Brasil

 

De um arranhão ao perigo da gangrena

Por Márcio Barbio
Práxis, corrente marxista revolucionária do PSOL, 07/08/16

Nas últimas semanas dois acontecimentos acenderam o sinal de alerta entre os militante do PSOL, o primeiro fato foi a entrevista de César Benjamin, levantado uma serie de propostas alheias ao já rebaixado programa da Frente de Esquerda e o segundo a declaração do ex Governador do Rio, Antony Garotinho em apoio a candidatura de Heloisa Helena.Ambos os fatos são um arranhão que se não tratados devidamente podem levar a uma gangrena e a amputação de um membro do corpo, nesse caso o membro que corre o risco é a independência política de nosso partido e seu caráter classista.

Em entrevista ao Jornal Folha de São Paulo de a 23 de julho, “nosso” candidato a Vice-presidente, César Benjamin, levantou uma serie de propostas que ao nosso ver, são um retrocesso total ao já insuficiente programa da Frente de Esquerda. O debate a cerca do programa a ser levantado pela companheira Heloisa Helena é de fundamental importância ainda mais agora em que as pesquisas eleitorais mostram claramente o crescimento das intenções de voto. Se quisermos consolidar a legitimidade junto à vanguarda que esta rompendo com Lula e o PT, não podemos titubear um segundo, vale lembrar que o nome de César Benjamin teve grande resistência nas fileiras do partido.

Estamos diante de duas possibilidades, avançar rumo a um programa de transição ou retrocedermos a um programa de cunho nacional desenvolvimentista como quer César Benjamin e setores da direita do partido como a APS e o ENLACE. Infelizmente o criminoso cancelamento de nosso congresso por parte da executiva nacional do PSOL impediu que o conjunto dos militantes opinasse sobre o programa e a melhor tática a ser implementada pelo partido, assim sendo a os setores da executiva são co-responsável pelas posições defendidas por César Benjamim.

Entre outros os temas levantados por César Benjamim, um dos mais sérios é a questão da divida externa. No interior do PSOL existe um debate ao nosso ver de fundamental importância a cerca do tema, a posição de realização de uma auditoria sem a imediata paralisação do pagamento da dívida e uma vergonha total. Essa proposta é muito mais rebaixada que a aprovada na “conferencia” do PSOL que levantava a proposta de suspensão do pagamento, de nossa parte dizemos em alto e bom som, a única palavra de ordem possível é o não pagamento da divida externa com o controle de fluxo de capitais por parte das grandes empresas, qualquer outra formulação é mera conversa para boi dormir, uma capitulação ao capital financeiro internacional e seus lacaios nacionais.

Todo trabalhador sabe que o salário mínimo atual de R$ 300,00 é um salário de fome, pois bem para “nosso” vice o projeto tem que ser dobrar o poder de compra do salário mínimo em oito ou dez anos. Até lá os trabalhadores continuarão a passar fome enquanto a burguesia enche mais ainda seus bolsos de dinheiro. Ao contrário de César, levantamos que devemos apresentar como um dos eixos da campanha a proposta de salário mínimo do DIEESE que hoje está vale R$ 1.447,00. Se ao contrario mantivermos a proposta de César possivelmente estaremos com uma proposta pior que a de Lula.

Reestatizar as empresas privatizadas sob controle social

César ao ser indagado sob o que fazer com as empresas privatizadas respondeu: “Adoraria reestatizar a Vale, mas não posso prometer o que não posso entregar. Não sei como fazer”. Mais vez sua posição é um retrocesso em relação ao já limitado manifesto da frente esse assume: “Queremos a revogação imediata das privatizações das empresas estatais, a começar pela Vale do Rio Doce”. Práxis tem insistido que a única possibilidade de desenvolver o país sob a ótica dos trabalhadores é reestatizar todo as empresas privatizadas sob controle social.Não podemos deixar que uma empresa como a Vale Do Rio Doce que foi “vendida” por R$ 3 bilhões e que só em 2005 deu um lucro liquido de R$ 12 bilhões continue nas mãos da burguesia.

Por último mais não menos importante está a perspectiva de classe assumida por César, ou melhor, a falta de perspectiva de classe. Para “nosso” vice. César afirma que em futuro governo Heloisa Helena: “serão rapidamente alijados do poder dois grupos que comandam o Estado brasileiro há muitos anos. O primeiro são os especuladores ligados ao mundo financeiro, que controlam o Ministério da Fazenda e o Banco Central (...) O segundo são os grupos políticos que vivem de lotear e parasitar as instituições”. Camarada César estamos favoráveis a que estes setores estejam fora de um hipotético governo Heloisa Helena, entretanto não podemos nos contentarmos com isso. A história da luta de classe do século XX está repleta de exemplos que a convivência pacifica entre trabalhadores e patrões é impossível, simplesmente porque em uma sociedade capitalista a contradição fundamental não é entre capital produtivo versus capital especulativo. O processo demiurgo da sociedade capitalista é a contradição capital versus trabalho. Sendo assim ou a candidatura de Heloisa Helena se assume enquanto representante das aspirações da classe trabalhadora em sua luta contra o capitalismo ou recriará a ilusão reacionária do PT e sua falácia de conquista da cidadania.

Por outro lado, não podemos cair no canto de sereia de Garotinho, seu objetivo ao declarar voto e apoio a Heloisa Helena não é outro se não de surfar nos 19% de intenções de voto que nossa candidata possui no Rio de Janeiro, Estado de Garotinho. Temos que dizer em alto e bom som que Garotinho não é nosso aliado ao contrario é nosso inimigo, representante dos setores mais atrasados da política brasileira, basta perguntar a qualquer trabalhador do estado do Rio de Janeiro e veremos de que material é feito esse político. Levantamos isso, pois provavelmente Garotinho não será caso isolado durante a campanha, Pedro Simon tem se derretido em elogios a Heloisa Helena, assim como uma serie de outros políticos burgueses. Precisamos afirmar uma vez mais o caráter classista de nosso partido. Só e somente a classe trabalhadora em aliança com os explorados e oprimidos, será capaz de levar a cabo a luta pelo socialismo, se aliar a setores da burguesia com o intuito de conseguir atalhos no levará ao beco sem saída da conciliação de classe tal qual levou ao PT.