O CONAT e a unidade entre os lutadores
Por Toninho, delegado APEOESP (Diadema)
Práxis, maio 2006
A classe trabalhadora no Brasil passa por um processo de
recomposição estratégica da sua estrutura política e sindical.
A eleição de Lula em 2002 foi um importante marco na
ruptura da classe com as correntes políticas que na década de 80 se
construíram como direções majoritárias do movimento sindical,
estudantil e camponês. Com a incorporação definitiva do PT, da CUT,
da UNE à ordem capitalista, estes passaram a ser organismos de
sustentação direta do governo e das suas política de ataque aos
interesses dos trabalhadores.
A adaptação dos dirigentes "tradicionais" do
movimento social no Brasil não é um processo recente, já no início
da década de 90 assistíamos um sério deslocamento político e ideológico
destes setores para o campo da classe dominante.
Mas, somente com a eleição de Lula as condições
sociais e políticas para a integração total das direções majoritárias
do movimento social ao campo político burguês se cristalizam.
No campo sindical/social existem importantes expressões
da recomposição do movimento operário. No entanto, esta recomposição
está sendo realizada de forma fragmentária. Isto se explica por razões
de ordem objetiva e subjetiva, uma vez que a ausência do movimento de
massas dificulta a resistência aos ataques dos patrões e do governo.
Ao continuarem divididas, as correntes políticas que se mantém no
campo da classe enfrentam dificuldades em estabelecer uma interlocução
real com setores de massa. Apesar dos desencontros dos últimos anos,
temos que ser capazes de construir pontes que possibilitem a unificação
do movimento (sindical, social e popular) classista e independente.
Nenhuma das organizações que surgiram como resposta à
traição da CUT pode se proclamar como representes do conjunto da
classe trabalhadora. Todas são expressões de rupturas de vanguarda
com a CUT/UNE.
Tarefa fundamental para a esquerda classista
Portanto, ainda está colocado como tarefa fundamental
para a esquerda classista e independente contribuir para que a classe
trabalhadora possa romper com as direções tradicionais.
Desconsiderar esta tarefa pode levar ao perigo de
desenvolver uma estratégia vanguardista. É necessário dar passos no
sentido de recuperar a confiança entre os militantes da ANPE,
Conlutas e setores combativos que permanecem no interior da CUT. Para
tanto, precisamos construir uma agenda comum destas organizações,
que passe pela elaboração de atividades políticas e sindicais no
movimento, pela participação mútua nos eventos de cada organização,
pela criação de um fórum entre organizações sindicais.
Está colocada para o Conlutas e para os demais setores
em ruptura com a CUT uma ampla campanha de denúncia e a apresentação
de uma alternativa classista e combativa à incorporação da CUT, ao
governo e ao p r o j e t o burguês como um todo. Parte fundamental da
d i s p u t a do movim e n t o operário no Brasil é a capac i d a d
e d o s s e t o r e s classistas de estab e l e c e - rem calendários
unificados d e mobilização contra o governo e contra os patrões.
Sem esta experiência comum na luta concreta é impossível se forjar
uma nova direção para o movimento de massas no Brasil.
O CONAT é um importante acontecimento deste processo de
recomposição do movimento sindical brasileiro. De acordo com o que
afirmarmos anteriormente é parte de um processo mais geral de
recomposição da classe trabalhadora de conjunto. Sendo assim, é
obrigado a refletir sobre os sérios desafios que temos pela frente.
Porém, os principais batalhões da classe trabalhadora assalariada
ainda não entraram em cena e não romperam com as sua direções
majoritárias, as principais categorias continuam dirigidas pela CUT
ou pela Força Sindical.
Não se trata de impor esta ou aquela visão sobre a
realidade e sobre as tarefas que estão colocadas para o movimento de
massas. Para que seja realizada uma síntese não pode haver a imposição
de um programa. As profundas transformações da realidade exigem
daqueles que querem construir respostas concretas um duplo esforço,
por um lado reexame de forma crítica a trajetória do movimento
sindical/ social do século XX e por outro lado, construir, na prática,
ações de massa que contribuam para a necessária resistência aos
ataques.
Coordenação sindical e de movimentos sociais
No momento não existem condições objetivas e
subjetivas para a construção de uma central verticalizada e com uma
estrutura centralizada de seus organismos de direção. Ou seja, não
existem condições para a construção de uma organização que
assuma a forma central sindical strictu sensu. O que está colocado
como viável para o Conlutas é a necessária ampliação de sua base
social, a sua construção como direção na ação prática da luta
de classes e o aprofundamento dos debates em torno do programa para a
realidade brasileira.
Pensamos que o mais coerente é a manutenção do seu caráter
de coordenação sindical e de movimentos sociais. O que lhe permitirá
atrair os demais setores sociais que estão em rota de ruptura com a
CUT e outras sindicais pelegas. Desta forma, a direção desta
organização nos seus vários níveis não pode ser constituída de
forma vertical e definitiva, deve, sim, ser composta pela indicação
dos setores que atuam no interior do movimento que constitui a
Conlutas.
