Lulinha
paz e amor
Com
aprovação de Lula, Exército poderá reprimir os movimentos socais a
partir de março
Por
Garabombo
Centro
de Mídia Independente, 27/02/05
Aprovado
em novembro de 2004 pelo presidente Lula, parte do Exército atuará
nas ruas para reprimir os movimentos sociais. Nossas manifestações
receberão uma repressão muito maior.
Campinas
será cobaia
Para
aqueles que ainda acreditam que o governo Lula está ao lado dos
movimentos sociais, vai aqui algo que está sendo muito pouco
divulgado e discutido pela esquerda brasileira. No final do ano
passado Lula aprovou uma mudança na estrutura e na função de parte
do Exército brasileiro. Aproveitando as pressões da pequena
burguesia que exigiam a intervenção do Exército brasileiro para
acabar com o chamado crime organizado e a violência urbana, e
instaurando sua hipócrita paz, o governo criou uma brigada no exército
especialmente para reprimir os movimentos sociais.
A
primeira experiência está sendo feita na cidade de Campinas, onde a
11ª Brigada de Infantaria Blindada mudou seu nome para 11ª Brigada
de Infantaria Leve – garantia da Lei e da Ordem. Qual será seu objetivo? Atuar nas ruas quando os órgãos
repressores locais não forem capazes de manter a “lei e a ordem”.
Isso significa que manifestações radicalizadas como as que
aconteceram em Fortaleza e Florianópolis serão reprimidas pelo Exército.
Ocupações de pedágios ou fechamentos de rodovias, formas de
protestos de muitos setores do campo, também poderão ser rapidamente
dizimadas. Isto é muito sério e precisa ser denunciado.
A
escolha da cidade de Campinas foi estratégica
Além
de estar numa região de forte concentração urbana, próxima de São
Paulo e ter um dos principais aeroportos do Brasil, Campinas é hoje
uma importante região para o capitalismo brasileiro. Só a Região
Metropolitana de Campinas produz em média 6% do nosso PIB.
Os
movimentos sociais que atuam na região de Campinas com certeza serão
cobaias deste projeto que entra em vigor agora em março. Mas a
repressão não ficará aqui. Com o aeroporto será fácil o
deslocamento para qualquer região do país. A 11ª Brigada de
Infantaria Leve estará pronta para atuar em qualquer parte do país,
contra qualquer movimento.
Para
saber mais sobre isso leiam abaixo duas matérias que saíram no
jornal Correio Popular de Campinas e veja o decreto na integra
aprovado pelo Presidente Lula no ano passado.
Exército
prepara tropa para atuar nas ruas
Oficiais
de Campinas foram submetidos, ontem, a testes com gás lacrimogênio e
spray de pimenta
Por
Maria Teresa Costa
Da
Agência Anhangüera
Publicado
em Correio Popular, 24/02/05
Oficiais
e sargentos de carreira da 11ª Brigada de Infantaria Blindada
sentiram na pele, ontem, o que vai acontecer quando, para dispersar
uma manifestação, por exemplo, tiveram que utilizar gás lacrimogêneo.
Eles foram submetidos ao campo de ação do gás, como parte do
treinamento de emprego de tecnologia não-letal que passarão a
utilizar, a partir de 1º de março, na manutenção da ordem pública,
quando a Brigada Blindada será transformada em Brigada de Infantaria
Leve (BIL).
Além
do gás lacrimogêneo, sentiram também os efeitos de spray de pimenta,
que numa situação de embate próximo, é utilizado para atordoar, já
que o spray provoca ardência nos olhos e na pele incapacitando a
pessoa. Gás, spray, granadas, balas de borracha serão as novas armas
que os soldados que serão incorporados ao Exército nas unidades sob
o comando de Campinas, aprenderão a utilizar.
No
treinamento que está acontecendo na área do 28º Batalhão de
Infantaria Blindado (28º BIB), 20 oficiais e sargentos estão
aprendendo a utilizar os novos materiais, para retransmitirem aos
comandados as instruções. “Eles estão sentindo na pele os efeitos
que as novas munições causam. Assim, além de saber manusear
corretamente as tecnologias não-letais, serão criteriosos no emprego
nas situações em que forem necessárias”, diz Antonio Carlos
Magalhães, gerente comercial da Condor Munições Não-Letais, único
fabricante nacional desse tipo de armamento.
