Fora
Lula!
Por
Mário Maestri (*)
Porto
Alegre, 21/06/05
A
denúncia da compra mensal do apoio de deputados para iniciativas
parlamentares do governo Lula da Silva não é mero salto de qualidade
na tradicional corrupção da gestão pública no Brasil. Ou passo
radical na metamorfose conservadora sofrida pelo Partido dos
Trabalhadores. Sobretudo, não constitui agravamento da orientação
direitista empreendida pelo presidente da República após as eleições
de 2002, como vem sendo proposto.
A
corrupção crescente da vida política nacional é fenômeno
estrutural, que nasce e se apóia nas violentas condições de exploração
da sociedade brasileira. Ela apenas se agravou em forma crítica com a
hegemonia neoliberal que se estabeleceu sobre o país após a vitória
de Collor de Mello. A crescente rendição do núcleo petista hegemônico
diante do capital não é também sucesso recente. Em verdade, ela já
se consolidara há bem mais de uma década.
Não
quiseram ouvir
Sobretudo,
o fato denunciado não constitui mais um rodopio, ladeira abaixo, na
traição de Lula da Silva e do PT do programa eleitoral de 2002. A
bem da verdade, essa traição constitui uma invenção. Nos meses que
antecederam à eleição presidencial, Lula da Silva e o núcleo
dirigente petista venderam publicamente as almas ao grande capital
financeiro, passando recibo, em público, através da chamada Carta ao
Povo Brasileiro. Ao encastelar-se no governo, apenas cumpriram o que
haviam prometido fazer. [MAESTRI, Mário. “Lula vai fazer o que
disse”. La Insignia, 18 de dezembro de 2002. www.lainsignia.org]
Não
há pior surdo do que o que não quer ouvir. A reforma neoliberal da
Previdência Pública; o
apoio irrestrito às exportações; os cortes draconianos dos gastos públicos
e sociais; o pagamento incondicional da dívida externa e interna
foram maldades anunciadas e prometidas, a alta voz, durante a campanha
presidencial, às quais a quase totalidade das forças políticas e
sociais de esquerda fez ouvidos de mercador, para conclamar a população
a votar no primeiro ou no segundo turno em Lula da Silva. Já nesse
então, era pra lá de claro que Lula da Silva e PT haviam abandonado
as cores dos trabalhadores pelas mais remunerativas do grande capital.
[MAESTRI, Mário. “O espectro do voto nulo”. La Insignia, 12 de
agosto de 2002, www.lainsignia.org]
Ruptura
da institucionalidade
A
gravidade incontornável dos atuais sucessos está no modo em que o
governo Lula da Silva implementou seu programa. Caso se comprovar, a
compra sistemática de parlamentares, como meio de constituição da
base parlamentar de apoio, constitui ação gravíssima. Nos fatos,
ela sustenta, em vício institucional constitutivo, os graves atos
empreendidos pelo governo contra os interesses populares, como a
aprovação da reforma da Previdência Pública; a política de
remuneração extremada do capital financeiro; os cortes nos
investimentos públicos e sociais; o violento arrocho salarial do
funcionalismo público e dos trabalhadores nacionais; a transferência
monumental de riquezas nacionais para o grande capital internacional.
Destaque-se
que pouco importa se, comprovado, tal processo foi feito sob as ordens
diretas do presidente ou foi essencialmente iniciativa empreendida
pelo núcleo central do governo. Sobretudo porque o próprio Planalto
já reconheceu que tal ato foi denunciado ao presidente, que não
empreendeu qualquer ação efetiva para elucidar os sucessos e
reprimir os responsáveis, caso se comprovassem. Uma ação compreensível,
já que o presidente, o governo petista e os grandes interesses econômicos
constituíam os grandes beneficiários da proposta corrupção
parlamentar.
Todos
os democratas brasileiros, com destaque para a população
trabalhadora, devem se mobilizar pelo esclarecimento radical das denúncias
de compra sistemática de parlamentares, realizada através do alto
comando petista e, no caso de sua comprovação, exigir o imediato e
inarredável afastamento do atual mandatário da República, com a
responsabilização penal de todos os responsáveis por esse golpe
inqualificável aos direitos políticos e sociais da população
nacional.
(*)
Mário Maestri, 57, é historiador. E-mail: maestri@via-rs.net
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