Réquiem
de um governo sem rosto
(*)
Por
Rudá Ricci (**)
Revista
Espaço Acadêmico N° 51, Agosto 2005
O
governo Lula vive, independente do desfecho de todas CPIs instaladas
no Congresso Nacional, o seu ocaso. Ocaso enquanto projeto político.
Max Weber elaborou uma teoria das relações sociais e políticas que
conforma os tipos de dominação legítima entre líderes e liderados.
Um governo entra em crise de legitimidade quando o fundamento que
sustenta seu poder é abalado. Assim, um governo pode ser atacado por
diversos motivos sem que perca sua credibilidade ou popularidade,
desde que não afete o núcleo de sua legitimação, ou seja, os
fatores que geram empatia entre líder e liderado. Com base nesta
teoria, é possível forjar um exercício para compreendermos a base
de sustentação e legitimação do governo Lula.
Este
governo sustenta–se socialmente em três compromissos: a ética na
condução de seus atos, o compromisso com a promoção da justiça
social e a ampla participação e transparência no processo decisório.
Este é o legado petista e a marca de Lula enquanto líder de massas
excluídas do país. Assim, em termos weberianos, acordos políticos não
coerentes com a concepção ideológica ou mesmo discursos pouco
afinados com o jargão de esquerda não afetariam os pilares de
legitimidade da gestão Lula. Em contraposição, qualquer deslize em
relação à ética, promoção da justiça social e participação
popular na gestão, afetaria sobremaneira a aceitação e identidade
da base eleitoral do governo federal. E é justamente este núcleo de
legitimação que se encontra profundamente abalado.
O
que interessa para o tema deste texto – compreender a origem e
fatores que levam à atual crise de legitimidade e suas conseqüências
políticas à curto prazo – é compreender os elementos que
historicamente definiram a contradição que surpreende o eleitorado
petista (ou, mais concretamente, o eleitorado lulista). Historicamente
porque a atual crise foi anunciada ao longo da última década,
contaminando e transformando internamente a organização e identidade
interna do corpo dirigente do PT, a despeito de sua base social não
acompanhar ou compreender as mudanças que se operavam no interior da
administração política do partido. Em outras palavras, a crise
atual é apenas a expressão pública do que já enredava na cúpula
dirigente petista. Uma espécie de “ovo de serpente”.
Dois
fatores estruturais concorreram para a surda mudança de perspectiva:
a “americanização” do PT e a ausência de um projeto político
estruturado nos movimentos sociais e organizações populares que
sustentaram a massificação do PT desde seus primórdios.
O
primeiro fator, a americanização do PT, foi constituído ao longo da
década de 90 e forjou–se na aproximação (lenta, é verdade) entre
segmentos das direções sindicais bancária e metalúrgica e a
estrutura burocrática partidária arquitetada por uma corrente
interna liderada por José Dirceu. A hipótese aqui sugerida é que
uma direção específica construiu um partido dentro do partido,
revelando–se um segmento social auto–referente, com ideário político
específico que foi paulatinamente se distanciando do ideário
original do petismo.
Vejamos
os elementos constituintes deste processo de americanização.
Uma
parcela do sindicalismo paulista de bancários e metalúrgicos esboçou,
ao longo dos anos 90, uma estrutura de controle político interno e de
captação de recursos externos que os consolidou como dirigentes de
destaque no interior da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Em
termos programáticos, este setor dirigente da CUT compôs um ideário
pragmático que dirigiu–se para o que teoricamente foi denominado de
neo–corporativismo. O conceito de neo–corporativismo sugere que as
organizações sindicais assumem uma pauta que articula os interesses
corporativos da categoria que representa com a agenda nacional, o que
acaba por lhes garantir ampla participação em câmaras de negociação
e elaboração da pauta de políticas públicas, no interior do
Estado. Câmaras setoriais, participação em fóruns nacionais de
elaboração e monitoramento de políticas sociais, participação em
agências de controle e regulação de competição de mercado são
algumas das iniciativas que compreendem este novo tipo de atuação
sindical. Há uma nítida relação entre a esfera estatal e a esfera
de representação sindical. No caso da CUT, alguns setores sindicais
já citados assumem esta concepção ideológica e passam a articular
uma estrutura de controle político interno, identificando e apoiando
direções sindicais que possam convergir para os mesmos interesses e
intenções políticas. Paralelamente, uma poderosa estrutura de formação
sindical é constituída, envolvendo escolas sindicais em várias regiões
do país que operam com programas permanentes, de caráter nacional,
pautados pela mesma orientação neo–corporativa. Controle,
pragmatismo político e inserção no processo decisório do Estado são
elementos constitutivos desta agenda sindical.
