‘Um
novo partido não pode ser reprodução do PT
e tem que nascer pela base’
José
Maria de Almeida,
Presidente nacional do PSTU, 3/10/2003
Nossa
proposta aos parlamentares radicais:
façamos um movimento unitário e que a base decida os rumos que ele
deve tomar.
A
decepção de milhares de ativistas que ajudaram a construir o PT e a
eleger Lula é enorme. A liberação da soja transgênica, a reforma
da Previdência e a negociação da Alca demonstram que o governo Lula
pode ser tão útil ao capital como foi o de FHC.
Nesse
sentido, permanecer no PT, sob qualquer pretexto, é legitimar os
golpes aplicados contra os trabalhadores.
Foi
por isso que nós, do PSTU, com lideranças do funcionalismo, de
outros movimentos e intelectuais, lançamos o manifesto “Precisamos
de um novo partido socialista que unifique a esquerda brasileira”,
que defende a formação de um movimento pela construção de um Novo
Partido que agrupe os parlamentares radicais, o PSTU, diversos
agrupamentos e, sobretudo, os milhares e milhares de ativistas e
lutadores que estão rompendo com o PT. Este movimento pode vir a
constituir uma alternativa política unitária em relação ao PT.
Mas, para isso, teremos que superar o primeiro problema surgido logo
em seu início.
A
polêmica com os parlamentares radicais
Acreditamos
que o movimento para um Novo Partido exige ampla e democrática
discussão na base, sobre programa, concepção, bases teóricas,
funcionamento e, ao mesmo tempo, uma intervenção comum nas lutas,
para que possamos construir juntos um partido estratégico, que não
seja reprodução do PT, ou mera legenda eleitoral.
Os
radicais Babá, Luciana Genro e João Fontes, a quem respeitamos muito,
têm uma concepção que pode tanto abortar um movimento unitário,
como levar à construção de um partido parecido ao PT.
No
mês passado, em ato no Rio de Janeiro, os três defenderam – via
Jornal da Globo, e de própria voz – o lançamento e legalização
imediata de um Novo Partido, que já teria até nome (PTS), programa
– as bases programáticas do PT dos últimos 20 anos – e o
objetivo central seria lançar uma alternativa eleitoral em 2006.
Tal
proposta motivou um posicionamento contrário não só do PSTU, mas de
outros setores e da maioria dos ativistas, que, com razão, não
querem dedicar suas vidas a construir um Novo Partido que seja ou
venha a se transformar num novo PT.
Agora,
esses companheiros divulgaram um novo documento, intitulado “Nossa
proposta para começar a construção de uma nova alternativa política”,
onde afirmam que a direção do PSTU “utilizando-se de notícias
veiculadas na imprensa burguesa (...) lançou uma carta assinada por Zé
Maria na qual, infelizmente, distorcem inúmeras das posições por nós
defendidas”.
Nesse
documento dizem que não defendem a reedição do PT e que a diferença
conosco é que não estaríamos a favor de um prazo realista para a
legalização de um Novo Partido.
Antes,
é preciso dizer que não pautamos essa discussão pela imprensa
burguesa. Discutimos com o conteúdo da “Nota pública aos
militantes do PT”, que diz que a construção “rápida” do Novo
Partido é facilitada porque “suas bases programáticas já estão
lançadas (...) As bandeiras levantadas pela classe trabalhadora e que
o PT levantou nesses últimos vinte anos são bases sólidas para começar
a construção desse partido (...) que garantem, sem infindáveis
discussões, a base programática para por de pé uma ferramenta política
num tempo relativamente rápido”.
O
ultimato da legalidade
O
que mais ouvimos dos ativistas – e compartilhamos totalmente da
preocupação deles – é: será que esse Novo Partido não vai se
transformar em um novo PT?
