Os
estudantes atualmente alojados no CEPEUSP (Centro de práticas
esportivas da UsP) - que atualmente
abriga cerca de 70 estudantes, mais que o dobro de
2007, quando foi fechado - correm
o risco de serem colocados na rua pela COSEAS. Além de esta
ser uma medida escandalosa em si, é necessário ressaltar
que mais do que de viver em um clima permanente de
instabilidade em relação à garantia de permanência,
estes estudantes já estão em péssimas condições de
alojamento. O espaço físico em que os estudantes ficam no CEPEUSP se localiza
debaixo das arquibancadas de futebol, o banheiro dos alunos
é o vestiário dos esportistas, os quartos que são
divididos por nove beliches são mal ventilados, não existe
cozinha nem lavanderia, nem móveis, suas roupas e objetos
pessoais são guardados dentro dos pequenos armários
(guarda volumes). Para “morar” no CEPEUSP é necessário
seguir um conjunto de regras que atentam contra a liberdade
dos estudantes. Para
se ter uma idéia, ao estilo dos internatos religiosos, os
quartos são separados por gênero. Fato que tem uma série
de implicações, uma delas é o desrespeito ao direito dos
indivíduos escolherem livremente com quem querem morar
compartilhar seu espaço de moradia, o que independe do gênero
ou da orientação sexual de cada um, por outro lado, é uma
medida de clara repressão sexual, típico dos regimes
autoritários que encontram nessa forma de repressão uma
forma eficaz de controle político e ideológico. Além do
desrespeito à liberdade de escolha, esse “critério”
causa uma cisão entre os estudantes com claro prejuízo,
inclusive, para a plena formação psíquica, cultural e política.
A crônica de absurdos não para por ai, é proibido que os
alunos estendam qualquer peça de roupa no quarto, o que é
impossível de ser cumprido, pois onde os alunos vão
estender suas roupas, já que não há lavanderia? Outro
absurdo é a entrada dos estudantes até meia noite apenas.
Passado este horário: dorme-se na rua.
A história de precariedade do
CEPEUSP não é recente, em 2007 o mesmo foi fechado devido
denúncia do jornal A Folha de São Paulo, fechando-se ao
longo dos anos de 2008, 2009, 2010. Ao ser reaberto, a
COSEAS prometeu melhores acomodações, o que em absoluto não
ocorreu, pelo contrário, agora
a COSEAS quer expulsar estes alunos sem dar-lhes nem uma
previsão de moradia fixa. Este departamento de controle
e repressão travestido de assistência estudantil tem práticas
de conceder, em período emergencial, um auxílio moradia no
valor monetário de R$ 300, que todos sabem que é uma
quantia ínfima. Com esta medida, a COSEAS quer calar a boca
dos estudantes, pois ao aceitar este auxílio, os estudantes
saem na esperança de encontrar um aluguel barato ou
improvisam com amigos alguma moradia, ou são abrigados por
moradores regulares do CRUSP, etc. Mas, passado alguns
meses, o auxilio é cortado. Após esse processo
intencionalmente excludente por parte da COSESAS, estes
estudantes se encontram sem o ínfimo auxilio e sem moradia,
abandonados a própria sorte ou ao apoio e solidariedade
individual de alguns.
Mas,
apesar da COSEAS e de sua maquinaria repressiva e excludente
os estudantes do CEPEUSP resistem. Diante da iminência de serem
expulsos, uma série de iniciativas para reverter este
quadro está sendo posta em prática, sistematizando a própria
condição de moradia, elencando justas reivindicações,
dialogando e pedindo a solidariedade da comunidade universitária.
A última iniciativa foi uma reunião para exigir medidas a
COSEAS, onde o coordenador da mesma, Waldyr , sequer se
dignou a comparecer. Na ocasião, duas assistentes sociais
que representavam o departamento, compareceram a reunião e,
dentre outras pérolas, diante da reivindicação dos
estudantes por mais vagas, disseram aos estudantes presentes
que “o papel da COSEAS não é criar vagas, mas apenas
administrar as vagas existentes”, ou seja, ouvimos das
bocas destas aquilo
que já sabíamos: que
a COSEAS ajuda a compor o perverso papel da burocracia
universitária, além de estar a serviço da manutenção da
estrutura elitista da “maior
universidade da América Latina”. A resistência
dos estudantes do CEPEUSP diz respeito a todos estudantes,
pois no momento é a expressão imediata e incontornável na
sua significação da luta pelo direito à permanência
estudantil na USP. Assim, nós do PRAXIS -
Socialismo ou Barbárie nos
posicionamos ao lado destes estudantes para que suas
reivindicações – que são também a de todos nós – de
melhores condições de moradia, mais vagas, fim da absurda
segmentação sexistas do alojamento, nenhuma restrição ao
horário de entrada ou saída do alojamento sejam
imediatamente atendidas. Como conhecemos bem ao que e a quem
serve a COSEAS, temos claro, por outro lado, que essa
batalha só vai ser vencida com muita luta e ampla
solidariedade, por isso, neste momento devemos como um todo,
em todas as assembléias, reuniões e discussões do
CRUSP e da USP, discutir
a situação destes estudantes, propor e encaminhar ações
de apoio a essa luta. Pelo direito à permanência
estudantil! Mais vagas na moradia! Por alojamentos dignos!
