Para
onde vai o país?
Por
Eduardo Almeida Neto
da
Direção Nacional do PSTU, Opinião Socialista, 16/06/05
Existem
enormes dúvidas em todos os setores do movimento de massas sobre os
rumos do governo Lula e quais são as alternativas. O governo está
paralisado, grogue, nas cordas, sob uma saraivada de denúncias de
corrupção. Exemplos da América Latina, como as derrubadas de
governos no Equador e na Bolívia, surgem de imediato nas discussões
e todos se perguntam: a situação brasileira vai evoluir para algo
semelhante? Lutar contra a corrupção no governo implica em fazer uma
frente com a oposição burguesa, tão ou mais corrupta que Lula?
Perante a crise do PT e da CUT, quais são as alternativas?
O
governo está paralisado, em crise. Sofreu um golpe do qual talvez
nunca se recupere. As denúncias de corrupção amontoam-se, dia após
dia. A credibilidade política do governo desabou, e o pesadelo do PT
não parece ter um fim próximo. Aparentemente ainda existe um arsenal
grande de denúncias.
O governo poderá
cair?
Delúbio
Soares, o PC Farias do governo Lula, e suas conexões explosivas com
as estatais e os esquemas de corrupção começam a serem
investigados. As investigações podem alcançar também Luís
Gushiken e suas relações com os Fundos de Pensões. A morte de Celso
Daniel poderá voltar aos noticiários.
Assim,
existiria munição suficiente para que uma CPI aprofundasse as
investigações até o ponto em que um impeachment (como de Collor)
estivesse colocado em pauta. No entanto, como veremos, não é essa a
intenção da oposição burguesa (PSDB e PFL).
As
denúncias tiveram impacto entre os trabalhadores e a juventude. As
expectativas em torno de Lula já estavam abaladas por dois anos de
aplicação do plano neoliberal. Os escândalos de corrupção foram a
gota d’água, que fizeram transbordar o copo, levando a uma ampla
ruptura pela base com o governo. Os índices de popularidade do
governo (35% de ótimo e bom) ainda estão longe dos níveis de repúdio
alcançados por Collor, na época do movimento Fora Collor. Isso, porém,
é circunstancial. Devemos acompanhar com atenção a evolução do
processo, a continuidade das denúncias e a crise econômica.
Uma
coisa é certa: o PT nunca mais será o mesmo. Há tempos perdeu
qualquer vestígio do partido que surgiu das greves, transformando-se
em um partido do regime. Deixou também de ser um partido identificado
com a oposição ao neoliberalismo, aplicando todo receituário do
FMI. Agora nunca mais poderá posar de “partido da ética”. É um
golpe muito sério, que vai ter desdobramentos profundos – ainda não
totalmente claros – pela dimensão da ruptura em suas bases.
Existem
outras péssimas notícias para o governo. A economia dá claros
sinais de estancamento, o que pode tirar do governo o seu mais
precioso trunfo de marketing. Por outro lado, existem lutas, neste
momento, como a greve dos previdenciários e a mobilização popular
de Florianópolis, que demonstram uma enorme combatividade e
radicalização. É possível que ocorram lutas sindicais e populares
de maior porte no segundo semestre.
Um
cenário que combinasse crise política, crise econômica e ascenso de
massas poderia evoluir para uma situação como a da Bolívia ou do
Equador. Isto é tudo o que o PT e a oposição burguesa não querem.
O jogo duplo da
oposição burguesa
O
PSDB e o PFL querem retomar o governo nas eleições de 2006. Viram
nas denúncias de corrupção uma arma para enfraquecer eleitoralmente
Lula, mas não têm a menor intenção de derrubá-lo.
O
PT é muito importante para a burguesia por dois motivos: 1) É quem
implementa o plano econômico do FMI; 2) É o principal sustentáculo
do regime democrático burguês.
Hoje
existe um enorme desprestígio de todas as instituições do regime,
incluindo os partidos da oposição burguesa. Quem capitalizaria hoje
um movimento semelhante ao que foi o Fora Collor? Seguramente não
seria a oposição burguesa, cujos partidos seriam vaiados em qualquer
manifestação popular.
Por
esse motivo, tanto o PSDB como o PFL vão querer dosar as investigações
para que não respinguem também neles (afinal boa parte desses
esquemas foram montados nos governos anteriores), e evitar chegar a um
pedido de impeachment do governo.
A
possibilidade de derrubada do governo só poderia ocorrer, então, no
caso em que o movimento de massas entrasse em cena, com grandes
mobilizações, semelhantes as que ocorreram na Bolívia. Mas aí
entra em jogo o papel da CUT, UNE e de suas direções sindicais. Não
por acaso essas direções saíram em defesa do governo contras as denúncias
de corrupção, porque estão diretamente envolvidas no usufruto das
verbas do Estado. A CUT e a UNE são os pontos de apoio do PT para
evitar o surgimento de grandes lutas, assim como de um movimento
diretamente contra o governo. O sonho do governo é que a CUT e a UNE
possam atuar para bloquear crises, como o próprio PT atuou em 99 para
evitar o movimento Fora FHC.
Caso
não surja um movimento com essas dimensões, é possível que o
governo se arraste até as eleições de 2006, muito enfraquecido,
como Sarney ao final de seu mandato.
