Nossa
proposta para começar a construção
de uma nova alternativa política
Movimento
Esquerda Socialista - MES
Corrente Socialista dos Trabalhadores - CST
Pólo da Resistência Socialista - PRS
Brasília,
23 de setembro
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Estamos vivendo um dos cenários políticos mais importantes da história
do país. Desde que assumiu, o governo de coalizão encabeçado por
Lula/Alencar vem aplicando medidas políticas e econômicas que nada
mais são do que a continuidade do plano neoliberal implementado por
Fernando Henrique Cardoso. Esta orientação, que colide de frente com
as esperanças dos milhões que votaram pela mudança, iniciou um
processo de lutas e descontentamento, conduzindo à ruptura de
importantes setores do movimento com o governo e com o PT.
Em
função destas lutas, os parlamentares que a assumiram no Congresso
Nacional colocando-se do lado dos interesses dos trabalhadores, estão
sendo perseguidos no interior do PT. Esta perseguição converteu-se
numa expulsão branca, já que a cúpula do partido os afastou da
bancada e das comissões no Congresso Nacional, além de declarar nos
órgãos oficiais do partido que os parlamentares estão expulsos sem
sequer tal medida ter sido votada. Como correntes políticas nos
consideramos expulsas conjuntamente com esses companheiros e a sorte
deles é a nossa.
A
partir desta situação, iniciamos um amplo debate sobre a necessidade
de criar uma nova alternativa política para ser posta em pé a partir
de que formos expulsos oficialmente. Neste processo, por meio de reuniões,
plenárias, atos e palestras, temos debatido com os militantes e
lutadores sociais, com os intelectuais, os petistas fiéis às
bandeiras mais combativas do PT, e o próprio PSTU, a necessidade de
construir um novo partido. Em geral, o que podemos perceber é que a
necessidade de uma alternativa é reivindicada por uma parcela cada
vez maior da base histórica do PT e da ampla vanguarda que está
enfrentando as políticas do governo federal.
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Em nossas movimentações, porém, tivemos uma surpresa. Os
companheiros da direção do PSTU, que durante meses, por meio de seus
materiais públicos chamavam às lideranças do PT, em especial aos
parlamentares que enfrentavam o governo Lula a construir um novo
partido, quando este desafio se apresentou e milhares de petistas começaram
a buscar uma alternativa, passaram a polemizar com os chamados
radicais do PT. Concretamente, utilizando-se das notícias veiculadas
na imprensa burguesa, a direção do PSTU lançou uma carta assinada
por Zé Maria na qual, infelizmente, distorcem inúmeras das posições
por nós defendidas. Como entendemos que esta discussão é muito séria,
e que os companheiros do PSTU são, e de nossa parte devem continuar
sendo, parte integrante do debate e da batalha por construir, da
maneira mais unitária possível, um novo partido, queremos explicitar
o debate com esses companheiros, colocando preto sobre branco nossa
proposta de construção de uma nova alternativa, cujos eixos centrais
já foram desenvolvidos no documento: Nota pública aos militantes do
PTde 01/09.
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Temos manifestado abertamente que o novo partido tem que ser contra a
colaboração de classes, ser anticapitalista, socialista,
privilegiando a luta direta, que chame de modo permanente a mobilização
e o enfrentamento contra os poderosos e a burguesia. As bases de
nossas propostas programáticas estão claramente expressas no
Manifesto de Urgência assinado por mais de 2000 ativistas, militantes
e intelectuais de todo o país. Pode
e deve haver muitas outras contribuições. Entre todos devemos
discutir o programa necessário. Os pontos programáticos,
acreditamos, devem assumir bandeiras históricas do movimento dos
trabalhadores, bandeiras anticapitalistas e antiimperialistas, muitas
das quais o PT contribuiu para tornar popular, como a luta contra a dívida
externa, pela moratória e/ou não pagamento, a reforma agrária, o
reajuste de salários e a redução da jornada sem redução dos salários.
