Eleições
Uma vitória da direita
Por Mário Maestri e Gilberto Calil
(*)
La Insignia, Brasil, 12/10/04.
Os resultados do primeiro turno das
eleições para prefeitos e vereadores de mais de cinco mil e
quinhentos municípios do Brasil registraram a vitória indiscutível
da estratégia política dos grandes proprietários nacionais e
mundiais. Na soma final parcial, destaca-se como principal tendência
o equilíbrio relativo entre o PT, PSDB e PMDB. Portanto, se fortalece
a proposta da constituição de dois ou três grandes partidos que se
alternem na gestão da mesma política, ao igual que nos USA e na Grã-Bretanha.
Até poucos meses, esse equilíbrio
conservador encontrava-se ameaçado. O grande prestígio inicial de
Lula da Silva ensejara previsões de avalanche eleitoral petista em
2004, com a eleição de até mil prefeitos, como verbalizaram alguns
dirigentes máximos do PT. Tal resultado facilitaria a reeleição de
Lula em 2006, desorganizando o equilíbrio entre os partidos
conservadores tradicionais e o PT convertido ao neoliberalismo.
Com o aprofundamento das políticas
neoliberais e o conseqüente desemprego e achatamento salarial, em
2001 e 2002, temeu-se cenário oposto, ainda mais problemático para o
grande capital, com o governo federal e sua política enfraquecidos
por derrota eleitoral acachapante, de conseqüências imprevisíveis
para o prosseguimento da política conservadora e para a apresentação
mundial do governo Lula da Silva como exemplo a ser seguido.
A inevitável retomada da expansão
econômica, após o ciclo depressivo de 2002, com decréscimo do PIB,
a falta de alternativa política popular e o refluxo relativo do
movimento social permitiram que o PT obtivesse crescimento nacional de
votação, ainda que medíocre para partido que controla as rédeas e
as burras da nação. Os resultados de três de outubro permitiram ao
PT salvar a face, apresentando acréscimo de quase cem por cento em
relação às duzentas prefeituras conquistadas em 2000.
Sursis eleitoral
Porém, esse resultado não
constitui alforria definitiva, mas verdadeiro sursis eleitoral, visto
que, em início de novembro, o PT disputará segundos turnos em
cidades importantes, de grande peso simbólico, como Porto Alegre, ou
de imensa importância estratégica, como São Paulo, com
probabilidades de derrota.
Ao contrário, o PSDB obteve vitória
substancial, elegendo prefeitos em quase novecentos municípios e
vencendo o primeiro turno em São Paulo. Tal desempenho coloca o
partido de Fernando Henrique Cardoso como principal oposição
eleitoral ao governo em 2006. Se o PT fez 17,15 % da votação
nacional, o PSDB atingiu 16,54% - apenas 0,61% a menos do que o
partido no governo!
Esses resultados mostram a superação
relativa do descrédito conhecido pelo PSDB após a patética conclusão
da octaetéride fernandina, devido aos desmandos conservadores do
petismo na administração federal, estadual e municipal. Os
principais penalizados foram o PMDB que, mesmo elegendo mais de mil
prefeitos, perdeu trezentos, e o PFL. A desgraça do PMDB e do PFL
crescerá nos próximos meses, quando muitos de seus prefeitos migrarão
para o regaço dos partidos governamentais, na eterna procura das
benesses dos amigos do rei, nesse caso, Lula da Silva.
O PT viu-se igualmente frustrado no
relativo às expectativas alimentadas quanto à distribuição da votação.
Para garantir a vitória em 2006, seus estrategistas pretendiam vencer
nas grandes cidades, reduto eleitoral petista tradicional, e se
espraiar no interior. As quase cem cidades brasileiras com mais de 150
mil habitantes concentram uns 46 milhões de eleitores - 38% do
eleitorado nacional. Em geral, um avanço nesses centros assinala tendências
a médio e longo prazo.
Avanço pífio
O PT pretendia contrabalançar o
desgaste eleitoral ensejado por sua política neoliberal com o prestígio
pessoal de Lula da Silva; com a generalização de políticas
compensatórias focalizadas; com a concessão de verbas públicas para
os municípios e candidatos governistas; com a força dos interesses
econômicos que representa. O avanço do PT no interior foi tímido e
o resultado em muitas metrópoles, preocupante.