No
treinamento, aprenderam a utilizar a espingarda calibre 12 com balas
de borracha, que são eficientes, segundo o fabricante, na intimidação
contra indivíduos isolados ou em grupos, por meio do efeito
impactante dos projetis de borracha.
Usaram
também munições de emissão fumígena, que são projetadas para lançamento
manual ou por disparo de iniciação elétrica à distância: elas
emitem fumaças coloridas e de cortina de fumaça, para cobertura, em
deslocamento e treinamento de tropas ou defesa passiva de veículos
militares e policiais.
Um
dos militares que participou do treinamento ontem comentou que chega a
ser “desesperador” o contato com o gás lacrimogêneo. “Arde o
nariz, queima os olhos e tudo o que você quer é sair do meio do gás
imediatamente”, disse, achando interessante a experiência desse
contato.
A
partir de 1º de março, as unidades leves sob o comando da 11ª BIL,
passarão a atuar na contenção dos conflitos urbanos, agindo nas
situações onde os órgãos de segurança pública não conseguirem
atuar com sucesso. A Brigada foi escolhida para atuar nas ruas em função
da localização de Campinas que permite rápido deslocamento da tropa
por avião (Aeroporto de Viracopos), pelas rodovias que cortam a
cidade e por ferrovia.
Blindados
começam a deixar Campinas
A
partir de 1º de março, com a chegada de novos recrutas, unidade vai
se tornar, de fato, de infantaria leve
Por
Maria Teresa Costa
Da
Agência Anhangüera
Correio
Popular, 23/02/05
Os
pesados blindados M-113 já estão enfileirados em um galpão, prontos
para serem embarcados para o Rio Grande do Sul. Mais de 100 deles
deixarão Campinas até a próxima quarta-feira, data em que a mais
potente peça de manobra na área do Comando Militar do Sudeste, por
seu poder de fogo e blindagem de seus carros de combate, começa a
atuar em casos de distúrbios em grandes centros urbanos ou de
problemas de segurança pública.
A
partir de 1º de março, quando os 1,2 mil novos recrutas serão
incorporados, a 11ª Brigada de Infantaria Blindada se transforma, de
fato, em 11ª Brigada de Infantaria Leve. A oficialização da mudança
aconteceu em novembro, por decreto do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
Os
novos soldados (628 deles servirão o Exército nas unidades baseadas
em Campinas), além da missão de defesa da soberania nacional, serão
treinados, adicionalmente, para o emprego em missões de garantia da
lei e da ordem. Ou seja, para ser empregada em conflitos como os que
aconteceram no Rio de Janeiro, quando o Exército foi chamado para
atuar na guerra estabelecida na favela da Rocinha, ou nos conflitos
que aconteceram em Belo Horizonte e Recife e mais recentemente no Pará.
Os
blindados de outras unidades, como os Leopard’s baseados em
Pirassununga, já começaram a travessia rumo ao Sul do País. A força
militar da Brigada local será transferida para unidades em Ponta
Grossa (Paraná) e em Santa Maria (Rio Grande do Sul).
A
mudança vai incluir a transferência dos M-113 (blindados de
transporte de tropa), os M-108 (obuseiros autopropulsados) e os
Leopard A1 (blindado que possui um canhão com calibre de 105 mm,
dispositivo de estabilização da torre, controle de tiro
computadorizado, telêmetro laser e optrônicos em geral).
Durante
esta semana, 20 oficiais e sargentos de carreira estão fazendo um estágio
de emprego de tecnologia não-letal, que está sendo ministrado por
especialistas nesse tipo de armamento da empresa Condor S.A. Indústria
Química. Essa empresa é líder e pioneira, na América Latina, na
fabricação de Equipamentos Não-Letais e Pirotécnicos de alta
tecnologia para situações de distúrbios, sinalização militar e
salvatagem (resgate). É a quarta empresa exportadora no ramo de
defesa, conforme o gerente comercial da Condor, Antônio Carlos Magalhães.
O
Exército adquiriu todo o material não-letal daquela empresa, única
fabricante nacional desse tipo de equipamentos. No final do ano, o
Ministério da Defesa suplementou a dotação da organização militar
em R$ 4 milhões, liberou mais R$ 2 milhões no início do ano e até
o final de 2005 deverá liberar mais R$ 54 milhões para a troca dos
pesados blindados por equipamentos leves.