Deve ir além: deve definir uma posição clara pela destruição do
estado burguês e pela mobilização de massas como único caminho
para esta transformação radical da sociedade. Nossa proposta de
partido, portanto, não é uma reedição do PT. Trata-se da
necessidade de uma superação justamente porque um novo partido não
pode se limitar a ser um partido de classe, mas deve ser também um
partido anticapitalista, antiimperialista e socialista.
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Temos também colocado com total clareza, em particular na carta do
Rio de Janeiro de autoria de Luciana Genro, Babá e João Fontes, a
necessidade de construir um partido democrático, onde a base decida o
programa, a política e controle os dirigentes e as figuras públicas
do partido. Para isso, em primeiro lugar, é preciso núcleos
militantes e organismos de decisão soberanos aos quais todos devem
estar submetidos. Um partido democrático significa também respeitar
as distintas tradições da esquerda socialista, buscar a síntese via
a garantia do direito de organização de tendências no debate
interno, para que todos possam decidir o programa, a política e os
rumos da construção coletiva.
Para
lançar este partido nossa proposta foi e continua sendo a construção
de um movimento por um novo partido para iniciar com este movimento as
discussões de programa, estatuto, funcionamento e todos os passos
necessários para sua construção. Neste sentido é preciso uma
coordenação democrática que reuna todas as forças e também os
dirigentes que por fora das correntes organizadas estão elaborando e
ajudando a impulsionar o debate e a aglutinação da vanguarda
disposta a dar essa batalha, que funcione por
consenso ou por ampla maioria. Evidentemente, também o nome do
partido deve surgir deste movimento e não imposto por um ou outro
agrupamento.
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Para nós, Um novo partido deve privilegiar a luta e a ação direta
dos trabalhadores e não as eleições... ainda que não pode
desprezar a luta política em todos os espaços, entre ele o eleitoral...(Ponto
11 da Carta do RJ). Por isso propomos que com um programa básico
acordado, busquemos a legalidade do partido, assim como buscou o PT em
seu momento e assim como buscou o PSTU, o PC do B e o PCB. A busca
desta legalidade com base num programa que trace seus pontos
fundamentais não implica em esgotar as discussões programáticas que
devem ser aprofundadas para além da legalização do partido, com
debates e particularmente com um congresso especial. Entendemos a
legalidade como uma conquista necessária para atuar na luta política
como neste momento a tem todos os partidos que se reivindicam
socialistas e revolucionários. Fazer um novo partido significa fazer
um trabalho conjunto pela sua construção, pela elaboração de seu
programa, pela sua organização interna e também pela sua legalidade.
Isso é ainda mais importante sobretudo quando se sabe que a burguesia
e a direção do PT querem limitar ao máximo as condições legais
para a construção de um novo partido.
Sobre
esse ponto é justamente onde temos encontrado, infelizmente,
dificuldades com uma das partes comprometidas na construção de um
novo partido no Brasil: o PSTU. Os companheiros discutiram muitas de
nossas propostas e concordaram, assim como apresentaram propostas com
as quais compartilhamos. O ponto mais importante em que tivemos
desacordo foi justamente na questão da legalidade. Para a direção
do PSTU o movimento por um novo partido não pode buscar a legalidade
no ano de 2004, só apenas depois das eleições municipais, isto é,
em 2005, o que inviabilizaria a participação do partido nas eleições
de 2006. Evidentemente
discordamos. Tal proibição é ainda mais inaceitável, levando em
conta que na própria proposta dos companheiros estava posto que,
chegando-se no final de 2004 e constatando-se a não existência de um
acordo para construir um partido comum, então cada um buscaria sua própria
legalidade. O detalhe é que o PSTU já tem sua legalidade e
compreendemos perfeitamente que não abra mão dela. Apenas queremos que o movimento unitário tenha direito a
obter a sua. Caso contrário, o movimento fica sem uma perspectiva
definida e, dessa forma, tutelado pela direção do PSTU. Afinal,
caso não tenhamos acordo para fazer um partido comum, hipótese
levantada, em nosso entender de maneira franca e honesta pelos próprios
companheiros, quem não tem partido legalizado não terá a
menor condição de conseguir legalizar uma força política autônoma
em 2005. Os militantes que já lutaram para legalizar algum partido
sabem que isso não se consegue em tão curto prazo.
