Brasil

 

Greve da Volkswagen

Iniciar a luta de resistência de todos os trabalhadores aos ataques da burguesia a seus direitos

Por José Roberto
Grupo Práxis, 04/09/06

Nesta segunda feira, 04 de setembro, os trabalhadores da unidade Anchieta da Volkswagen suspenderam a greve iniciada em 29 de outubro por conta da distribuição de avisos de demissão ( a serem cumpridos em 21/11) para 1800 funcionários daquela fábrica. Durante sete dias os trabalhadores se mantiveram em completa paralisação até o anúncio da suspensão das demissões para um período de negociações entre sindicato e patrões. A disposição dos trabalhadores em se manter na resistência ao ataque dos patrões deve ser louvada, obrigando a empresa a retroceder em sua iniciativa, porém, essa luta não pode ser avaliada tão somente pelos acontecimentos determinantes das posições dos funcionários da Volkswagen, mas por todo um contexto de ataques da burguesia à classe trabalhadora que se projetam para o início do próximo ano e que se somam a ações, como esta, já plantadas este ano.

A ação da Volkswagen não é um ato isolado

Como sabemos, a reestruturação da industria automotiva a nível mundial por conta dos resultados negativos obtidos pelas matrizes em seus países de origem; a perda de lucratividade das filiais nos países emergentes e a implantação de fábricas no Leste Europeu e na China, onde a super-exploração do trabalho tem sobrelevado os lucros dessas empresas, tem provocado um processo de demissão em massa em vários países. GM e Ford, nos Estados Unidos, necessitam reduzir cerca de 20.000 empregados cada uma e fechar várias plantas nesse país. Para o Brasil, a GM vai demitir 3.500 empregados até 2007. Na Alemanha, a VW quer demitir até o final do ano 5.000 funcionários, de um total de 20.000 até 2011, com o fechamento de 12 fábricas. Para o Brasil, restou a cota de 3.600 demissões até o fim de 2007, de um total de 6.000, que poderão ser demitidos já, juntamente com o fechamento da fábrica da Anchieta, se não houver um acordo com o sindicato da categoria.

È bom lembrar, que no caso da Volkswagen, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC entregou alguns anéis em 2003 e adiou a entrega dos dedos para 2006, num acordo que demitiu “alguns funcionários apenas”, à época, e foi saudado como demonstração de força do sindicalismo brasileiro por que transferiu a degola para 3 anos após. No entanto a direção do sindicato do ABC não preparou a resistência dos trabalhadores e agora, apesar da movimentação rápida, buscou transformar o movimento grevista em “atos de ação de surpresa”, que no fundo buscavam a negociação vergonhosa e a transferência do problema para depois das eleições.

Mas é mais do que sabido que não há acordo possível. A burguesia, nacional e estrangeira, além da reestruturação industrial, necessita aprofundar a exploração do trabalhador brasileiro com a implantação de uma nova reforma trabalhista e sindical - com a conseqüente finalização da reforma previdenciária – para recuperar o nível dos lucros auferidos em épocas anteriores e aumentar a divisão da classe trabalhadora. A lógica do imperialismo impõe um novo ataque aos direitos dos trabalhadores, bem como a diminuição de vagas, para que as filiais dos países emergentes possam apresentar números parecidos com aqueles que serão auferidos na Ásia, leia-se China e Índia.

Assim, a atitude do governo Lula de abandonar os funcionários da Volkswagen a própria sorte, por que “não vê nessas demissões uma crise da industria automobilística nacional”, somente corrobora os ataques a todos os trabalhadores e coloca-nos a obrigação de, para além do simples apoio aos grevistas, buscarmos mobilizar os mais diversos segmentos da classe trabalhadora em defesa de seus interesses gerais, junto a luta particular dos trabalhadores de São Bernardo do Campo.

A necessidade imediata de mobilização da classe trabalhadora

Visando preservar a continuidade da farsa eleitoral da disputa entre Lula e Alckmin, para que o vencedor – Lula no primeiro turno ao que tudo indica – possa implantar as reformas sindical, trabalhista e universitária, exigidas pela burguesia, a VW concedeu está trégua, porém, para depois das eleições deverá retornar a carga com as demissões e, até mesmo, com o fechamento da fábrica da Anchieta. Demissões em outros setores deverão também acontecer (ameaças das casas Bahia ) o que demonstra que o capital está se sentindo completamente a vontade para vilipendiar a classe trabalhadora e imagina que não encontrará resistência a isso. Devemos pois, os socialistas revolucionários, chamar a classe trabalhadora em geral a não se submeter a mais este golpe e defender os seus direitos, a começar pela defesa do emprego dos companheiros da Volkswagen.

Para além disso, nada impedirá, senão a mobilização, que as reformas previstas para o ano que vem não comecem a tramitar já este ano, por isso todo recurso possível de denuncia e esclarecimento de vê ser utilizado, o que nos leva a estranhar a não utilização do espaço da campanha eleitoral pela frente de esquerda (PSOL-PSTU-PCB) para alertar a classe operária. Demarcar nossa política, denunciar o acordo PT/PSDB de aumento da super-exploração da classe,contrapondo com um programa que passe Pela Redução da Jornada de Trabalho e pela Estatização sobre Controle Social dos Trabalhadores e convocando para a luta de resistência é o único “programa eleitoral” que podemos neste momento defender.

Neste sentido achamos que um posicionamento firme e contundente por parte de Heloisa Helena seria muito útil, não podemos titubear. Nas lutas e nas eleições trabalhador contra patrão!