De
outro lado, embora inicialmente eqüidistante politicamente, no
interior da seção paulista do PT, e no seu início alojada na
Secretaria de Organização do Diretório Estadual do partido, emerge
uma eficiente estrutura de controle político que terá como resultado
a fundação da estrutura burocrática partidária mais coesa e
profissional do país. O mentor desta burocracia partidária –
incluindo corpo administrativo, rotinas, normas internas, sistemas de
controle e comunicação e definição de agenda política – é José
Dirceu. É possível estabelecer relações históricas com o modus
operandi da política castrista, em que o aparelho político partidário
é altamente controlado pela cúpula dirigente, estabelecendo uma
rotina de auto–promoção e auto–legitimação. É possível,
ainda, avançar nesta hipótese de interpretação, vislumbrando a
também concepção originária desta corrente da esquerda marxista
latino–americana em que se confunde Estado, governo e partido.
Trata–se de uma subcorrente partidária, uma corrente dentro de uma
outra corrente, não muito visível à grande militância partidária.
A
partir de meados dos anos 90, a filiação da CUT à Central
Internacional do Sindicalismo Livre (CIOLS) e a candidatura de Lula à
Presidência da República aproximarão a corrente neo–corporativa
cutista à corrente castrista inserida na direção paulista do PT. E
é daqui que nasce uma poderosa estrutura burocrática e profissional
de direção de uma eficiente máquina eleitoral, absolutamente pragmática
e marcada por uma orientação etapista (que supõe etapas
determinadas de avanço da luta de classes definida por um jogo tático
de alianças pontuais que consolidam e legitimam a vanguarda dirigente
de esquerda e, paulatinamente, amplia espaços e conquistas políticas
na direção da transformação da agenda nacional e estatal). O PT, a
partir de então, assume um ideário (ao menos no que diz respeito à
sua direção, agora tomada pela proposição da seção paulista
liderada por José Dirceu) muito próximo do proposto pelo PCB até a
origem do PT e que, ironicamente, foi refutado explicitamente no
manifesto de fundação do Partido dos Trabalhadores.
Entretanto,
a fusão dessas duas correntes gerou uma atualização do ideário
comunista clássico e, na prática, engendrou uma estrutura partidária
extremamente moderna, tecnologicamente bem aparelhada, controlada
politicamente com muita eficiência e voltada para a conquista
eleitoral. Em suma, a nova direção petista adotou o modelo
norte–americano de organização partidária como modelo. O PT
tornou–se, assim, desde 1994, num Partido–Empresa. Os elementos
que compõem este modelo são:
a)
burocracia partidária profissionalizada, permanente, voltada para o
controle do cotidiano partidário, identificação de correntes e
lideranças e apoio às candidaturas internas e externas do partido;
b)
lideranças voltadas para a construção de um amplo arco de alianças
políticas, em especial, lideranças institucionais, que garantam a
legitimação de uma agenda difusa e de alta popularidade (não
necessariamente de caráter popular, nem populista);
c)
elaboração de corpo técnico de elaboração do programa partidário,
subordinado aos profissionais do marketing eleitoral e ao movimento
das alianças partidárias construídas ao longo do tempo;
d)
subordinação da base social do partido à condução da agenda pela
burocracia e lideranças partidárias;
e)
foco nas eleições, aumentando a performance dos candidatos à
leitura de pesquisas qualitativas;
f)
profissionalização de cabos eleitorais e de estrategistas de
arregimentação e convencimento social;
g)
consolidação de um corpo de captação e administração de recursos
financeiros, que goza de grande autonomia, que fomenta toda estrutura
de campanha e controle político do partido, aproximando este braço
financeiro dos interesses privados que demonstram interesse em
financiar o partido.
