Brasil

Universidade de São Paulo

Trabalhadores da USP ocupam reitoria dando
mais um exemplo de combatividade

Práxis – Socialismo ou Barbárie, 13/10/06

João Grandino Rodas mantém os processos administrativos e criminais de funcionários e estudantes, demissão política do diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP (SINTUSP), Claudionor Brandão, a implementação da Universidade Virtual de São Paulo (UNIVESP), que não passa de uma falsa ampliação do acesso a universidade. Esse Reitor biônico, juntamente com o Conselho de Reitores da USP (CREUSP), quebrou a isonomia salarial dos trabalhadores, oferecendo uma reposição salarial maior para os professores com o objetivo de quebrar a solidariedade entre as categorias. Como se não bastasse, recentemente cortou o salário de mil trabalhadores em uma tentativa perversa de enfraquecer a greve que conta com a adesão de 60% dos funcionários técnicos administrativos da universidade. 

Rodas, a exemplo do aumento diferenciado, mantém firme a estratégia de dividir para governar, pois cortou o salário de mil trabalhadores que recebem as menores remunerações para tentar colocá-los contra o sindicato, uma tentativa de enfraquecer a mobilização e, conseqüentemente, derrotar a greve. Diante desse brutal ataque ao direito de organização e de greve na terça-feira, dia 8 de junho, os funcionários da Universidade de São Paulo com apoio dos setores mais combativos do Movimento Estudantil (ME) e de trabalhadores de outras categorias ocuparam o prédio da reitoria da Universidade de São Paulo em uma demonstração de que não estão dispostos a capitular diante de mais um interventor de José Serra na Universidade de São Paulo.

A ocupação coloca o conflito em um patamar distinto. A necessidade de apoio agora se eleva ao cubo. Sendo assim, é necessário desenvolver todo tipo de solidariedade, ou seja, desde ampliar o fundo de greve, passando por ações que trabalhem para tirar o Movimento Estudantil da letargia, até uma campanha de apoio político mais geral.  

Superar direção pelega para que o movimento estudantil entre em cena

Não é verdade que os estudantes da universidade de São Paulo não estão dispostos a lutar por sua pauta de reivindicações e em solidariedade aos funcionários em greve. Diante do déficit anual de mais de 800 moradias e da gestão burocrática e policial da Coordenadoria de Assistência Social (COSEAS), que persegue e controla a vida pessoal dos moradores, os estudantes ocuparam uma instalação que originalmente era utilizada para fins de moradia e que se tornou prédio administrativo da COSEAS.

E mais, com o Restaurante Universitário fechado pela greve os alimentos eram distribuídos aos estudantes pela Associação dos Moradores do Conjunto Residencial da USP (AMORCRUSP). Rodas, dentro de sua estratégia de dividir para governar e tentar derrotar o movimento por asfixia cortou o fornecimento de alimentos aos estudantes alegando que se os funcionários estavam em greve, portanto não poderiam continuar distribuindo alimentos aos estudantes. Há uma semana sem alimentação não restou aos estudantes outra atitude: em uma ação legítima o restaurante - sem o apoio do DCE e do PSTU, evidentemente - foi ocupado para garantir aos estudantes moradores alimentação para a próxima semana.

Outro exemplo são os estudantes de São Carlos que ocupam a diretoria do campus em defesa da autonomia de gestão da moradia estudantil. Também vale lembrar o caso dos estudantes da UNESP de Marília que estão ocupados na diretoria do campus. No caso da Cidade Universitária a aparente passividade da maioria dos estudantes se deve principalmente à política que o DCE (dirigido pelo PSOL) e do PSTU, pois essas organizações além de não apoiarem essas iniciativas dos estudantes passaram boa parte do semestre se dedicando em convencer os estudantes de que era possível uma linha de negociação com Rodas.

Na última assembléia dos estudantes, dia 9 de junho, a direção do DCE simplesmente se retirou da assembléia alegando falta de quorum para que a assembléia se realizasse. Ou seja, um dia após a ocupação da reitoria com os trabalhadores precisando de todo apoio possível e com os estudantes sem alimentação essa burocracia mirim para tentar manter os estudantes na passividade simplesmente se retira de cena. O DCE/PSOL uma vez fora da assembléia coube ao PSTU o trabalho sujo de se dedicar, durante toda a assembléia, a questionar a legitimidade da mesma, não fez sequer uma intervenção ou proposta no sentido de encontrar meios ou pontos de apoio para mobilizar os estudantes. O que só demonstra a falência política desse setor que, por razões de anacronismos teóricos, super-estruturação e adaptações políticas, não está à altura dos desafios concretos da luta de classes.   

Apesar de não contar com um número suficiente de participantes e da mobilização necessária para se decretar uma greve a assembléia cumpriu um papel decisivo. Pois, ao votar a consigna de “Fora Rodas” e a incorporação dos estudantes na ocupação possibilita que o dialogo com o conjunto dos estudantes com o objetivo de mobilizá-los o mais amplamente se de em um patamar superior.

A proposta de incorporar os estudantes foi aprovada durante a assembléia apesar da abstenção dos estudantes da LER-QI e dos estudantes do MNN que argumentaram que essa era uma “votação formal”, pois a “reitoria já se encontrava ocupada”. Desculpa esfarrapada, pois todos sabem o quão é importante obter uma posição política de integração dos estudantes à luta dos trabalhadores. Essa posição esta fundamentada no medo de que uma vez que os estudantes ocupem de fato a reitoria outras demandas mais gerais fossem colocadas como condição para que o fim da ocupação. Ou seja, uma posição que pretende estabelecer limites ao movimento e condicionar de antemão os seus resultados, evitando o “risco” de que com a participação massiva dos estudantes o conflito ganhe uma dimensão mais ampla e radical.

A hipótese de uma greve prolongada não está descartada, o que coloca para os estudantes o desafio de participar diretamente na ocupação, além de outras iniciativas que superem, na prática, a atual direção do DCE. Dissolvendo, assim, todas as ilusões de que os problemas podem ser resolvidos sem o enfrentamento direto à política educacional privatista e repressiva que interessa a classe dominante paulista representada por Rodas na USP.

• Todo apoio a ocupação de funcionários e estudantes.
• Pelo atendimento imediato a todas as reivindicações.
• Fora Rodas!