O PT venceu no primeiro turno em
seis capitais: Belo Horizonte, Recife, Aracajú, Macapá, Palmas e Rio
Branco. Apenas Belo Horizonte e Recife, capitais de Minas Gerais e
Pernambuco, com 2.300.000 e 1.470.000 habitantes, possuem importância
eleitoral, social e econômica. A população das quatro outras
capitais, somadas, alcançam um milhão e duzentos mil moradores,
menos do que a população de Porto Alegre.
Na cidade de São Paulo, terceiro
maior orçamento do Brasil, com quase onze milhões de habitantes,
Marta Suplicy socialite convertida à política, candidata à reeleição,
aliada incondicional de Lula da Silva e integrante da direita petista
fisiológica, passou em inglória segunda posição, para o turno
final, com 33,4% da votação. Se vencer o pleito, José Serra - que
obteve 40,6% no primeiro turno -, candidato presidencial derrotado por
Lula da Silva em 2002, consolida-se como adversário privilegiado
deste último, em 2006.
O PT recuou em centros paulistas de
forte concentração operária, como Campinas, a maior cidade do
interior de São Paulo, administrada pelo PT; em São José dos Campos
- 560 mil habitantes - e Piracicaba - 345 mil habitantes. O vexame foi
total no centro industrial de São Bernardo - 740 mil habitantes -,
base política de Lula da Silva. Vicentinho, metalúrgico e
ex-presidente da CUT, aliado e amigo do presidente, sequer chegou ao
segundo turno, desfeita conhecida também pelos candidatos petista em
Santos e Santo André, outros centros metalúrgicos e operários de
ponta do Brasil.
Posição histórica
Praticamente desde a República, em
1889, o Rio Grande do Sul e Porto Alegre são estado e cidade de
orientação republicana, populista, social-democrata e de esquerda. O
governo do RS escapou, em 2002, ao PT, com a derrota de Tarso Genro,
candidato à sucessão do sindicalista Olívio Dutra. Agora, o mesmo
tropeço ameaça Porto Alegre, a pérola da coroa petista, vitrine
mundial do modo de governar do PT, primeira sede do Fórum Social
Mundial.
A erosão petista em Porto Alegre
é palpável e constrangedora. Em 1996, Raul Pont elegeu-se com 52%
dos votos válidos. Em 2000, Tarso Genro obteve 48,7% dos sufrágios
no primeiro turno. Agora, contra José Fogaça - 27% dos votos -,
candidato estigmatizado pela proximidade com Antônio Britto, execrado
governador neoliberal do RS em 1994-1998, Pont e o PT obtém apenas
37% dos votos válidos, com perda de 15% de apoio, em relação à
primeira candidatura.
Raul Pont, da Tendência Democracia
Socialista do PT, ligada ao Secretariado Unificado da Quarta
Internacional, concorreu defendendo incondicionalmente a administração
Lula da Silva, apoiado por coligação sem princípios - PT-PTN-PMN-PL-PSL-PCB-PCdoB.
Ressalte-se que PTN, PMN e PSL são típicas legendas de aluguel e o
PL, a sigla preferencial das igrejas evangélicas caça-níqueis no
Brasil.
Nos últimos anos, o PT aprovou
Plano Diretor que entregou a capital à especulação imobiliária,
vem privatizando a saúde pública municipal, cassou importantes
conquistas salariais dos trabalhadores do município, concedeu grandes
aumentos para os empresários do transporte público, tradicionais
financiadores das campanhas eleitorais em Porto Alegre.
Enorme fiasco
No Rio de Janeiro, onde Lula fez
mais de oitenta por cento dos votos, em 2002, no segundo turno, o
desastre do PT foi total. O candidato Jorge Bittar, com cargo no
governo federal, que dirige o PT associado à ministra Benedita da
Silva, há pouco defenestrada do governo, obteve um humilhante quinto
lugar - 6,3% dos votos - no segundo colégio eleitoral do Brasil -
seis milhões de habitantes. Tudo isso apesar do apoio firme do
governo Lula da Silva. Somando essa pífia votação à de Jandira
Fagalli - 6,9% -, do PcdoB, que recebeu parte dos votos petistas, o PT
não chega ao seu escore histórico na cidade, em torno dos quinze por
cento.