O
oficial de operações do comando da 11ª Brigada, major Otavio
Rodrigues de Miranda Filho, contou que já foram adquiridos materiais
de proteção individual, como coletes, capacetes, escudos, armamento
de baixo calibre, máscaras contra gás, balas de borracha.
Granadas
de luz e som, gás lacrimogêneo, de pimenta, lançadores de granadas
também foram adquiridos. A força militar está deixando os fuzis
7.62 Falcon e migrando para calibre menor, 5.56.
A
formação dos novos soldados, a partir de março, implicará em mudança
de mentalidade dos recrutas. Conforme o major Miranda Filho, eles
aprenderão não mais a ter espírito de ir para a guerra e tirar
vida. “Agora irão aprender a poupar vida, a garantir a lei e a
ordem, a negociar” , comenta. Os oficiais e sargentos que estão
passando por treinamento essa semana se encarregarão do treinamento
dos novos recrutas e partir de março.
Uniformes
também passam por reformulação
Os
uniformes dos militares da nova 11ª Brigada de Infantaria Leve vão
mudar: no lugar do uniforme de serviço, entra o modelo de combate,
com diferente gandola (camisa). Soldados e oficiais passarão a usar
um modelo de gandola mais comprido, como um jaquetão, vestido para
fora da calça. A estamparia continuará sendo a camuflada.
A
boina também vai mudar, mas ainda não foi escolhida (cada organização
militar tem boina de uma cor). Também passarão a usar, nas operações,
capacetes com viseira à prova de bala, escudos e coletes.
Na
preparação para a guerra na defesa da soberania nacional e para a
guerra urbana, os militares também usarão caminhões, motocicletas (haverá
um pelotão), veículos off-road como os Land Rover que ainda serão
adquiridos em uma segunda licitação a ser aberta.
O
emprego dessa força em conflitos de rua irá acontecer quando ficar
constatada a impossibilidade da preservação da lei e da ordem pelos
órgãos de segurança pública (polícia federal, polícia rodoviária
federal, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias
militares e corpos de bombeiros).
Com
a reestruturação, os meios blindados serão transferidos para o Sul,
aproveitando as instalações existentes e a sede do Comando, que
ficará em Campinas. Com
a mudança, haverá necessidade de compatibilizar o efetivo, mas isso
ainda não foi divulgado de quanto será.
Decreto
nº 5.261, de 3 de novembro de 2004
Dispõe
sobre a 11ª Brigada de Infantaria Blindada, a 5ª Brigada de
Cavalaria Blindada e a 5ª Brigada de Infantaria Blindada e dá outras
providências.
O
Presidente da República, no uso da atribuição que lhe confere o
art. 84, inciso VI, alínea "a", da Constituição, Decreta:
Art.
1º A 11ª Brigada de Infantaria Blindada, com sede na cidade de
Campinas-SP, fica transformada em 11ª Brigada de Infantaria Leve -
Garantia da Lei e da Ordem, permanecendo subordinada à 2ª Divisão
de Exército.
Art.
2º Fica extinta a 5ª Brigada de Cavalaria Blindada, com sede na
cidade do Rio de Janeiro-RJ.
Art.
3º A 5ª Brigada de Infantaria Blindada, com sede na cidade de Ponta
Grossa-PR, fica transformada em 5ª Brigada de Cavalaria Blindada,
permanecendo subordinada à 5ª Região Militar e 5ª Divisão de Exército.
Art.
4º Cabe ao Comandante do Exército fixar a data de implementação
das medidas de que tratam os arts 1º, 2º e 3º e baixar os atos
complementares necessários à execução do disposto neste Decreto.
Art.
5º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Art.
6º Ficam revogados os dispositivos do art. 2º do Decreto Reservado nº
1, de 11 de novembro de 1971, que tratam da 11ª Brigada de Infantaria
Blindada, da 5ª Brigada de Cavalaria Blindada e da 5ª Brigada de
Infantaria Blindada.
Brasília,
3 de novembro de 2004; 183º da Independência e 116º da República.
Luiz
Inácio Lula da Silva
José
Viegas Filho
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