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A partir desse desacordo a direção do PSTU, infelizmente,
resolveu polemizar pela imprensa burguesa e se guiar pelos informes da
imprensa burguesa. Estão no seu direito. Mas, e fraternalmente o
dizemos, para nós não estavam no seu direito de divulgar reuniões
reservadas e atribuir a si propostas apresentadas por outros.
Realmente foi uma surpresa. Nos inteiramos pela Folha de SP que o PSTU,
depois de ficar o tempo inteiro defendendo um novo partido, acabe
afirmando que os radicais estão se precipitando ao chamar um novo
partido. Foi com pesar que, em seguida, vimos que a informação não
era falsa porque o jornal dos próprios companheiros, Opinião
Socialista, publicou a mesma orientação política. Infelizmente, ao
invés de se basear na nota pública divulgada pelos parlamentares, os
companheiros adotaram imprensa burguesa como sua principal fonte. A
nota à imprensa no Rio de Janeiro é
explícita: só há referências a propostas políticas, não há
menção a nomes de partido. Ademais, no dia seguinte ao ato do Rio de
Janeiro divulgamos amplamente um desmentido categórico sobre a
cobertura da mídia segundo a qual o ato havia sido para fundar um
novo partido, inclusive com nome, uma versão certamente mais
interessada em dividir do que em unir os socialistas.
Finalmente,
e de nosso ponto de vista muito grave, no referido artigo publicado na
coluna Fala Zé Maria, se insinua que os radicais seriam
eleitoralistas. Neste caso, e francamente consideramos, trata-se de um
lastimável desrespeito em relação a parlamentares que resolveram
enfrentar, e estão prestes a ser expulsos, da maior máquina
eleitoral da América Latina na qual se converteu o PT. O voto de
Luciana Genro, Babá e João Fontes contra a reforma da previdência,
contra a reforma tributária e suas posições claras em defesa dos
interesses dos trabalhadores no Congresso Nacional são expressões de
mandatos colocados a serviço das lutas. A acusação é ainda mais
injusta e infundada quando posta em contraste com a atitude de vários
parlamentares do PT, que se diziam contrários à reforma da previdência
mas que realmente ou votaram com o governo ou se abstiveram tentando
proteger seus mandatos parlamentares para tentar garantir
candidaturas, pelo PT, em futuras eleições. Tal acusação apenas
pode servir aos interesses daqueles que não querem a unidade dos
socialistas e querem enfraquecer os parlamentares que mostram com atos,
não com palavras, que os princípios não se negociam.
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Por meio desta nota queremos insistir junto aos companheiros acerca da
importância de sua participação na construção de um novo partido
que una os socialistas no Brasil. Mas os companheiros necessitam
entender que um novo partido, assim como não pode reeditar o PT não
pode ser um PSTU turbinado, para usar a expressão do economista Plínio
de Arruda Sampaio Jr. O PSTU ofereceu sua legenda para as próximas
eleições. Trata-se de um passo, mas este gesto não resolve nada
acerca da legalidade, já que a questão central não é participar de
uma ou outra eleição por uma outra legenda, mas de construir um novo
partido com sua própria legalidade. Que uma organização que tem sua
legalidade garantida coloque como condição que o movimento por um
novo partido não busque sua legalidade num prazo razoável para
conquistá-la, infelizmente é um mau sinal. Por isso entendemos que
o PSTU deveria ser o último a cogitar em fazer tal proposta.
Repetimos nossa idéia central: acreditamos numa síntese política,
construída a partir da incorporação de distintas tradições,
sensibilidades e setores da classe trabalhadora, da juventude, da
intelectualidade radicalizada, do movimento popular e camponês, enfim
uma síntese produzida nos embates da luta de classes e no debate
democrático. Por isso mais uma vez chamamos a unidade com os
companheiros do PSTU. Queremos que sejam parte, junto conosco, do
trabalho comum com milhares de ativistas, de intelectuais, de
dirigentes sindicais, de correntes da esquerda que estão dispostas a
por de pé uma referência socialista, uma nova direção política
dos trabalhadores brasileiros.
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