O
espetáculo passa a ser a prática corrente do partido, no estilo
tradicionalmente operado pelo partido Democrata ou Republicano
norte–americanos.
Contudo,
um segundo fator impossibilitou uma reação ou contraposição ao
processo de burocratização no interior do partido. Seria possível
aventar a possibilidade de uma reação interna das correntes cujo
imaginário era diametralmente oposto ao que se esboçava. O segmento
social com maior pujança e força suficiente para movimentar obstáculos
poderosos à burocratização era aquele oriundo dos movimentos
sociais, em especial, vinculado direta ou indiretamente à Igreja
orientada pela Teologia da Libertação. Movimentos sociais urbanos
(como o de saúde, direitos da criança e adolescente, moradia, entre
outros) e rurais (luta pela terra, atingidos por barragens e tantos
outros de caráter regional, como as quebradeiras de côco de babaçu)
que mantém a energia moral original do partido (valorização da
democracia direta como método de tomada de decisão, imaginário anti–capitalista,
cultura da mobilização como mecanismo básico de reivindicação)
teriam capital cultural e político suficientes para realizarem uma
forte oposição à transformação interna que se operava. Tal oposição,
entretanto, não se realizou por dois motivos: muitos dos movimentos
sociais dos anos 80 haviam se transmutado em organizações, além da
ausência manifesta de um projeto político mais acabado. Trata–se
de dois movimentos internos e até mesmo contraditórios. De um lado,
a vitória de partidos de oposição conduziu aos órgãos
governamentais muitas lideranças e assessores de movimentos sociais.
De outro, a escassez de recursos financeiros externos jogou muitas
organizações não–governamentais num mercado altamente competitivo
de captação de fundos, muitas delas sendo obrigadas a vender serviços
ou mesmo assumir ações públicas em virtude dos contratos de
parceria amplamente disseminados na gestão FHC. O ambiente político,
desfavorável ao ideário socialista, contribuiu para que uma certa
estratégia de sobrevivência se espraiasse por movimentos sociais e
organizações populares, profissionalizando–as, diminuindo sua
capacidade de articulação e mobilização com o que seria sua base
social de atuação e representação.
Esta
mudança foi dramática na medida em que rompeu com um conjunto de
valores políticos fundado nas Comunidades Eclesiais de Base, que se
reproduziu em pastorais sociais e fundou grande parte dos movimentos
sociais nascidos nos anos 80: uma descrença em relação ao plano
institucional da política, a valorização do espaço de trabalho e
moradia como locais da ação política de base, a adoção de
mecanismos de democracia direta (assembléias e plenárias) como
processo democrático de tomada de decisões, o anti–capitalismo
como referência estratégica.
Assim,
a rápida institucionalização de muitos movimentos sociais acabou
por aprofundar uma certa despolitização de sua base social,
descolando as lutas cotidianas do trânsito das direções das
organizações sociais nas esferas da política institucional. Em
outras palavras, as direções de muitos movimentos sociais
acompanharam a dualidade de representação e atuação entre direção
e base social que se operava no PT. Em suma, o segmento social que
poderia frear a burocratização do partido enredou–se em um
processo que, se não similar, também marcado pela valorização e
deslocamento da cúpula dirigente do original sistema de legitimação
e representação.
Fatores
conjunturais da ruptura da identidade política
Os
fatores estruturais foram potencializados por uma série de
iniciativas governamentais que o desfiguraram ainda mais. É possível
listar os principais movimentos e rotinas políticas que constituíram
uma verdadeira ruptura da identidade original (ou mesmo tácita) do
governo de Lula:
a)
Centralização do processo decisório: a opção governamental chocou–se
com a expectativa generalizada da base social petista em relação aos
procedimentos de deliberação da condução da agenda de Estado. Lula
optou por centralizar suas decisões em poucos dirigentes partidários.
Muitas vezes, consultou dirigentes partidários de agremiações até
então adversárias (como o caso de Delfim Neto), mas raramente
envolveu lideranças de movimentos sociais ou organizações populares
em fóruns deliberativos formais ou consultas públicas;
b)
Pulverização da gestão: talvez este tenha sido o ato que resultou
no maior desastre de condução política do governo federal. Lula
procurou, desde o início, dividir para governar. Inicialmente,
envolveu a cúpula de governo, dividindo publicamente as duas áreas
de gestão definidas como mais importantes: a política – liderada
por José Dirceu – e a econômica – liderada por Antônio Palocci.
