Brasil

 

Por um PSOL democrático, classista, socialista e revolucionário:

Um chamado às armas!

Práxis - corrente marxista revolucionária do P-SoL

1. Introdução

A ascensão de Lula, em 2002, à presidência da república e a continuidade de políticas antioperárias têm possibilitado que entrássemos em um ciclo de reorganização do movimento operário e estudantil em geral e da esquerda em particular.

Nosso partido, o PSOL, se constitui, apesar de todos os problemas, em um importante ponto de referência para o conjunto da vanguarda que rompeu com o PT e o Lulismo. O caráter classista, democrático e socialista do PSOL marcou desde a primeira hora nosso partido, mas hoje se encontra ameaçado. Vivemos hoje uma pressão eleitoralista por parte de correntes, dirigentes e parlamentares que se assumida pelo congresso partidário desfigurarão nosso partido e serão uma derrota para o conjunto daqueles que tem se empenhado na construção de um instrumento que avance à luta pelo socialismo. Está colocada a necessidade de unidade do conjunto de correntes e militantes de esquerda do PSOL, não acreditamos que essa ou aquela corrente consiga por si só impedir a “direitização” do partido, nesse sentido, os que assinam essa tese se declaram desde já pela construção de um bloco de esquerda para atuar no congresso e posteriormente com o intuito de lutarmos juntos para que o PSOL mantenha sua radicalidade, independência política, oposição a Lula e seus ataques, e que se aprofunde um regime interno realmente democrático. Um partido no qual o direito a formar tendências seja inalienável, mas que ao mesmo tempo garanta àqueles companheiros e companheiras que não queiram se organizar em nenhuma tendência que tenham todos os espaços políticos para defenderem suas posições.

Para que isso seja possível, temos que defender intransigentemente que o centro da atividade política da esquerda socialista deve ser a luta direta dos trabalhadores, estudantes, oprimidos. Qualquer política que coloque como centro a preparação para as eleições do próximo ano, como faz explicitamente os companheiros do MES no documento de seu congresso, deve ser refutado com toda a energia. Já vimos como o PT se transformou de um partido operário nos anos 80 a implementador da política burguesa imperialista, tendo como centro as disputas eleitorais.

2. Internacional

2.1 Crise de hegemonia dos EUA

Ao nosso ver, o primeiro elemento chave para a análise da situação internacional é a forte crise de hegemonia vivida pelos EUA, associada a uma igualmente forte crise do Governo Bush, visto que suas enormes dificuldades passam pela incapacidade de controlar a situação política e militar no Iraque.

A crise do Iraque, associada à derrota fragorosa de seu principal aliado, Israel, no Líbano, na ocupação que foi derrotada pela resistência do Hezbola, faz com que o projeto do “novo século americano” seja golpeado por todos os lados. A derrota de Israel somada à crise do Iraque tem aberto uma conjuntura de crise hegemônica, o que por sua vez possibilita o surgimento de governos “desobedientes”. É nesse marco que se pode entender a política nuclear do Irã em flagrante desafio à “comunidade internacional”, ou Chavez e sua política em relação aos EUA, ou ainda Evo Morales e sua política de renegociar os contratos de gás e petróleo, que embora esteja a kilômetros de uma autêntica nacionalização, rompe com o modelo que imperou nos anos 90.

A atual crise confirma a vigência da Lei do Desenvolvimento Desigual e Combinado formulada explicitamente por Trotsky e explica porque começam a aparecer no atual momento certas características e tendências de outros momentos históricos.

No campo da economia mundial existem tendências à homogeneidade, como é o caso da tendência à igualização das condições de exploração e ao livre comércio de capitais, porém também existem tendências à fragmentação e heterogeneidade, com o surgimento de políticas estadistas e de protecionismo econômico. O fato é que junto com a propensão ao endurecimento de brutais relações de desigualdades e opressão entre países imperialistas e semicoloniais, surgem situações de  “desobediência” e um período de maiores tensões interimperialistas no terreno econômico e comercial ou ainda político diplomático, sem falar em novas realidades econômicas e geopolíticas, como é o caso da China.