Fim da divisão sexista imposta pela COSEAS.
Em defesa das assembléias e
dos
fóruns que garantam
a democracia direta dos estudantes
Sem democracia a luta não
transforma
O
direito de livre organização e expressão de idéias
sempre foi alvo de ataques e supressões.
Houve épocas não muito longínquas em que era
impensável um grupo de pessoas se reunirem para discutir
temas, impressões, e/ou fazer críticas a governos ou a uma
determinada situação. Houve tempo ainda em que mulheres,
negros, estrangeiros (entre outras minorias ou maiorias) não
podiam por força da lei e da repressão direita estar
presentes individualmente, sequer coletivamente, em
determinados espaços. Esta censura tinha/tem como intuito
coibir a participação direta dos indivíduos, limitando-os
a mera democracia representativa, em que os interessados são
apenas consultados e seu direito é apenas o voto
estritamente. Isto é, uma “democracia” que não prevê
a contrapartida, a argumentação, a crítica, a discussão
e a possibilidade de convencimento e síntese das partes.
Assim, a assembléia foi e ainda é o meio mais democrático de participação
dos indivíduos! Nela todos podem falar e expor seus
pontos de vista de forma direta e livremente. Para que isso
seja possível, as assembléias realmente democráticas
devem levar em consideração uma metodologia própria, que
tem a ver com sua organização e condução, respeito às
falas, ao tempo proposto etc. Para o bom andamento da mesma,
é necessário que todos venham com o objetivo de não só
convencer, mas também de estar aberto para ser convencido,
pois este é um momento de diálogo e embate político, não
pessoal. Evitando assim situações como a da última
assembleia do CRUSP, em que métodos anti-democráticos e gangsteristas foram utilizados por
membros e apoiadores da ex-gestão Novoamorcrusp, destituída
por fraude e corrupção, além de atrelamento político
e administrativo a COSEAS. As ações lamentáveis destas
pessoas durante toda assembléia acabaram resultando na
invasão da Amorcrusp, sem nenhuma indicação ou deliberação
em assembléia (uma vez que este mesmo setor já tinha
autoritariamente decretado o fim da assembleia), chegando ao
ponto de um grupo de pessoas, ao forçarem a entrada,
quebrarem vidros, fato que resultou no ferimento da mão de
um morador. Outro acontecimento recente foi a última
assembléia geral da USP, realizada na EACH, conduzida pela
atual gestão do DCE Todas as vozes/PSOL, em que esta
direção tentou encaminhar um assembléia velada, ou seja,
uma assembléia onde aqueles que não concordassem, não
podiam se expressar, o que se verificou na tentativa de
proibir as declarações de abstenções, resultando na
implosão da assembléia. Diante destes fatos, portanto,
perguntamos a este dois setores, o primeiro, encabeçado
pela ex-gestão Novoamorcrusp (CRUSP), se, de fato, é
gestão Novoamorcrusp ou Nova Coseas ?! e, para o DCE,
se a gestão todas as vozes é só no nome ou, ainda,
se é todas as vozes, só que as deles?!
Ações como estas não são
somente um ataque ao instrumento legítimo, soberano, democrático
- que é a assembléia – e que foi conquistado através
das lutas, como, também, são um ataque evidente ao próprio
movimento, que por não poder contar com espaços como este,
fica a mercê da própria sorte. Nesse sentido, as assembléias
na USP vêm sendo atualmente desqualificadas e desgastadas,
quando na verdade deveriam ser a instância maior do
movimento. Na medida em que a má condução das assembléias
também é fator de retrocesso para o movimento, no sentido
de não agregar novos estudantes, causando-lhes, pelo contrário,
apatia, assim, a assembleia torna-se um espaço em que,
devido ao personalismo e oportunismo de alguns, todos acabam
pagando.
Nesse sentido, nós, do Práxis
- Socialismo ou Barbárie, enfatizamos a necessidade
de assembleias soberanas e democráticas para a continuidade
do movimento e que visem a intensificação e unificação
do mesmo. Só assim será possível lutar por uma educação
de gratuita e de qualidade que vise permanência estudantil
abrangente e não precarizada (como é o caso do alojamento
do CEPEUSP), ou ainda, contra a possível catracalização
do bloco A1 - bloco
este que é fruto da luta direta dos estudantes (ocupação
da reitoria em 2007) - e, também, contra
a possível expulsão de 300 estudantes, moradores do
CRUSP que, em vias da terminar o curso, podem ser expulsos
de suas moradias. Assim, no caso específico do CRUSP,
acreditamos que as discussões não podem se restringir
apenas ao espaço da assembléia, mas devem ser antecedidas
e seguidas de um amplo processo de discussão com reuniões
abertas na associação dos moradores, reunião nos blocos (com
representantes eleitos em assembleia) e outros possíveis fóruns
de debate.