos ataques em curso. Nesse sentido, aprender com as lutas do passado é fundamental e nos preparar para um duríssimo enfrentamento com Rodas.

Dessa forma, construir desde o início comandos de greve e assembléias unificadas entre todos os setores em luta, tomar iniciativas para ocupar os espaços centrais na universidade, exigir o apoio efetivo da CONLUTAS e das demais organizações ligadas aos interesses dos trabalhadores, não abrir mão de bandeiras fundamentais, como ocorreu como o “Fora Sueli”, são lições fundamentais da greve de 2009 com os quais devemos aprender e incorporar na atual jornada.