Governo
instaura CPI chapa branca
Por
Diego Cruz e Jeferson Choma
Opinião
Socialista, 15/06/05
O
governo Lula deu mais um passo em sua estratégia de controlar a CPI
dos Correios. Na sessão dessa quarta-feira, dia 15, o governo e a
base aliada impuseram os nomes do presidente e do relator da Comissão
Parlamentar de Inquérito.
Tradicionalmente,
os dois cargos mais importantes de uma CPI são repartidos entre
governo e oposição. No entanto, o governo Lula, já bastante
fragilizado por causa das denúncias do “mensalão”, resolveu
“passar o rodo” e eleger os parlamentares que irão coordenar a
CPI. O governo teme que a CPI dos Correios traga a tona casos de
corrupção em outros órgãos e estatais. Diariamente aparecem denúncias
de corrupção na direção das empresas estatais em função do
loteamento dos cargos entre os partidos aliados.
CPI chapa branca
Não
tendo acordo com a oposição de direita, o senador Aloísio
Mercadante (PT) jogou a escolha dos nomes para o voto secreto. Tendo a
maioria dos parlamentares na CPI, o governo previa que seus candidatos
para presidente e relator ganhariam com 19 votos contra 13. Porém, o
resultado final contabilizou 17 votos a favor do governo contra 15 da
oposição, revelando duas “traições”.
Mesmo
assim o governo conseguiu ter total controle da CPI. O presidente será
o senador petista Delcídio Amaral (MT) e o relatoria ficará a cargo
do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Amaral já ocupou cargos na
direção da Petrobras, sendo acusado de utilizar R$ 22 milhões da
estatal para financiar sua campanha eleitoral. Já Serraglio teve seus
direitos políticos cassados por ter suas viagens financiadas pelo
prefeito de Foz do Iguaçu, entre 1997 e 1998.
A
oposição de direita contra-atacou protocolando nesta quarta-feira o
requerimento para instalação da CPI do “mensalão” – mesadas
dadas pelo PT a parlamentares da base aliada.
CUT e UNE: uma
vergonha nacional
Enquanto
deputados, governo e a oposição burguesa chafurdam dia após dia num
verdadeiro dilúvio de corrupção, a CUT e UNE cumprem papéis dos
mais lamentáveis.
Nessa
quarta-feira, 15, a CUT divulgou “Barrar o golpe midiático:
Movimentos sociais vão às ruas “contra o golpismo e a corrupção”.
No conteúdo do texto, a central procura desqualificar os escândalos
de corrupção afirmando que “as ‘denúncias’ lançadas pelo
deputado Roberto Jefferson visam colocar o governo na defensiva, para
melhor isolar e derrotar o projeto de mudanças para o qual foi eleito”.
A desconfiança em relação a Jefferson é correta, afinal ele foi
integrante da tropa de choque de Collor e acumula uma farta lista de
corrupção. No entanto, Jefferson só existe politicamente graças
aos governos do PSDB e do PT. Aliás, se ainda continuava roubando foi
porque o PT deixou. Lula chegou a chamá-lo de parceiro e a dizer que
“daria um cheque em branco” ao petebista no auge das denúncias
contra ele. Já a mudança da qual o documento fala soa como uma piada
de mau gosto. Além de aprofundar a política econômica neoliberal, o
governo do PT perdeu a última coisa que ainda o diferenciava dos
governos anteriores: a dita “ética na política”. O
“desencanto” com o PT aprofunda a crise da democracia burguesa e
produz um legítimo sentimento na população do tipo “que se vayam
todos” visto em muitos países da América Latina.
O
que CUT e UNE tentam fazer é, na verdade, confundir para defender o
governo, pois recebem dinheiro do aparato do Estado. Por isso guardam
um silêncio sepulcral sobre a exigência ou não de uma CPI. Também
cumprem um papel de primeira linha ao estacar toda e qualquer mobilização
social contra a corrupção e os ataques promovidos pelo governo
contra os trabalhadores. Um papel vergonhoso e repugnante.
Ao contrário da CUT, a Conlutas (Coordenação
Nacional de Lutas) está chamando um grande marcha em Brasília contra
a corrupção e contra as reformas neoliberais, como a Sindical e
Universitária. Essa mobilização se apóia nos exemplos dos atos dos
trabalhadores dos Correios que hoje, em várias cidades do país,
lavaram as escadarias da empresa contra a corrupção.
Nenhuma confiança
no Congresso de picaretas
A
definição dos principais cargos da CPI dos Correios encerra o
primeiro ato da ópera bufa da democracia dos ricos e poderosos. Um
espetáculo que promete muito mais cenas de tragicomédia, como a de
ontem, quando o picareta Jefferson chegou a dar lições de moral a
outros picaretas como ele. Um Congresso de picaretas, liderados por
Severino Cavalcanti, que já não poderia apurar até o fim o escândalo
“mensalão”, agora, tendo a frente dois governistas, que, diga-se
de passagem, também são dois picaretas, torna essa missão quase
impossível. Os deputados que integram as CPIs só investigam alguma
coisa quando sentem-se pressionados por uma forte mobilização
popular. A história recente do país comprova essa tese. Foi assim
com a CPI que investigou o esquema PC Farias. De outro modo, veremos
mais uma denúncia de corrupção acabar em pizza.
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