É nesse contexto que se explica o surgimento de governos nacionalistas burgueses com elementos de desobediência ou mesmo de desafio ao imperialismo, principalmente o ianque. Como é de costume, esses governos nacionalistas se enfrentam com um ou outro país imperialista para acabar nos braços de outros países imperialistas mais “generosos”. Isso ocorre devido ao fato que as diferenças que esses governos têm com o imperialismo ianque se dá dentro da unidade de interesses econômicos e sociais, isto é, a manutenção da propriedade privada e do capitalismo. Tais governos, longe de se propor a liquidar o imperialismo, querem chegar a um acordo mais favorável com ele.

Esse é o caso Chavez na Venezuela e Ahmadinejad no Irã. O primeiro “progressista” e o segundo hiper reacionário do ponto de vista político e ideológico. Ambos baseando seu nacionalismo burguês no controle do monopólio ou semimonopólio de recursos estratégicos do gás e do petróleo. Nesses governos nacionalistas burgueses continuam a superexploração da classe trabalhadora e o desmonte das mínimas conquistas sociais oriundas do pós-segunda guerra. Ainda não podemos fazer caracterizações categóricas sobre a etapa histórica em que vivemos, pois será o desenvolvimento da luta de classes que permitirá definir os seus contornos mais precisos. Isto porque existem ainda muitas desigualdades na situação política dos países. Entretanto, esse fenômeno coloca a necessidade imperiosa de reafirmarmos uma posição de intransigência no que toca a independência de classe diante desses governos. Isto significa dentre outras coisas não capitular a esses governos, como fazem, por exemplo, o MES, que tenta a todo custo atribuir a Chavez e a Evo um caráter de classe que não têm, pois são no máximo governos burgueses que estão se enfrentando parcialmente com o neoliberalismo.

2.2 América Latina, rebeliões populares, mediações, estabilização e extensão

Nesse contexto de crise e desobediência é que se insere a atual conjuntura latino-americana, onde o que prevalece é a mediação. Trata-se de governos nacionalistas, surgidos dos processos de crises e que possuem elementos de continuidade com os acontecimentos dos anos 90 - neste período houve um refluxo quase absoluto do movimento social dos trabalhadores. Como definição política mais global para a América Latina podemos dizer que o ciclo político aberto no começo do século XXI tem como característica uma correlação de força mais favorável para os trabalhadores.

Por processo de mediação entendemos o fato de que há poucos anos o ponto de referência se dava na magnitude, desenvolvimento e extensão das rebeliões populares que se desenvolviam em um contexto de instabilidade que configurava situações de “crises de governabilidade”. Hoje esse processo parece reabsorvido. Com a estabilização política e recuperação econômica, grandes rebeliões, como as vividas em vários países na América Latina, podem não se dar em curto prazo. Em síntese: o processo político parece estar no momento estabilizado, no marco de que não houve uma derrota da classe trabalhadora.

Sem dúvida, junto com o atual processo de “mediação” tem sido desenvolvido outro elemento complementar: a extensão, ou seja, o ingresso de novos países no processo regional de mobilização, ainda que não represente rebeliões populares. Este tem sido o caso do Chile com a enorme mobilização estudantil, ou Equador com a crise dos deputados, e o México que viveu uma luta democrática importante e em seguida a realização da Comuna de Oaxaca.

2.3 Nacionalismo burguês e frente popular

A América Latina vive uma realidade na qual predominam governos e movimentos progressistas ou de “esquerda”. No interior do PSOL existe uma série de posições acerca desses governos, os que assinam essa tese acreditam que esse debate assume uma importância estratégica sobre o posicionamento dos socialistas revolucionários frente a esses governos.

Grosso modo podemos dizer que existem governos burgueses “normais”, onde o que predomina é a continuidade das políticas neoliberais. Aqui se inserem Bachelet, Tabaré e Lula. Em um lugar intermediário se inserem os governos de Alan Garcia e, mais especificamente, Kirchner. São governos matizados por uma série de concessões e tentativas de “regulação” do capitalismo. Até aqui existe um grande acordo no interior do nosso partido, o problema começa a aparecer quando vamos “mais à esquerda” e vemos governos também burgueses, porém com características anormais, como é o caso de Chavez e Evo. O primeiro, um governo nacionalista burguês e o segundo, um governo de frente popular.

