Vivemos uma conjuntura – apesar da crise mundial e dos
importantes enfrentamentos dos trabalhadores da Europa,
particularmente na Grécia, aos planos de ajustes – no
Brasil ainda marcada pelo isolamento e fragmentação das
lutas. A classe dominante no país tem respondido aos
processos de mobilização com uma intensa campanha de
criminalização dos movimentos, com a fragmentação das
formas de contratação e com a tradicional ilusão de que
através das eleições os problemas podem ser resolvidos.
Dentro desse cenário pode se assumir basicamente
duas posições: a apatia diante dos sucessivos ataques
patronais ou encontrar pontos de apoio para a mobilização
e resistência.
Desde 2007 trabalhadores e estudantes da USP enfrentam uma
ofensiva global contra o caráter público dessa
universidade e contra a organização independente dos
estudantes e trabalhadores.
Em 2007 a mobilização massiva e a ocupação da reitoria
por estudantes e funcionários permitiram uma vitória
parcial diante da política de aprofundar o controle
governamental sobre a universidade. Em 2009 funcionários e
professores – diante da truculência da reitoria
manifestada na demissão e perseguição de lideranças dos
trabalhadores e dos estudantes da universidade, da precarização
das condições de trabalho, do arrocho salarial, da
privatização da universidade e da política de precarização
do ensino através, dentre outras políticas, da
Universidade Virtual de São Paulo (UNIVESP) – realizaram
uma importante mobilização através da greve, mas que não
teve suas reivindicações atendidas.
Em 2010 o novo reitor (Grandino Rodas), conhecido
direitista a serviço da repressão à luta dos
trabalhadores e estudantes – responsável pela resolução
do conselho universitário que recomenda a intervenção
policial no interior da universidade – que em sua posse
foi responsável pela repressão de uma manifestação
estudantil que resultou em agressões policiais e na prisão
de três estudantes, vem para
aprofundar a política tucana de desmonte da
universidade pública. Um claro exemplo disso é a
assinatura da UNIVESP – um dos itens fundamentais que
levou a mobilização estudantil em 2009 – logo no início
do ano letivo na USP.
Com a assinatura da UNIVESP se institui um novo patamar de
ataques à universidade pública. Os cursos voltados para a
formação de profissionais para atender ao ensino público
de nível básico com essa política são clara e
diretamente precarizados. Instituem–se no interior da
universidade dois processos formativos – presenciais e a
distância – que acabam por gerar um processo ainda maior
de diferenciação profissional já existente anteriormente
entre cursos tradicionais, como direito, engenharia e
medicina de um lado e os cursos de humanidades e
licenciatura de outro. Tudo isso sob o marketing de que
o acesso à universidade
pública esta se ampliando.
Ocupação do COSEAS aponta o caminho...o da luta e resistência
A ocupação do COSEAS (órgão responsável pela permanência
e moradia estudantil) além de ser uma importante iniciativa
independente dos estudantes trouxe à tona outro grande
flagelo vivido no interior da USP.
O grande déficit de vagas, a precariedade dos
alojamentos e a política de repressão aos estudantes já
eram conhecidos por todos, no entanto a ocupação que
reivindica mais vagas e a gestão democrática do CRUSP veio
revelar uma realidade ainda mais assustadora desse órgão.
Documentos encontrados revelam um verdadeiro departamento de
controle policial da vida e do dia–a–dia dos moradores
do CRUSP. Somado à ocupação do COSEAS, os funcionários
após uma série de tentativas frustradas de terem suas
reivindicações atendidas pela reitoria entraram em greve a
partir do dia 5 de maio. Trata–se de uma greve por
recomposição de enormes perdas salariais, contra precarização
do trabalho manifestada nas tercerizações de vários
setores, pelo direito de livre organização, com a exigência
da readmissão de Brandão e o fim dos processos de perseguição
política de funcionários e estudantes além de outras
pautas, como o fim da UNIVESP. Como podemos verificar, as
bandeiras de 2009 estão recolocadas em sua totalidade.
Diante da greve, como era de se esperar, a reitoria vem
tomando medidas para reprimir o movimento como a ameaça de
cortar pagamentos e multas aos piquetes de greve organizados
pelo sindicato dos funcionários (SINTUSP)
Esse breve apanhado da situação na USP coloca
objetivamente para os estudantes, professores e
trabalhadores em greve novamente o desafio de organizar um
grande movimento unificado capaz de fazer a reitoria e o
governo tucano do estado de são Paulo recuar em sua clara
política de destruição da universidade pública. A gestão
de Rodas na prática já demonstrou a que veio. Bastou os
estudantes e trabalhadores se colocarem em movimento para
que o discurso do diálogo caísse totalmente por terra.
