Nota
dos Parlamentares do PSoL
Governo
e Congresso sob suspeita
Brasília,
08/06/05
O
governo Lula e o Congresso Nacional enfrentam uma gravíssima crise de
legitimidade política e ética provocada por sucessivas denúncias de
corrupção envolvendo o Executivo, o PT e outros partidos da coalizão
governista.
A
indignação nacional diante das repugnantes denúncias reflete a
frustração da maioria do povo brasileiro, que viu o prometido
governo das transformações democráticas e populares resumir–se à
farsa continuísta de um grotesco neoliberalismo radicalizado,
enquanto a cidadela da ética petista sucumbiu ao tradicional mar de
lama do "toma lá, dá cá".
O
P–SOL reafirma que a corrupção disseminada no governo Lula é um
subproduto inevitável da opção política feita pela direção do PT
e pela cúpula do governo federal. Ao aprofundar as políticas econômicas
de seus antecessores, como o governo FHC, sacrificando ainda mais os
trabalhadores para favorecer a agiotagem nacional e internacional, o
governo Lula decidiu entrar em rota de colisão com sua base social e
histórica, como os servidores públicos, a juventude, a população
pobre do nosso país, sem–terras, sem–teto e demais trabalhadores.
Para enfrentar a resistência da população contra seu governo
antipopular, Lula e o PT transformaram em novos aliados partidos como
PP, PL, PTB, PMDB, capitaneados por um grupo de conhecidos inimigos do
povo. Com esses novos aliados, o governo do PT aprovou a reforma da
Previdência, os transgênicos, a nova lei de falências e muitas
outras medidas contra a maioria da população. A aliança com mercenários
políticos só pode acontecer sobre um sujo balcão de negócios, em
que a apropriação indébita de recursos públicos é condição
indispensável. Assim, mais uma vez fica provado que PT e PSDB são
irmãos siameses, farinha do mesmo saco, com seus líderes tratando
apenas de disputar o poder para ver quem comanda o aparelho estatal
– e de receber os privilégio, engordar suas contas bancárias ou
desenvolver suas carreiras políticas.
É
nesse contexto que a denúncia feita pelo deputado federal Roberto
Jefferson (PTB/RJ), de que o PT, através de seu tesoureiro nacional
Delúbio Soares, pagaria mensalmente um salário paralelo a deputados
federais do PL e do PP, soma–se à operação abafa da CPI dos
Bingos e do caso Waldomiro Diniz, ao melancólico desfecho da CPI do
BANESTADO, à concessão de status de ministro que o presidente Lula
concedeu a Henrique Meireles, presidente do Banco Central, tentando
poupá–lo de investigação por crime fiscal. Somam–se também as
denúncias contra o ministro da Previdência Romero Jucá e as denúncias
de corrupção nos Correios.
Em
todos estes casos, o governo Lula, o PT e os partidos aliados agiram
vergonhosamente buscando impedir qualquer investigação,
institucionalizando o famoso 'toma–lá–dá–cá'. Sua obstinação
em abafar tais escândalos tem vitimado quadros do próprio PT, que
resistem ao processo de degeneração do partido. Em diversos Estados,
deputados federais do PT assinaram o pedido de abertura da CPI dos
Correios. O P–SOL solidariza–se com a postura destes parlamentares
nesse episódio, conclamando–os a manter uma posição firme pela
apuração verdadeira de todas as denúncias de corrupção.
A
denúncia de mesada aos deputados relatada por Jefferson transformou–se
num escândalo de proporções gigantescas exalando, em Brasília, o
cheiro da podridão característica de um regime no qual banqueiros,
latifundiários e grandes empresários compram mandatos, impõem uma
ordem jurídica que garante total impunidade para seus crimes e,
quando necessário, lançam mão dos aparatos militares para massacrar
os movimentos sociais e garantir seus privilégios.
Tanto
a Presidência da República quanto o Congresso Nacional estão sob
suspeita. Afinal, durante 2003, quando votaram a reforma da previdência
e outras medidas de interesse dos banqueiros, quantos parlamentares
foram pagos para votar como votaram? Todas as votações, em sua
esmagadora maioria contrárias aos interesses do povo, foram aprovadas
com a suspeita evidente de compra de votos.
A
nota emitida pela cúpula do PT é patética: diz que a relação com
os aliados se dá por "pressupostos políticos e programáticos".
Pressupostos políticos e programáticos com o PTB de Jefferson,
apoiador de FHC e tropa de choque do Collor, que votou contra o
impeachment? Com o PP, herdeiro da ditadura, partido de Maluf, que
dispensa adjetivos, e de Pedro Correia, que conseguiu ver abafada a
acusação de pertencer à máfia dos combustíveis, aliás, com a
ajuda do PT? É com estes partidos que o PT tem pressupostos políticos
e programáticos?
Após
a gigantesca pressão popular e a gritante desmoralização de mais
uma operação abafa, a bancada do PT anuncia que não teve outra
alternativa e anunciou seu "apoio condicionado" à CPI.
Mudaram de tática tentando atingir o mesmo objetivo: que nada seja
apurado, que tudo termine em pizza.
A
única forma de conseguir que a CPI tenha eficácia é a mobilização
popular. O P–SOL, através do conjunto de sua militância, e de suas
bancadas na Câmara Federal e no Senado, tem exigido que todas as denúncias
sejam profundamente apuradas, com a punição dos comprovadamente
envolvidos e o ressarcimento aos cofres públicos. Nossa postura, no
entanto, diferencia–se daquela observada em partidos como o PSDB e o
PFL, que não têm as mínimas condições morais e políticas de
criticar a corrupção no atual governo; vide seus históricos de
protagonistas em governos corruptos.
O
P–SOL se soma à sociedade em sua indignação contra este estado de
coisas. E não é só a corrupção aparentemente generalizada neste
governo que nos causa indignação, mas a sua política econômica
servil aos interesses do capital e sua disposição, cada dia maior,
de atacar os direitos e conquistas da maioria da população.
Ao
mesmo tempo, quando exigimos a CPI, somos conscientes de que há
lideranças honestas no PT. Mas é evidente que este partido se
transformou no seu contrário. E com isso se reforça a imagem de que
todos os políticos são iguais, que ninguém presta mesmo, são todos
corruptos. Mas não é verdade! Existe, sim, outra forma de fazer política,
refletindo um conteúdo diferente, de transparência, ética,
ideologia, compromisso com os trabalhadores e com o povo. Este conteúdo
repudia a política como um negócio, como uma negociata, onde se
compram e vendem almas. Os parlamentares do P–SOL, que não estão
sob suspeita, dão um exemplo ao abrir mão de seus sigilos bancário,
fiscal e telefônico, chamando todos a fazer o mesmo.
É
urgente e necessário impulsar um grande movimento nacional de luta
pela apuração e punição de corruptos e corruptores, para impedir
que mais esta CPI acabe em pizza! O P–SOL se coloca a disposição
para construir este processo de mobilização, e propõe uma reunião
de emergência, com os dirigentes sindicais e partidos, movimentos
sociais, estudantis, lideranças e personalidades democráticas, para
debatermos uma proposta de mobilização unitária que garanta a
investigação até as ultimas conseqüências e a punição dos
culpados.
Senadora
Heloísa Helena (PSOL/AL)
Senador
Geraldo Mesquita (PSOL/AC)
Deputada
Luciana Genro (PSOL/RS)
Deputado
Federal Babá (PSOL/PA)
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