Ocorre que esta divisão de poderes acabou por permear quase todos
ministérios, em especial, por iniciativa de seguidores de José
Dirceu. Há evidentes sinais que muitos ministérios dividem–se
internamente e aderiram à uma das duas grandes facções de super–ministros.
Muitos novos ministros procuraram demonstrar, desde o início, a qual
facção se filiavam ou se aliavam, como no caso de Patrus Ananias que
visitou, no seu primeiro dia de trabalho, o ministro Palocci. A
pulverização da gestão envolveu operações de rearticulação das
correntes internas de outros partidos, tanto aliados como não
alinhados (como no caso da valorização explícita do governador Aécio
Neves, em detrimento da ala paulista do tucanato). O movimento mais
desastroso, contudo, envolveu a eleição de Severino Cavalcanti para
a Presidência da Câmara Federal. Manobras ousadas, que procuraram
minar a ascensão da candidatura de Virgílio Guimarães redundaram na
vitória de Severino, cuja marca é justamente a liderança de
parlamentares que buscam sua legitimação a partir da capacidade de
mediar obras e serviços federais para sua base eleitoral. Em outras
palavras, Severino aprofundou o varejo das negociações políticas
conduzidas pelo governo Lula. Ocorre que os deputados liderados por
Severino (que a grande imprensa calcula em 120 deputados), na medida
em que as eleições de 2006 se aproximam, exigem mais e mais que
obras de vulto sejam executadas pelo governo federal: hospitais,
melhoria da malha vicinal, escolas, e assim por diante. Mesmo no caso
da existência do “mensalão” a necessidade de reeleição ou
manutenção da força política regional exige a liberação de
verbas que superam benesses de cunho pessoal, já que envolvem obras públicas
de custo elevado. O “mensalão”, portanto, não entraria na
contabilidade política quanto mais as eleições se tornam próximas.
A eleição de Severino pulverizou de vez as negociações do governo
federal e gerou perda de controle político por parte do Palácio do
Planalto;
c)
Descolamento da base de sustentação política da base social de
legitimação: a base de sustentação política do governo federal,
basicamente limitada a um staff de poucos parlamentares e parte da
burocracia partidária petista, desconsiderou a base social petista ao
longo da construção da agenda de governo. Não houve manifestações
públicas significativas – marca original do petismo –,
envolvimento direto dos ministros com ações públicas de massa, adoção
de instrumentos de comunicação popular, valorização da cultura
popular ou da história das lutas sociais, valorização de experiências
de educação de base e tantos outros mecanismos que poderiam forjar
uma identidade direta entre o imaginário da base social petista com o
governo. Pelo contrário, a base social petista limitou–se à função
de espectadora do desenrolar das ações governamentais. Poucas
iniciativas que refutam tal argumento, como as audiências públicas
do Plano Plurianual federal ou Conferências das Cidades (ou ainda a
instalação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social) foram tão efêmeras, marginais ou controladas pelo governo
que não chegaram a empolgar qualquer liderança social;
d)
Mudança acelerada da concepção ideológica: a mudança de eixo da
matriz discursiva petista – de declaradamente utópica para
declaradamente pragmática – numa velocidade que beirou o
oportunismo político rompeu com a identidade partidária construída
ao longo de duas décadas. A mudança, vale reafirmar, foi projetada
por cima, pela cúpula partidária e o que parecia uma manobra tática
para a militância (de garantia da governabilidade da esquerda) foi se
revelando opção ou adesão a um ideário estranho ou, na melhor das
hipóteses, confuso e incompreensível.
As
ações táticas do governo federal desarticularam sua base social de
sustentação. O governo Lula parece ter compreendido –
equivocadamente – que esta base já estaria sedimentada e garantida
e procurou ampliar sua representatividade junto à segmentos sociais
estranhos para sua tradição política. Tal operação gerou
perplexidade inicialmente à muitas lideranças populares e, aos
poucos, foi evoluindo para um sentimento de ressentimento.