No caso da Venezuela, esse tipo de governo nacionalista burguês, como bem analisou Trotsky em seu tempo, apresenta características de “bonapartismo sui generis”. Quer dizer que em condições especiais, o controle sobre o Estado permite que determinados governos se movam, na aparência, por cima das classes sociais, apoiando-se nas massas populares, realizando concessões e dispondo de liberdade relativa ao imperialismo, principalmente o ianque. Por mais que Chavez auto defina seu governo como “obrerista”, os fatos demonstram que não ataca as bases da propriedade capitalista; as suas reformas excluem a participação direta dos trabalhadores, mantendo o controle burocrático sobre o Estado e empresas estatais e como não bastasse quer transformar o Regime político venezuelano em um regime burguês de partido único - não pensamos que esse governo seja dos trabalhadores e que esteja marchando rumo ao socialismo. Ao contrário, o governo Chavez é um governo burguês e, como tal, é um inimigo dos trabalhadores e do socialismo.

Bolívia, por sua vez, como já assinalado acima, se constitui em o único governo de frente popular na América do Sul. Um governo dirigido por uma organização de massas a frente de um estado burguês que adquiriu um caráter de conciliação de classes. O MAS de Evo é um movimento-partido pequeno burguês e camponês reformista associado a uma intelectualidade com aspirações burguesas, ou seja, um governo clássico de frente popular com a diferença de que sua base social não é operária, mas sim camponesa.

O debate acerca do caráter de classe dos atuais governos da América do Sul deve estar no centro do debate de nosso congresso, uma vez que temos uma série de interpretações de todo tipo sobre o mesmo. Em nosso partido temos exemplos extremos sobre a interpretação desses governos, em especial ao de Chavez, que se caracteriza como uma capitulação total e completa. Estamos aqui nos referindo aos companheiros do MES, que por mais de uma ocasião tem declarado apoio incondicional a Chavez e que agora tem defendido a entrada dos socialistas revolucionários venezuelanos no partido criado por Chavez para controlar o movimento operário e a central sindical combativa UNT.

O debate sobre esses governos e de qual política adotar frente a eles é apaixonante e complexo, principalmente na atual etapa da luta de classe em nossa região, onde a crise de subjetividade do projeto socialista é grande, permite que esses governos burgueses consigam se passar para uma parcela da classe trabalhadora como sendo seus. Por essa razão, uma definição clara a respeito desses governos é a única maneira de defendermos uma estratégia intransigente de independência de classe frente a todos os governos da região que em última instancia são governos burgueses e como tais, inimigos dos trabalhadores e do socialismo.

2.4 Por uma verdadeira unidade Latino-Americana

Apesar da ALBA, impulsionada por Chavez, conter medidas que pareçam progressistas como é o caso do intercambio baseado em critérios não mercantis com Cuba, a ALBA não se funda em reivindicações operárias e nem anticapitalistas. Não existe na política de constituição do bloco nenhuma palavra sobre aumentos de salários, não pagamento de dívidas externas ou expropriação dos grandes grupos empresariais.

No tema da unidade latino-americana e da ALBA é onde as correntes oportunistas se rendem ante aos fatos consumados da forma mais descarada com argumentos do tipo: “não podemos tirar política de forma abstrata”, “a ALBA é uma alternativa à ALCA e ao Mercosul” e “este processo de integração via ALBA já é objetivo”. Em que pese a ALBA apresentar elementos “alternativos” em relação a ALCA, o Mercosul não é um projeto que possua uma perspectiva anticapitalista, como bem demonstrou a entrada da própria Venezuela no Mercosul.

3. Nacional - Revolução socialista ou caricatura

As eleições brasileiras se inserem de forma desigual no marco das eleições da América Latina, da subida dos governos de centro esquerda como tendência geral da etapa aberta no século XXI, com a particularidade que Lula não é fruto distorcido de rebeliões populares como Kirchner na Argentina, Chavez na Venezuela ou Evo Morales na Bolívia, no caso brasileiro a assunção de Lula se dá de forma preventiva. A burguesia brasileira necessita de Lula e do PT para realizar as contra-reformas que Fernando Henrique não conseguiu fazer em seus dois mandatos.

Podemos dizer que as eleições se deram no marco da estabilidade econômica e social que vive o Brasil nos últimos anos. Desde a greve petroleira de 1995, em nosso país não se desenvolveram grandes ações da classe trabalhadora, de forma independente, com isso não queremos dizer que não tenham havido lutas.