Em relação ao seu posicionamento político - diante da
realidade brasileira - deve assumir uma plataforma de ruptura com o
regime e com o capitalismo, condição necessária para dialogar com
amplos setores que iniciaram a ruptura com o governo, o PT e a CUT.
Esta plataforma deve resgatar as bandeiras históricas da classe
trabalhadora, mas não pode parar por aí, deve, também, enfrentar os
novos desafios trazidos pelos processos de transformações do mundo
do trabalho.
Não podemos nos dar a tarefa de construir uma nova CUT.
A classe trabalhadora na sua composição social mudou profundamente,
o desemprego estrutural, a precarização do trabalho, a fragmentação,
através das terceirizações, os novos métodos de produção e
controle sobre o trabalho, as privatizações, a mundialização do
capital, a ofensiva do imperialismo em várias frentes, o retrocesso
da consciência de classe, a perda de referencial no socialismo, a
incorporação das direções tradicionais ao capitalismo e a emergência
de movimento de resistência em várias partes do mundo - que desafiam
os projetos neoliberais - resultando na queda de presidentes, no
retrocesso de políticas neoliberais e na instabilidade social e política,
colocam novos desafios para a análise, programa, estratégia e táticas.
As eleições
Em relação às tarefas colocadas para 2006, queiramos
ou não, as eleições são parte fundamental. Este é um importante
debate que temos que desenvolver com o conjunto da vanguarda no
Brasil, pois as eleições já começaram a polarizar o debate político
nacional.
Antes de nos posicionarmos sobre a questão no seu
aspecto conjuntural queremos fazer algumas considerações sobre como
os socialistas revolucionários se posicionam frente às eleições
dentro do regime político burguês. É comum entre os clássicos do
pensamento marxista a consideração de que as eleições, nos marcos
do regime político burguês, constituem um importante mecanismo de
controle político sobre a classe trabalhadora.
Pois o "direito" de eleger parlamentares e
governantes em uma manobra ideológica transfere para os eleitores a
responsabilidade por terem escolhido mal seus representantes políticos.
Além de criar a ilusão de que não existe outra forma
de participação política e intervenção sobre a realidade, ou
seja, este mecanismo acaba por encobrir que a única forma de resolver
os problemas é a superação da propriedade privada e das relações
de produção vigentes.
Por outro lado também é comum entre os marxistas a idéia
de que é necessário diante das eleições burguesas elaborar táticas
que permitam realizar uma ampla denúncia da ordem social e do regime.
As eleições são um momento onde o debate político ocorre com uma
intensidade maior na sociedade.
Evidentemente todas as correntes burguesas e pequeno
burguesas apresentam suas plataformas e seus candidatos em uma disputa
marcada por propostas que apenas reproduzem as coisas como estão.
Para os socialistas é o momento de apresentar o seu programa ao
conjunto dos trabalhadores, fazer a denúncia da democracia formal e
convocar para transformação radical.
É fato e notório que existe no debate eleitoral atual
uma falsa polarização entre dois partidos da ordem (PT e PSDB). Ter
er eremos emos diante desta r reali- eali- ealidade dade política
duas posições: construir uma alternativa socialista com um programa
de ruptura com o capita- capitalismo lismo ou simplesmente nos abster
do debate. Para nós a segunda opção não é considerável,
significa de fato uma capitulação política. Não ter uma estratégia
para avançar a consciência socialista entre os trabalhadores é tão
grave quanto não participar de outras circunstâncias da luta de
classes.
Construção de uma frente classista
Parte importante do debate no CONAT é a construção de
uma frente classista, com um programa de ruptura com o capitalismo,
que seja uma alternativa à falsa polarização predominante no debate
eleitoral. Esta frente, além de apresentar uma alternativa política
eleitoral pode ser um momento privilegiado para o diálogo entre todos
os setores que fazem a oposição de classe ao governo. Para nós esta
frente não pode se limitar a uma reposta eleitoral para a realidade
brasileira. Como parte de sua estratégia deve pautar a participação
comum em todos os eventos da luta de classe, ou seja, deve ser uma
frente para a disputa eleitoral com o objetivo de unificar a esquerda
para os demais processos de resistência e enfrentamento ao
capitalismo. O CONAT deve realizar este debate e indicar que o mesmo
seja realizado em todas organizações da classe trabalhadora,
sindicatos, associações, movimentos, partidos, coletivos, etc.
Para concluir: este processo de unificação é decisivo
para que a recomposição política/sindical da classe trabalhadora se
realize plenamente. A recomposição está apenas no seu início,
atingiu, até o momento, apenas algumas camadas do movimento
sindical/social. Não pode parar por aí, precisa se estender para os
grandes batalhões da classe trabalhadora sem o qual qualquer proposta
de transformação radical da sociedade é inviável.
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