A crise política e
os desafios da esquerda
Práxis, corrente
marxista revolucionária do P-SoL, 15/09/05
Vivemos uma crise política
sem precedente na história recente do Brasil. Não somente pela
constatação de que o regime político tem como um dos principais
combustíveis o clientelismo e a corrupção, o fenômeno do caixa
dois como modus operandis do financiamento eleitoral não é recente.
Também não é novidade o envolvimento do PT com esquemas mafiosos
para financiar o seu projeto político.
Mesmo antes de ocupar
postos na administração do Estado capitalista a direção majoritária
do PT (Articulação Sindical) já atuava nos sindicatos de forma a
"aparelhar" estas estruturas da forma mais sórdida possível,
se apropriando das finanças e estruturas ou mantendo a hegemonia política
através de métodos não menos gangsteristas. O germe do que seria
este governo já estava contido na relação dos setores majoritários
do PT com os sindicatos e com as administrações municipais. A grande
diferença é que esta prática se desenvolve em âmbito nacional.
Assim que o escândalo
estourou a estratégia do PT e do governo para desviar o foco das denúncias
sobre o governo foi a de que havia uma conspiração das elites para
"desestabilizar o governo". Tese que foi "aceita"
pela CUT, MST, UNE e outros setores do movimento social ligados ao
governo, um governo não só burguês, mas com um claro corte
neoliberal.
A política econômica
mantém juros altos e, o superávit primário que no governo FHC era
de 4,25% passou para 4,50%, sem que o FMI fizesse nenhuma exigência
neste sentido. Diante deste paraíso de lucratividade garantida - os
bancos estão batendo recordes e as montadoras de produção - e
evidente que a burguesia não quer derrubar Lula.
O que diferencia a
crise política no Brasil é que diferentemente de outros países da
América Latina, como Bolívia, Argentina, Equador é que a crise política
não está sendo acompanhada de um intenso processo de mobilizações
de massa que convulsione de forma profunda o cenário político
nacional e permita a construção mais ampla de organizações de
massa que substituam aparatos totalmente adaptados como a CUT e a UNE.
Movimento dos
trabalhadores precisa ganhar a cena política
A ausência dos
trabalhadores nesta crise faz com que a mesma se desenvolva de maneira
crônica e dentro dos estreitos horizontes da institucionalidade. Ou
seja, sem alterar em nada os rumos políticos e econômicos
estabelecidos pela classe dominante. Desta forma, ficam intocáveis a
política econômica e a crise política.
Apesar da ausência
de mobilizações de massa, contraditoriamente, a crise política abre
uma possibilidade de reversão de uma correlação de forças que há
muitos anos é desfavorável para os trabalhadores. Desde o início do
governo Lula uma série de política de corte neoliberal vem sendo
desenvolvidas (reforma da previdência, PPPs, privatização das
bacias petrolíferas). As "maldades" não pararam por aí:
está na pauta a reforma sindica/trabalhista, a reforma universitária,
a privatização das florestas nacionais, a reforma política,
privatizações, déficit primário zero.... Desta maneira, a
paralisia política das instituições, principalmente o governo e o
congresso, pode permitir a recomposição do movimento dos
trabalhadores contra o conjunto das políticas neoliberais
desenvolvidas por esse governo/congresso. Para que isso ocorra é
necessário uma dura luta contra o "muro de contenção" em
torno do governo/Lula.
Outro elemento que
contribui para a falta de massividade do movimento é a postura das
principais lideranças do movimento sindical, camponês e estudantil.
Ao manter o apoio ao governo, mesmo depois das graves denúncias de
corrupção, CUT, UNE, MST, CMP acabam por dificultar a compreensão
de que a única alternativa viável para os trabalhadores é a
derrubada deste governo/congresso pela ação dos trabalhadores
organizados de forma democrática e pela base, como único caminho
para avançar na superação dos graves problemas sociais que vivemos.
A necessária
construção de organismos de frente única dos trabalhadores
Está colocada como
necessidade para o avanço do movimento a mais ampla unidade daqueles
que querem lutar contra o governo, contra o neoliberalismo e pelo
socialismo. Para impulsionar, massificar e dar continuidade ao
movimento de massas está colocado na ordem do dia uma política
conseqüente de frente única. Ou seja, é necessário fazer todos os
esforços para que os que querem lutar contra o governo, do ponto de
vista da classe trabalhadora, se unam para desenvolver ações
conjuntas e também criar fóruns/frentes capazes de organizar todos
os lutares. Neste sentido, políticas com cunho ultimatistas acabam
atrapalhando o processo de recomposição do movimento dos
trabalhadores.
Neste momento de difícil
superação das degeneradas, mais ainda atuantes, organizações dos
trabalhadores (CUT, PT, UNE) precisamos apoiar todos as iniciativas de
frente única operária. É assim que encaramos a construção da
CONLUTAS e da Assembléia Popular de Esquerda. Iniciativas que podem
se desenvolver como organizações de massa e organizar os lutadores
no Brasil. Posturas auto proclamatórias não servem para nada.
Estamos somente no início
do processo de recomposição aonde a classe trabalhadora ainda não
entrou em cena. Por isso temos que ter toda a paciência do mundo com
aqueles que querem lutar. A combinação da luta contra o governo e
suas políticas com um paciente debate entre os lutadores pode indicar
os caminhos a serem percorridos no que se refere a organização política
e sindical dos trabalhadores.
Para nós do Práxis
a crise política deve ser encarada como um momento que pode reverter
a correlação de forças desfavorável para a classe trabalhadora.
Para tanto, é necessário lutar contra o governo, o neoliberalismo e
contra o atual regime político que existe para garantir a exploração
e a opressão dos trabalhadores. Para reverter a atual apatia da
maioria dos trabalhadores é fundamental construir a unidade de todas
as forças da esquerda socialista, sem ultimatismos ou sectarismos.No
entanto, a nossa luta não pode se limitar às respostas imediatas,
temos que lutar para superar a atual crise de subjetividade pela qual
passa a classe trabalhadora de conjunto, ou seja recolocar o debate
sobre a necessidade do socialismo, da revolução, dos partidos
revolucionários...
* Fora Lula e o
Congresso Corruptos
* Prisão e confisco
dos bens de todos corruptos
* Suspensão de todas
as reformas neoliberais e privatizações
* Não as reformas
Sindical, Trabalhista e Universitária
* Por uma Assembléia
Constituinte de Base dos Trabalhadores
* Por um plano econômico
anticapitalista
* Por um governo dos
trabalhadores
"A libertação
dos trabalhadores é obra dos próprios trabalhadores" (K. Marx)
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