3.1 O PSOL - reconstruir os organismos por um partido classista, realmente democrático e socialista

A realidade tem demonstrado de forma cabal que foi um acerto político total a construção do PSOL, que tem servido tanto para evitar a total dispersão da esquerda socialista, como também tem sido um ponto de referência importante, ainda que limitado, para a vanguarda e mesmo para setores de massa.

Entretanto, em função de sua origem, base social e direção, o PSOL está submetido a grandes pressões, sendo a maior delas, com certeza, a pressão eleitoral. Hoje, o PSOL vive uma grande tensão de dois projetos antagônicos que se refletiram no processo eleitoral: um de cunho eleitoreiro, representado pela APS, Enlace e pelo MES e outro de um partido socialista e de luta, representado pelas correntes de esquerda. O primeiro, claramente oportunista, tem tentado transformar nosso partido em um PT que dê certo. Ou seja, um partido sem definições programáticas claramente socialistas e revolucionárias, onde os núcleos não sejam a base da organização partidária e que subjugue a luta institucional à luta direta dos trabalhadores e da juventude.

Os signatários desta tese têm outra proposta. Dizemos em alto e bom som que re-fundar o PT e fazer com que este não reproduza os mesmos desatinos é impossível. Infelizmente uma parte substancial da direção do PSOL, de forma deliberada, realiza os mesmos desvios que a direção do PT nos anos 80. A política defendida por Heloisa Helena foi um tiro no pé e causou muita indignação entre os militantes do partido e da vanguarda em geral.

Vivemos uma situação de total desarticulação das instâncias partidárias, que se reflete na inexistência de reuniões da Direção Nacional Provisória, das coordenações estaduais e mesmo dos núcleos. Nossas finanças são precárias, além disso, o partido ainda não conseguiu construir um sistema de comunicação que esteja à altura do seu tempo. O site do PSOL não é atualizado como se deve, sequer constitui-se num instrumento de informação para os militantes. Outro grande veículo de inserção nas massas, o jornal, até agora só teve um número, de forma que podemos contar apenas com os informativos das correntes. Assim, propomos que o PSOL utilize estes veículos de comunicação com a devida prioridade para que os ideais do partido possam alcançar o povo. Da mesma forma, a juventude é a força que impulsiona o partido com toda sua vitalidade atuando no interior da organização como "oxigênio" para as lutas. Propomos o fortalecimento da Secretaria da Juventude, bem como a unidade no Movimento Estudantil que confluirá com o engajamento numa organização comum. Apesar desses problemas, a Executiva Nacional continua a agir de forma absolutamente autoritária, como acaba de demonstrar o episódio da eleição da Câmara de Deputados, onde por cima de tudo e de todos se implementou uma política policlassista de apoio a ex-integrantes do governo de FHC.

Precisamos urgentemente reverter o quadro em que estamos, avançar em um programa que coloque de forma clara o socialismo como única saída e a classe trabalhadora como demiurgo de uma nova sociedade. Elegemos nas últimas eleições três deputados federais e outros três estaduais. Para que sejamos realmente um partido democrático é preciso que estes deputados tenham sua atividade pública controlada pela base do partido, pois o espaço público do parlamentar é muito maior que o de um militante “comum”, assim, suas declarações e posicionamentos aparecem como sendo posições do partido.

O Iº Congresso deve deliberar sobre a remuneração dos parlamentares e assessores. Defenderemos que os parlamentares do partido devam ser remunerados de acordo com o salário de um trabalhador especializado. Os representantes dos trabalhadores devem viver como trabalhador. Além de fecharmos as portas a integrantes estranhos ao mundo do trabalho, não podemos mais aturar figuras como Geraldo Mesquita, hoje no PMDB, que só serviram para enxovalhar o nome do partido.

3.2 Perspectivas para o próximo período

Estamos diante do início do terceiro turno a ser realizado nas fábricas, bairros e locais de estudo. O grande Encontro Nacional Contra as Reformas e a greve dos controladores aéreos demonstram qual é o caminho a ser seguido pelo conjunto dos trabalhadores e da esquerda em geral.

Nosso partido se quiser ser uma alternativa concreta a luta dos trabalhadores e do povo deverá colocar toda sua militância a serviço de preparar as lutas que já estão se dando de forma molecular e desorganizada, superando todo sectarismo e oportunismo. Não podemos repetir os erros do auge da crise do mensalão, momento em que não conseguimos forjar a unidade necessária para transformar a crise política em crise social. Para o próximo período está colocada a necessidade imperiosa de superar os difíceis entraves, aos quais os movimentos sociais estão submetidos.