Daí
a extrema dificuldade do governo Lula buscar apoio nesses segmentos
sociais, que tradicionalmente seguiram os passos do PT, num momento de
crise ou instabilidade política.
Os
cenários que surgem timidamente parecem, assim, muito limitados e
ainda pouco nítidos, mas todos possuem um ponto em comum: a desfiguração
do governo Lula e a perda do capital simbólico de sua principal
estrela política.
Os
cenários de um futuro ainda incerto
O
cenário mais remoto é o do impeachment de Lula. Embora possível,
seu grau de probabilidade é mínimo em virtude do amplo espectro de
lideranças, instituições e partidos envolvidos no esquema de corrupção
revelado pelo deputado Roberto Jefferson. Esta possibilidade não é
totalmente descartável em virtude da bancada ética (composta pelos
parlamentares Jefferson Peres, Heloísa Helena, Denise Frosart e Pedro
Simon) que parece disposta a aprofundar as investigações até a
elucidação completa dos fatos. Na medida em que seus depoimentos à
grande imprensa revelam dados comprometedores e irrefutáveis, a
possibilidade de um desfecho mais radical ganha relativa força
argumentativa.
Um
segundo cenário de média probabilidade é o da reforma política
ampla, com aumento do tempo de mandato do Presidente da República e
extinção do processo de reeleição. A reforma política ampla
envolve, no caso, a adoção do parlamentarismo (o que exigiria, novo
plebiscito nacional). Lideranças de muitos partidos resistem a tal
possibilidade.
Um
terceiro cenário – também com média probabilidade de efetivação
– é o de antecipação das eleições gerais no país. Esta é a
tese defendida pela senadora Heloísa Helena e algumas correntes
trotskistas. A baixa representatividade dessas lideranças gera baixo
impacto desta proposta nos meios de formação de opinião do país.
Um
quarto cenário, que parece esboçado por Lula no penúltimo final de
semana de julho, é o da adoção de um movimento de natureza
populista, ao estilo Hugo Chávez. A realização de atos ou reuniões
com lideranças sindicais e a adoção de um discurso cuja tese
conspiratória vai se tornando lugar comum aparece como solução
desesperada de um governo encurralado pela sucessão de acusações e
denúncias. Entretanto, os discursos e ações desta natureza parecem
ainda fatos isolados, sem consistência e relacionamento muito nítidos
que comprovem uma estratégia política definida.
O
cenário mais provável, até o momento, é o de um acordo entre PT,
PSDB e PFL (com participação subsidiária de algumas lideranças do
PMDB e PTB) de garantia de governabilidade. Tal acordo provocaria punições
pontuais de algumas lideranças partidárias, mas teria como conseqüência
o aumento do cinismo político de amplas massas do país e a possível
(e já anunciada) desfiliação em massa de petistas no final de
setembro (após as eleições diretas das direções municipais,
estaduais e nacional do PT). Este acordo teria, ainda, como obstáculo
a exigência, por parte de algumas lideranças do PFL e PSDB, da não
candidatura à reeleição por parte de Lula. Roberto Jefferson dá
sinais de promover tal acordo, o que envolveria retirada das acusações
formais do PL e PTB, o que possibilitaria a extinção do processo de
cassação do parlamentar.
Vivemos,
portanto, um momento difícil e revelador da República brasileira. Um
momento que exige a combinação de serenidade e firmeza. O país
caminha sobre a corda bamba, tendo num extremo a corrosão de toda
institucionalidade pública pelo envolvimento de uma imensa gama de
agremiações e instituições públicas e privadas em esquemas de
corrupção e, no outro, a destruição do fio de confiança que resta
nos brasileiros em relação às bases de representação política em
virtude de um possível acordo que limitaria as investigações no
Congresso Nacional.
(*)
Agradeço os comentários e sugestões do professor José de Souza
Marrtins e Thiago Camargo.
(**)
Sociólogo, Doutor em Ciências Sociais, professor da PUC–Minas e
coordenador do Instituto Cultiva. É consultor do Unafisco, do
programa Educação Fiscal da Receita Federal, do Programa Cidadão
Nota Dez e da EMATER–MG. Autor de “Terra de Ninguém” (Editora
Unicamp) e co–autor de “A Participação em São Paulo” (Editora
Unesp)
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