Eleições:
primeira aproximação do balanço
Coordenação
Provisória Práxis
São Paulo, 07/10/06
O
primeiro turno das eleições terminou de forma um tanto
inesperado: Lula contrariando as pesquisas eleitorais, não ganhou no
primeiro turno e Alckmin obteve uma votação bem acima da esperada.
Por outro lado a candidatura de Heloisa Helena parece ter perdido fôlego
na reta final, vítima de sua própria política de se colocar
enquanto anti Lula, sem um programa claramente à esquerda.
Os
números demonstram que Alckmin obteve maior votação entre os
setores de classe média das regiões sul e sudeste do Brasil e nos
estados agroesportadores do centro oeste, enquanto Lula sagrou-se
vencedor nos estados das regiões norte e nordeste, as mais atrasadas
e nas periferias das cidades onde o efeito da Bolsa Família foi
arrasador.
Heloisa
Helena e o PSOL obtiveram uma boa votação, porém aquém das viagens
astrais de setores da executiva que no inicio da campanha chegaram a
falar em levar Heloisa ao segundo turno, vencer a cláusula de
barreira e eleger 10 deputados federias. Se levarmos em conta os
“objetivos” e os resultados veremos um brutal abismo. Heloisa
obteve 6.5%, muito distante de Alckmin e de Lula. Os 5% dos votos para
deputado federal que garantiria ultrapassar a cláusula de barreira
viraram 1.27% e os 10 deputados federias se reduziram a três.
Se
os demais candidatos à presidência foram meros coadjuvantes, os que
propuseram o voto nulo no primeiro turno não passaram de espectadores
da luta de classe, se abstendo de dar uma batalha política pela
independência de classe dos trabalhadores e pela unidade da esquerda
classista e socialista.
PT:
definitivamente um partido da ordem e do regime
Para
os que acreditavam que o PT teria nas urnas o “troco” pelos escândalos,
também tiveram um susto. As previsões mais pessimistas diziam que o
PT poderia chegar às eleições com cerca de 40 deputados, não se
confirmaram de forma alguma. O PT manteve quase o mesmo número de
deputados federais da eleição passadas. Entretanto fica claro a
qualquer um que observou as eleições que a antiga militância que
vestia a camisa, empunhava a bandeira e se orgulhava de usar a estrela
não existe mais. No PT de hoje não existe espaço para a militância
sadia e de esquerda, ao contrario o que vimos foi uma campanha
absolutamente profissionalizada aonde desde o cabo eleitoral até as
coordenações de campanha eram pagas. Caráter esse ressaltado com a
ausência da militância de organizações que historicamente
estiveram ao lado do PT e de Lula, como é o caso do MST, que fez uma
campanha envergonhada pró-Lula.
Esse
não enfraquecimento eleitoral do PT, não pode esconder a mudança
qualitativa de sua base. Hoje os eleitores do PT são principalmente
os setores atendidos pelas políticas compensatórias, seja Bolsa Família,
PRÓ-UNI Primeiro Emprego. Os setores mais organizados da sociedade ou
não votaram em Lula ou votaram de forma bastante desconfiada. Não é
por outro motivo que Heloisa Helena obteve sua maior votação no Rio
de Janeiro, aonde o peso do funcionalismo é desproporcional. E que no
ABC, berço político de Lula e do PT, o resultado eleitoral foi uma
pequena margem pró Lula.
Heloísa
Helena e a Frente de Esquerda
A
votação de Heloisa Helena, do PSOL e da Frente de Esquerda
representa bem o momento político de recomposição que vive a
esquerda e o movimento dos trabalhadores.
Podemos
afirmar que a votação de Heloisa Helena representa um processo de
ruptura com o PT e Lula, sendo assim bastante progressivo, apesar do
limite programático imposto por Heloisa Helena e aceito pela maioria
das correntes da Executiva Nacional.