Estamos dando os primeiros passos de uma nova etapa na luta de classes, onde os trabalhadores, contra as suas direções tradicionais (CUT e PT) e construindo uma nova direção, estão reiniciando sua auto-atividade. Para que esses primeiros passos se dêem de forma firme é preciso que superemos diversos entraves.

Longe de acharmos que estamos diante de um processo fácil ou de curta duração, ao contrário, insistimos que somente demos os primeiros passos à necessária reorganização do movimento de massas, que, todavia, se dá na superestrutura do movimento. Ou seja, embora a chamada “esquerda sindical”, hoje organizada tanto na CONLUTAS como na Intersindical, dirijam ou co-dirijam uma série de sindicatos e oposições sindicais, essa presença não se reflete na capacidade de mobilizações e de lutas que esses sindicatos possuam. Precisamos reverter a debilidade histórica do movimento operário brasileiro caracterizado pela quase inexistência de organismos de base que em muitos países da região tem jogado um papel fundamental na mobilização e organização dos ativistas que surgem contra a burocracia. Na grande maioria das vezes, mesmo nos sindicatos dirigidos pelas correntes de esquerda, entre a direção do sindicato e os trabalhadores existe um enorme vazio. Reverter esse vazio é tarefa fundamental para a esquerda socialista revolucionária.

Nesse sentindo não podemos concordar com os companheiros do MES/Poder Popular, que colocam como centro da atividade partidária a preparação para as eleições de 2008. Insistimos uma vez mais que o centro da atividade partidária deve ser a organização dos trabalhadores para enfrentar os ataques que já estão sendo desferidos por Lula e seus lacaios.

3.3 PSOL - Partido Classista e socialista ou PT requentado?

A realidade tem demonstrado o enorme acerto que foi a construção do PSOL. Após a expulsão dos chamados parlamentares radicais se constituiu em um importante instrumento de aglutinação da esquerda socialista. Esse perfil radical que o PSOL inicialmente construiu está ameaçado pela nova configuração de forças no interior do partido.

A partir da entrada da APS, com objetivos meramente eleitorais, contra nosso voto na Coordenação Nacional, e do brutal giro à direita dado pelo bloco MES/PP tem se aprofundado os graves problemas que já estavam colocados desde a fundação. Os que assinam essa tese comungam da posição que no último período nosso partido infelizmente se localizou na contra mão do que a classe trabalhadora precisava.

A campanha eleitoral revelou um programa eleitoral, diga-se de passagem, rebaixado, programa esse nunca discutido pela base partidária, imposto por César Benjamim com a anuência da executiva nacional, que em nenhum momento se pronunciou contra. Tal programa beirava o nacional desenvolvimentismo udenista, de total adaptação ao regime democrático burguês. Cada aparição de Heloisa Helena causava arrepios de susto na militância, declarações contra o aborto ou em defesa da propriedade, em total desacordo com nosso programa eram comuns.

Mesmo os acertos pontuais da campanha, como foi o caso da denúncia aos banqueiros e dos altos juros, se mostraram insuficientes, uma vez que estiveram totalmente afastados de uma perspectiva realmente socialista, se colocando no campo da defesa da institucionalidade e da constituição.

Se a política do PSOL frente ao regime já era no mínimo insuficiente, na eleição da mesa diretora da Câmara se demonstrou totalmente capituladora. Por traz de uma política de não isolamento, nosso partido fez seguidismo de um suposto “pólo democrático” ou de uma suposta “terceira via”. Por fim, aparecemos junto com os inimigos dos trabalhadores de ontem e de hoje.

Está se construindo um partido bastante diferente daquele fundado em 2004. Na fundação declarava-se que a "defesa do socialismo com liberdade e democracia deve ser encarada como uma perspectiva estratégica e de princípios", que mesmo longe de antever "uma ruptura sistêmica", se construa no "estímulo à mobilização e auto-organização independente dos trabalhadores e de todos os movimentos sociais" para construirmos mecanismos de "enfrentamento revolucionário contra a ordem capitalista estabelecida".