Salvador, capital da Bahia, segunda
maior votação de Lula no segundo turno presidencial, com dois milhões
e seiscentos mil habitantes, foi outro grande desastre. O deputado Nélson
Pellegrino, líder do PT na Câmara durante a reforma neoliberal da
Previdência, ficou fora do segundo turno. Em Campo Grande, com
setecentos mil habitantes, capital do Mato Grosso do Sul, governado
por Zeca do PT, também da direita petista, o partido de Lula da Silva
amargou outra dura derrota.
Nesse primeiro turno, no relativo
ao PT, materializam-se duas grandes tendências. Primeira, o apoio e a
proximidade ao governo federal e à Lula da Silva, mostraram-se
handicap negativo, no relativo à captação de votos. Segunda, através
do Brasil, venceu sobretudo o PT neutro, apolítico, intérprete orgânico
dos interesses econômicos locais e regionais, em geral eleito devido
a campanhas milionárias.
A consolidação da metamorfose do
PT em partido social-conservador foi também registrada na geral e
absoluta ausência da tradicional onda vermelha. Ou seja, o afluxo
multitudinário às ruas de militantes petistas, portando bandeiras
coloradas, nos momentos anteriores e posteriores à eleição. Através
de todo o Brasil, com as eleições municipais de 2004, a onda
vermelha e o militante petista passaram a fazer parte da história. Em
Porto Alegre, o day after eleitoral impressionou pela monótona
normalidade.
O salário da consciência
Ao igual do efetuado pelos outros
partidos tradicionais, a exceção dos personagens diretamente
envolvidos no pleito eleitoral - candidatos, familiares, funcionários
do partido, empregados em cargos de confiança, etc -, a campanha
petista em todo o país apoiou-se sobretudo nos cabos-eleitorais
pagos, com salários que variavam, em São Paulo, entre trezentos e
oitocentos reais mensais. Ou seja, de oitenta a 220 euros.
No mesmo sentido, os candidatos às
prefeituras de São Paulo, de Curitiba, de Belo Horizonte, de Recife e
de Goiânia tiveram suas campanhas assinadas e orientadas pelo
publicitário Duda Mendonça, um dos mais caros marqueteiros do
Brasil. Contratado a peso de ouro em 2000, ele foi apresentado pela
burocracia petista como grande responsável pela propaganda eleitoral
vitoriosa de Lula da Silva, que se destacou pela radical despolitização.
A metamorfose do PT consolidou-se
com a derrota quase total dos poucos candidatos a prefeito e a
vereadores da "esquerda petista". Em Belém, capital do Pará,
com um milhão e quatrocentos mil habitantes, administrado pelo
petista Edmilson Rodrigues, da Tendência Força Socialista, a
candidata Ana Júlia Carepa passou ao segundo turno, em segundo lugar.
Como assinalado, o mesmo ocorreu com Raul Pont, ainda que seja muito
difícil considerá-lo como parte da esquerda petista em agonia.
A exceção que confirmou a regra
foi a candidata do PT em Fortaleza, Luizianne Lins. Boicotada pela
burocracia petista, que apoiou o candidato Inácio Arruda, do PCdoB,
ela passou ao segundo turno com 22,3% dos votos. Luizianne é da tendência
Democracia Socialista e se definiu, publicamente, como marxista-esotérica,
autoqualificação que não causou maior interesse ou espanto, devido
à lassidão ideológica e cultural da política brasileira atual.
Essa verdadeira exceção à regra apresenta-se como a última bóia
para os defensores, de dentro e de fora do governo, de um "PT em
disputa".
Espaço vazio
Destaca-se o fato de que nessa eleição
o espaço eleitoral de esquerda deixado vazio pela evolução
conservadora pelo PT não foi ocupado por nenhum partido. O PPS -
antigo Partido Comunista do Brasil - prosseguiu sua trajetória de
sigla de aluguel, sempre sob o comando de Roberto Freire. Hoje, os
principais políticos do PPS no Rio Grande do Sul são os responsáveis
pelas privatizações selvagens realizadas em 1994-1998.