O
já insuficiente programa aprovado na Conferencia Nacional, no qual Práxis
votou contrário, foi ainda piorado por Heloisa Helena que se limitou
a defender a redução dos juros como eixo programático, sem contar
as declarações do tipo: “aborto é crime”, “no meu governo
só quem vai perder é especulador e corrupto” entre outras pérolas.
Em
certa medida a campanha foi vítima de seu próprio veneno: ao tentar
se constituir enquanto anti-Lula, sem apresentar um programa realmente
classista e socialista, deixamos todo um setor da massa perguntando se
não seria melhor votar em Alckmin como o candidato mais viável ao
Lulismo. Mesmo do ponto de vista meramente eleitoral uma campanha à
esquerda, com um perfil classista poderia ter cumprido um papel de
melhor arregimentação de votos, uma vez que dialogaríamos com um
setor que foi mais prejudicado por Lula e seu governo: os assalariados.
Heloisa não tocou na questão do aumento de salários, no desemprego
ou sub-emprego, ficando na verborragia da ética e nas bravatas contra
Lula.
O
PSOL - reconstruir os organismos e avançar rumo ao congresso.
É
um fato que em termos organizativos nosso partido está hoje em piores
patamares que antes das eleições. O cancelamento do congresso esse
ano e a substituição por Conferencia “para inglês ver” levou-nos
a enfrentar o processo eleitoral totalmente desarmados, política e
organizativamente. Hoje vivemos uma situação de total desarticulação
das instâncias partidárias, que se reflete na inexistência de reuniões
da Direção Nacional Provisória, das coordenações estaduais e
mesmos dos núcleos. Nossas finanças são precárias. Nesse patamar a
Executiva Nacional continua a agir de forma absolutamente autocrática
e autoritária. Assim, defendemos a imediata convocação de uma reunião
da Direção Nacional Provisória ampliada com delegados eleitos em
plenárias estaduais e/ou regionais ainda esse mês, para que possamos
reverter o quadro atual de desagregação.
É
preciso uma corrente Marxista Revolucionária do interior do PSOL
Por
tudo isso é preciso construir uma Corrente Marxista Revolucionária
no interior do PSOL, que resgate o melhor da tradição e da teoria
socialista e que ao mesmo tempo seja capaz de absorver autores e
experiências novas. Uma corrente que coloque em alto e bom som que a
classe trabalhadora assalariada é a única capaz de se formar
enquanto demiurgo de uma nova sociedade sem exploração e opressão.
Com isso não desconsideramos a força e a importância dos demais
setores explorados, entretanto, reafirmamos que esses setores ou estarão
subordinados à política da classe trabalhadora ou serão presas fácies
da cooptação por parte da burguesia.
Práxis
pela primeira vez apresentou candidatos, obtivemos uma votação de
vanguarda o que reflete nossa inserção, entretanto não podemos
medir o sucesso ou insucesso eleitoral simplesmente contando os votos
que um ou outro setor obteve. Orgulhamos-nos de nossa participação
porque entramos e saímos do processo eleitoral como uma corrente de
esquerda, em que todos os momentos defendeu um programa distinto do
defendido por Heloisa Helena. Desse modo tivemos como eixo de
propaganda e agitação a palavra de ordem de redução da jornada de
trabalho e salário mínimo do DIEESE.
Tanto
em São Paulo, onde apresentamos a candidatura do Professor Toninho,
como no Rio Grande do Sul, onde estivemos com as candidaturas de
Mauricio Borges para Deputado Estadual e Roberto Jung para Deputado
Federal, demos passos pequenos porém sólidos na difícil mas
imprescindível tarefa de construir um pólo a esquerda e revolucionário
à direção do PSOL.
Por
último queremos agradecer a todos que de alguma forma nos ajudaram
nessa dura empreitada, fazemos um convite para seguirmos juntos rumo
à constituição de uma ferramenta dos revolucionários e fazemos um
chamado: soma tua força à Práxis.
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