Mais do que simples jargões antigos, estas são as bases da organização partidária que todos querem ver definitivamente retomadas e desenvolvidas. O movimento socialista já acumulou bastante história para ter condições de não se deixar envolver, mais uma vez, pelo reformismo e pela burocracia corruptora que contaminou os partidos comunistas e derrotou a experiência PT.

Os lutadores conscientes têm, agora, um magnífico campo criado sob o PSOL para, fraternalmente, estabelecerem os fundamentos do novo caminho, abrindo as portas para "o debate ideológico, bem como para a prática de esclarecimento e formação política", rompendo com o aparelhismo e reformismo vigentes no movimento social como um todo, e, assim, propiciar a firmeza ideológica necessária à consecução dos objetivos revolucionários pelos militantes do partido.

3.4 Os desafios do PSOL frente à elaboração programática e a construção do partido

O PSOL surge como uma coalizão que ocupa o espaço deixado à esquerda pela total bancarrota do PT, enquanto instrumento de luta dos trabalhadores, e é parte de um fenômeno de transcendência mundial.

Mas, como diz o dito popular: nem tudo é um mar de rosas. O PSOL traz em seu interior contradições que se não forem resolvidas podem comprometer seu caráter progressivo. Ao nosso ver, parte importante da direção do partido tem como perspectiva a construção de uma espécie de PT que dê certo. Um partido que para agregar a todos não tenha definição ideológica clara pelo socialismo e pela revolução, onde a organização interna não seja assentada nos núcleos de base e não privilegie a luta direta da classe trabalhadora, ao contrário, tratando a luta institucional como prioritária.

Não somos anarquistas ou autonomistas. Não desconsideramos a necessidade de dar respostas táticas a todos os processos de disputa da consciência em curso na sociedade. Não significa que estejamos contra intervir nas eleições ou que a vemos como uma atividade secundária.

A perspectiva de construir um partido de massas não pode se confundir com um movimento amorfo, sem definições mínimas da estratégia a ser adotada em relação às intrincadas questões da luta de classe no século XXI; sem organismos e instrumentos políticos internos que permitam explorar a capacidade militante de elaborar e intervir de forma unitária neste momento de reorganização do movimento social. Nesse sentido, pensamos como o camarada Lênin, que dizia que "sem teoria revolucionária, não há sequer movimento revolucionário" e este tem sido um gargalo do PSOL que tem a obrigação de resolver, chamando um grande processo de formação política, não só para a direção, mas que chegue às bases do partido, aos núcleos, onde a diversidade político-teórica do nosso partido seja respeitada.

Primeiros signatários:

1-Antonio Carlos Soler “Toninho” - DNP- Apeoesp – Núcleo Diadema
2-Márcio Barbio- GTE SP- Núcleo Diadema
3-Severino Ramos - Apeoesp – Núcleo Diadema
4-Ezequiel Oliveira- Apeoesp – Núcleo Diadema
5-Mario-   Apeoesp – Núcleo Diadema
6-Adriana Paula - Núcleo Diadema
7-RosImeire dos Santos- Núcleo Diadema
8-Maiter Antonelo- Juventude- Núcleo Diadema
9-Rafael Trevigno- Juventude-Núcleo Diadema
10-José Roberto- Fundação Santo André- Núcleo São Vicente
11-Suellem Cerqueira- Centro de Estudantes de Santos - Núcleo São Vicente
12-Fabirson Lorenço – Unisantos- Núcleo São Vicente
12-Cláudio Martins- Núcleo Mogi Guaçu
14-Marcelino- Núcleo Mogi Guaçu
15-Haroldo Núcleo Mogi Guaçu
16-Rayan Núcleo Mogi Guaçu
17-André Núcleo Mogi Guaçu
18-Zé Luis Nogueira Núcleo Mogi Guaçu
19-Ivani Núcleo Mogi Guaçu
20-Roberto Jung- Núcleo Primeiro de Maio - POA
21-Gustavo José- Presidente do Sindicato dos Técnicos Agrícolas do RN
22-José Maria Cosme - Confederação Nacional dos Aposentados e Pensionistas do RN
23-Elton Wagner de Araújo – Núcleo  Japí –RN
24-Hebber Kennady- Juventude Parauapebas-PA
25-Babington Daniel – Campo Grande-MS
26 Sandro Marcelino Patricio – Campina Grande -PB
27 Antonio Carlos Patrício- Campina Grande -PB
28 Cristovam Ribeiro- Campina Grande -PB