Assim o movimento estudantil está diante de uma realidade
incontornável: ou se mobiliza imediatamente somando–se
aos já mobilizados na ocupação do COSEAS e aos
trabalhadores para fazer recuar a reitoria e lutar pela
universidade pública e democrática ou irá assistir outros
ataques, como a ampliação da UNIVESP e o recrudescimento
dos ataques à livre organização, com novas demissões e
outras formas de repressão ao movimento. Diante desse
quadro é necessário analisar o papel que vem cumprindo o
Diretório Central dos Estudantes da USP (DCE). Em um
processo eleitoral cheio de irregularidades e com os setores
mais combativos ausentes ou dividido em chapas diferentes,
foi eleita a chapa organizada pelo PSOL. Essa desde o início
da gestão Rodas vem alimentando ilusões em relação à
possibilidade de um verdadeiro diálogo com a reitoria. Essa
postura vem contribuindo e muito para a atual confusão de
parte dos estudantes que ainda não chegaram à conclusão
de que não há alternativa que não passe pelo
enfrentamento direto ao atual reitor. Assim, uma série de
manobras vem sendo feitas pela atual direção do DCE (PSOL)
– a exemplo que do fez a direção anterior (PSTU) na
greve de 2009 – para que o movimento estudantil não entre
em cena.
Os posicionamentos na última assembléia demonstraram
claramente isso, chegando–se ao cúmulo da direção do
DCE propor a não realização da assembléia que ela mesma
havia convocado para discutir a greve estudantil. No,
entanto, mesmo sem a presença do DCE, os estudantes
reunidos no prédio da História realizaram a assembléia
que votou um indicativo de greve para o dia 20 de maio.
Durante a assembléia se manifestaram dois posicionamentos
totalmente distintos. Um alegando que não há a menor condição
para se propor uma greve dos estudantes (PSOL e PSTU) e a
outra de que as condições objetivas permitem um indicativo
de greve a partir das condições objetivas, da greve dos
funcionários e da ocupação do COSEAS. É claro que a política
do DCE, sob a direção do PSOL, e a do PSTU contribuem e
muito para a desmobilização atual da maioria dos
estudantes, isso é um fato. Mas também é verdade que
diante dos acontecimentos expostos acima e da discussão
clara com os estudantes nos cursos é possível se reverter
essa situação e mobilizar os estudantes ainda nesse
semestre.
Na verdade, o debate sobre a greve estudantil não se dá
em torno de uma apreciação das condições objetivas e
subjetivas para se fazer a luta, mas em torno à concepções
e perspectivas políticas totalmente distintas.
O bloco PSOL/PSTU caracteriza–se por priorizar as ações
institucionalizadas e pelo “parlamentarismo
sindical/estudantil”, pois se dedicam muito mais à
disputa nas eleições sindicais e estudantis do que as
atividades voltadas para a ação direta dos trabalhadores e
estudantes na luta de classes. Nesse momento a grande
preocupação dos militantes do PSTU, por exemplo, é com a
eleição de delegados ao congresso de unificação. Não
que a organização dos fóruns independentes do movimento
em nível nacional não seja importante, mas esses devem ser
organizados no calor das lutas não em detrimento delas. No
ano passado a greve dos estudantes foi adiada em semanas por
conta da política desse bloco de adiar ao máximo o
ingresso dos estudantes na greve sob a alegação de que os
estudantes não estavam dispostos a se mobilizar.
Agora é necessário levar para todos os estudantes a
necessidade de, através da greve a partir do dia 20 de maio
junto com os funcionários, dar uma resposta à altura
dos ataques em curso. Nesse sentido, aprender com as
lutas do passado é fundamental e nos preparar para um
duríssimo enfrentamento com Rodas.
Dessa forma, construir desde o início comandos de greve
e assembléias unificadas entre todos os setores em luta,
tomar iniciativas para ocupar os espaços centrais na
universidade, exigir o apoio efetivo da CONLUTAS e
das demais organizações ligadas aos interesses dos
trabalhadores, não abrir mão de bandeiras
fundamentais, como ocorreu como o “Fora Sueli”, são
lições fundamentais da greve de 2009 com os quais
devemos aprender e incorporar na atual jornada.