O PC do B, que assumiu sob o
comando adesista de Aldo Rabelo a defesa incondicional das políticas
neoliberais, talvez em forma definitiva, consolidou-se como extensão
eleitoral do PT, sendo derrotado nas duas únicas capitais - Manaus e
Fortaleza - onde possuía alguma possibilidade de vitória. Sua ala
esquerda, representada por Jandira Fagalli, que se propôs como opção
de esquerda no Rio de Janeiro, sofreu também derrota irretorquível.
Também o PSB caracteriza-se hoje
pela completa subordinação ao neoliberalismo lulista e funciona
sobretudo como legenda auxiliar ao PT. Seu relativo avanço eleitoral,
chegando a quase 5 milhões de votos - (4,7%) -, explica-se pela sua
condição de partido aliado. Ainda assim, sua principal vitória - a
eleição no primeiro turno de Ricardo Coutinho à prefeitura de João
Pessoa, na Paraíba, com mais de sessenta por cento dos votos -
constitui exceção, já que se trata de candidato expulso do PT, com
discurso de esquerda e crítico ao governo, que deixou o candidato
petista Avenzoar Arruda com humilhantes três por cento. Em geral, os
candidatos do partido assumiram a defesa incondicional do governo Lula
da Silva, destacando-se ainda a presença de vários pastores evangélicos
entre eles.
Na primeira eleição sem a direção
de Leonel Brizola, o PDT dispersou-se em candidaturas de cunho
localista, praticamente sem referências políticas e ideológicas com
o nacional-desenvolvimentismo defendido tradicionalmente pela agremiação.
Vieira da Cunha, candidato pedetista a prefeito de Porto Alegre,
encetou raivosa campanha antipetista, recebendo menos de dez por cento
dos votos em capital que o PTB/PDT já administrou diversas vezes. Foi
superado por Onyx Lorenzoni, candidato claramente de direita, do
PFL-PSDB, que recebeu dez por cento da votação, o que é excepcional
na capital sulina.
PSTU - derrota histórica
Talvez o maior derrotado nessas
eleições foi o pequeno PSTU, principal estrela da esquerda marxista
no Brasil que se apresentou às eleições. O ataque do governo Lula
da Silva à população e ao movimento social organizado abria-lhe por
primeira vez a possibilidade de superar o enorme isolamento e o
inferno astral eleitoral em que vive encerrado. Porém, seu escore
eleitoral foi um desastre. O PSTU obteve 183.562 votos em todo o país
- 0,19% do total dos votos válidos. Nas capitais, obteve votação
pouco superior ao 0,4%.
Sua única votação significativa
foi em Belo Horizonte, onde conseguiu 1,18 % dos sufrágios, resultado
que refletiu o baixo número de candidatos e a vitória substancial do
PT naquela cidade onde o ainda mais nanico PCO obteve votação
superior ao PSTU - 1,19% . Ambas organizações são de referência
trotskista.
A direção do PSTU perseguira um
pequeno boom eleitoral, ao deslocar seus tradicionais candidatos a
cargos majoritários para candidaturas proporcionais, esperando eleger
vereadores em algumas grandes cidades - Porto Alegre, Belo Horizonte,
São Paulo, Rio de Janeiro, etc. Porém, elegeu apenas dois dentre os
cinqüenta e um mil vereadores brasileiros, em cidades sem expressão
do interior de Pernambuco. Em todo o país, os candidatos a vereador
do partido atingiram inexpressivos 78.263 votos - 0,08%.
As razões do fracasso histórico
do PSTU são compreensíveis. Nos últimos meses, sua direção
engolfou a pequenina e disciplinada organização em política
esquerdista literalmente autocida. Primeiro, impediu com exigências
irrealizáveis qualquer confluência organizacional com o movimento
surgido da expulsão dos deputados radicais do PT - três dos quatros
também de origem trotskista. A seguir, proibiu seus militantes de
apoiar o direito democrático daquele segmento de organizar-se como
partido, chegando a atacar o recém-fundado PSOL na propaganda
eleitoral gratuita, apesar da agremiação sequer participar das eleições.