Enfim,
ninguém quer construir um Novo Partido com bases programáticas frágeis,
sem que os ativistas e lutadores tenham controle sobre o mesmo e a
garantia de que estará voltado para conduzir as lutas sociais para
uma transformação socialista. Ou seja, um partido que em 2003 tenha
como horizonte as eleições de 2006, onde a tarefa primeira da militância
não é discutir e decidir o programa e caráter do Partido, mas sair
imediatamente filiando para legalizar uma legenda que ninguém sabe o
que será e mais tarde poderá ter como tarefa central buscar votos.
Segundo
os deputados, a diferença com o PSTU é que nós não estamos a favor
de um prazo realista para a legalização. No entanto, o que propomos
é muito simples: antes de se lançar a legalizar um Partido, os
ativistas têm o direito e o dever de discutir que partido será este.
Os
deputados, entretanto, dão um ultimato: colocam como condição para
um movimento unitário a um novo partido o início imediato de sua
legalização.
Em
seu novo documento, dizem estar a favor da discussão de programa na
base, mas que “ao mesmo tempo” os ativistas fariam as tarefas de
legalização. Cabe uma pergunta: o que vamos discutir se já
estaremos legalizando um partido? Queremos dizer fraternalmente aos
deputados que as pessoas não querem só “discutir”, mas decidir
que partido será esse.
Os
parlamentares dizem que nossa proposta de iniciar a legalização após
um ano de discussão e ação comum inviabilizaria a legalização.
Insinuam ainda que esta seria uma manobra.
Mas,
quando propusemos aos parlamentares que as tarefas de legalização
ocorressem em 2005, foi justamente para responder à preocupação
eleitoral deles, pois é plenamente possível legalizar uma legenda
nos prazos que propusemos. Para nós, o ideal era que o movimento não
estivesse condicionado de modo algum pelo calendário eleitoral.
Propor
a imediata legalização, além de levar à fundação de um partido
que ninguém decidiu o que será, fará com que a tarefa central da
militância seja a busca de filiações e não a discussão programática
e intervenção nas lutas.
Para
nós, as palavras-de-ordem e pontos que os parlamentares levantam em
seu documento certamente deverão constar de um programa, mas daí a
dizer que as bases programáticas já estão dadas é um enorme erro.
As bases programáticas do PT dos últimos 20 anos não servem para o
Novo Partido que precisamos. Entre elas, estavam as bases do “modo
petista de governar”, cujo resultado mais acabado é o governo Lula.
É preciso discutir também a questão da democracia burguesa e a relação
dos partidos operários com a institucionalidade. Essas e outras
discussões precisam ser realizadas por todos e não são “acadêmicas
ou intermináveis”, mas a garantia de um Novo Partido que não venha
a ser mera reprodução do PT.
Mas
esse problema importante da legalidade agora está ganhando maior
gravidade, na medida em que os deputados estão dispostos a romper a
unidade do movimento, por este motivo. Já estão realizando
atividades em separado em todas as cidades em que podem fazê-lo, como
Belém, Rio e Recife, não permitindo que o PSTU e outros setores
participem dos debates.
Nossa
proposta aos parlamentares: que a base decida
Consideramos
fundamental a unidade de todos aqueles que estão a favor de um
movimento por um novo partido. Dividir o movimento é um grave erro.
Fazemos
uma proposta e um chamado aos companheiros. Nós temos nossa proposta,
– de fazer a legalização do novo partido depois da discussão de
programa. E afirmamos ser possível, sim, legalizar este Novo Partido
em 2005. Mas, antes de mais nada, façamos um movimento unitário e
deixemos que a base decida qual o melhor encaminhamento.
Façamos
um Encontro Nacional para discutir quais as melhores formas de avançar
na construção do movimento e de se chegar a um novo partido. Vamos
construir atos conjuntos em todas as cidades, realizar seminários,
montar coordenações unitárias em todos os lados. Façamos uma Plenária
Nacional de base em novembro, durante o Fórum Social Brasileiro, que
dirá qual a melhor proposta de encaminhamento para o Movimento.
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