Ignorado por todos
A autoproclamação do PSTU por sua
direção como o partido revolucionário no Brasil; a política de
rompimento unilateral e isolado com a CUT e com a UNE, devido à política
traidora de suas direções; sua já tradicional visão simplista e
simplória da sociedade brasileira levaram a que a população
brasileira desconsiderasse multitudinariamente essa organização como
opção política razoável.
Até agora, a direção do PSTU
respondeu a essa derrota com o truísmo que "as eleições não
resolvem nada", que só a "luta muda a vida", sem
esclarecer as razões que levaram o pequeno partido a participar das
eleições; se pretendem voltar a concorrer em pleitos eleitorais; os
possíveis motivos do rechaço popular mastodôntico, no contexto de
condições tão favoráveis. É difícil saber como a comprovação
material do caráter suicida das políticas da direção do PSTU
influenciará a base dessa organização, que reúne importante
vanguarda de dedicados combatentes sociais.
Igualmente pouco radioso foi o
resultado do PSOL que, como assinalou a grande imprensa, brilhou
fulgurantemente pela ausência política em certame eleitoral em que,
mesmo não apresentando candidatos, devido à legislação eleitoral
autoritária, esperava-se que se pronunciasse e interviesse firme e
amplamente no pleito.
A Coordenação Nacional Provisória
do PSOL optou por não se servir do momento político para orientar e
dialogar nacionalmente com seus militantes, simpatizantes e a população
em geral, denunciando a farsa eleitoral, combatendo o cretinismo
parlamentar, talvez propondo o voto nulo, branco e nos partidos
classistas, como exigiram segmentos de suas bases. Durante a campanha,
a atividade política quase exclusiva do PSOL foi coletar as
quatrocentas mil assinaturas necessárias para a legalização que lhe
permitirá participar nas eleições de 2006.
Grande confusão
A confusão sobre a orientação e
sentido político da nova organização aumentou com a única resolução
política da Executiva Nacional (www.psol.org.br) que abriu espaço
para que parlamentares, figuras públicas e intelectuais da organização
apoiassem publicamente e participassem organicamente da campanha de
candidatos ligados ao governo Lula da Silva, o que ocorreu em Alagoas,
Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Goiânia, Florianópolis, etc.
Destaque-se que todos os candidatos apoiados por membros de destaque
do PSOL foram implacavelmente ignorados pelo eleitorado.
Esse comportamento político inorgânico
terminou por registrar a existência, no interior do PSOL, no mínimo
de duas fortes orientações, de conteúdos opostos. Uma apontando
para espécie de refundação do PT, a partir de seus princípios,
objetivos e formas de organização iniciais, para ocupar o amplo espaço
eleitoral e social deixado por aquela agremiação. Esse segmento
defende o apoio no segundo turno a Raul Pont, em Porto Alegre,
Luizianne Lins, em Fortaleza, entre outras adesões eleitorais.
A outra orientação, em geral sem
expressão entre os quadros de destaque nacional do PSOL, propôs em
forma não centralizada, sobretudo em Porto Alegre, Rio de Janeiro, São
Paulo, o voto nacional de protesto - voto nulo, branco e nos partidos
classistas -, política para a qual evoluiu, em forma quase espontânea,
boa parte da vanguarda política e social no Brasil, com destaque para
o núcleo paulista capitaneado pelo ex-deputado Plínio de Arruda
Sampaio, pelo sindicalista de esquerda Waldemar Rossi, pelo economista
Arruda Sampaio Filho, etc. Em três de outubro, os eleitores que
votaram em branco, anularam o voto ou se abstiveram, somados,
superaram os vinte e quatro milhões. Oito milhões a mais de todos os
eleitores petistas!
Esse último segmento do PSOL propõe
política que negue o eleitoralismo, o desconhecimento da base pela
direção, a vida orgânica aleatória, o laxismo programático, etc.,
praticado já na fundação do PT, em 1980. Propõe que o PSOL centre
a luta no movimento anticapitalista e antiimperialista, servindo-se do
espaço eleitoral sobretudo como ferramenta para a formação de um
pequeno partido classista de massas.
(*) Mário Maestri, 56,
[maestri@via-rs.net] e Gilberto Calil, 31,
[gilbertocalil@uol.uol.com.br] são historiadores no Rio Grande do Sul
e do Paraná e militantes do PSOL.
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