Compreender
o passado para recuperar o que há de positivo e o que é preciso superar
Experiência
do PT em avaliação
Henrique
Acker
Movimento Terra, Trabalho e Liberdade
(MTL)
27/12/03
A
expulsão de Heloísa Helena e dos deputados radicais do PT é um marco
para a esquerda socialista que se abrigou e se abriga no PT, mas também
para os setores que não participaram da experiência do Partido dos
Trabalhadores. Ela não será a última punição imposta a setores de
esquerda no partido, mas inaugura uma nova postura, que joga fora a própria
tradição e a cultura do PT.
Não
cabe apenas analisar os motivos da expulsão, mas, sobretudo, entender o
porquê dela e o seu significado, à luz de toda uma história de 23 anos
do PT. Este deve ser o esforço da esquerda no momento em que se discute a
possibilidade de construção de uma nova ferramenta política socialista
no Brasil.
Este
texto é uma primeira contribuição ao debate. Não tem a pretensão de
julgar ou dar o veredito final sobre a experiência petista. Ele foi
redigido por um militante que jamais se filiou ao PT, embora tenha
participado de campanhas eleitorais do partido e se relacionado inúmeras
vezes com os diversos segmentos que compõem o PT. Daí a sua provável
insuficiência.
Como
surgiu o PT?
O
PT, mais do que um partido previamente estudado e conformado, foi uma espécie
de encontro. Um encontro de setores os mais diversos num determinado
momento histórico, no final da ditadura militar. Este encontro levou à
conformação de um partido extremamente combativo e democrático. Para
ele afluiu o que restou das organizações de esquerda que atravessaram a
clandestinidade e algumas que se autocriticaram da experiência dos focos
guerrilheiros urbanos da época da ditadura militar. Para o PT também
contribuiu decisivamente uma militância formada nas Comunidades Eclesiais
de Base (Igreja Católica) e dos movimentos populares contra a Carestia.
Foi no PT que centenas de intelectuais marxistas encontraram energia e
esperança para desempenharem suas críticas à lógica da esquerda
reformista, tradicionalmente representada pelo antigo PCB e o PcdoB. Mas o
setor que deu a liga para o PT foi aquele que empalmou as lutas
reivindicatórias dos trabalhadores com a luta pelo fim da ditadura
militar: sindicalistas metalúrgicos do ABC paulista, comandados por Lula.
Cada
um destes setores deu sua contribuição: a esquerda marxista com sua
capacidade de formular programas, de organização e de dinamizar a
disputa no plano político geral; as CEBs com seu método amplo de
organização de massa; os intelectuais marxistas no plano das idéias e
na diversificação de temas que enriqueceram o projeto do partido; os
sindicalistas com a mobilização da classe trabalhadora para fundir o
partido com as reivindicações imediatas. Mas cada um destes setores também
tinha expectativas diferentes naquele novo projeto político partidário.
E isso ficou mais evidente a medida em que o tempo passou e novos desafios
foram sendo colocados pela frente.
O
PT, portanto, nasceu como uma combinação de forças e representou uma
ousadia para o seu tempo, quando no Brasil só se conhecia e se admitia o
bipartidarismo em que Arena e MDB cumpriam os papéis de situação e
oposição permitida pelo regime militar. Representou também o fim da
hegemonia do PCB e de suas variantes e do pensamento comunista clássico
na esquerda brasileira, que estão feridos de morte apesar de ainda
ocuparem pequeno espaço na luta política.
Por
que o PT degenerou ou abraçou o caminho do reformismo?
Responder
a esta questão possivelmente é encontrar a chave para a superação dos
erros cometidos e abrir a porta para uma nova experiência de esquerda no
Brasil. Por isso, qualquer erro de avaliação sobre a trajetória do PT
pode levar a conclusões equivocadas que comprometam o futuro da esquerda
brasileira.
É
bem verdade que os programas do PT – que variaram de tempos em tempos -
jamais afirmaram com todas as letras a necessidade da construção de uma
sociedade socialista, tal como se conhece na tradição marxista. Eles
sempre foram um misto das expectativas dos distintos setores que formaram
o partido, o que não poderia ser diferente. Mas as marcas do PT no início
eram a sua combatividade, a luta contra as injustiças, pela democracia na
sociedade, pela melhoria das condições de vida dos trabalhadores e da
maioria, pelo respeito às minorias, por uma política internacional
independente e não alinhada com o imperialismo. Sem ter um projeto
revolucionário socialista clássico o PT se apresentava como um partido
de forte conteúdo contestador, o que bastava para a década de 80, época
em que se lutava pelo fim da ditadura e pela volta da democracia burguesa
no país. Ao mesmo tempo, as diversas correntes de pensamento se
expressavam pelas tendências, cuja influência decisiva ainda era pequena,
mas que tinham todas as garantias de existência e respeito no interior do
partido.
Foi
esta miscelânea saudável que fez o PT crescer e se afirmar política e
eleitoralmente. O marco deste primeiro momento do PT foi a campanha das
diretas, que se transformou num movimento de multidões que tomaram
avenidas e praças de todo o país. O desfecho da campanha, com a ida ao
colégio eleitoral de todos os partidos com exceção do PT, foi um norte
de afirmação do PT como partido que não aceitava o jogo das elites. Àquela
época a esquerda petista pediu a cabeça dos deputados que desobedeceram
a decisão da maioria do partido, que acabou expulsando José Eudes, Bete
Mendes e Airton Soares.
Outro
momento de grande importância para a afirmação do PT no cenário
nacional foi a atuação de sua bancada na Constituinte de 1988. Ali o PT
teve papel de destaque não só pelos projetos que apresentou – que
visavam a incorporar ao texto constitucional uma série de conquistas e
reivindicações dos trabalhadores – como também pela forma como
enfrentou e muitas vezes derrotou o chamado Centrão, bloco parlamentar
conservador. Apesar dos limites, a Constituição de 1988 acabou
representando um avanço para a sociedade brasileira de então.
Da
mesma forma as primeiras experiências de prefeituras importantes
administradas pelo PT contribuíram para o amadurecimento do partido. A
tentativa frustrada de uma administração popular e de enfrentamento com
as elites na gestão de Maria Luiza Fontenele, em Fortaleza, foi
fundamental para a afirmação de um perfil mais conciliador dos futuros
governos petistas. Era como se os erros ali cometidos (voluntarismo,
sectarismo, etc) fossem uma prova da incapacidade de uma administração
classista de uma cidade. A partir daí, o setor que já se afirmava como
maioria no PT contra-atacou, formulando o que se passou a conhecer como
“modo petista de governar”, que nada mais era que uma expressão
difusa da intenção de governar com todos e para todos, preservando os
negócios e interesses das classes dominantes, mas tentando avançar na
administração dos serviços básicos com “ética na política”,
outra expressão cunhada pela maioria do partido. Uma primeira experiência
deste modelo de administração “diferente” mas ainda não totalmente
definido foi a da prefeitura de S. Paulo, com Luíza Erundina (1988/1992).
Um misto de inexperiência e de falta de realizações, além da indefinição
sobre como lidar com os distintos interesses das classes sociais em
disputa acabou levando o PT à derrota e ao retorno de Paulo Maluf ao
governo municipal.
Em
Porto Alegre o PT, sob influência de setores da esquerda moderada, optou
pela experiência da participação popular, através do Orçamento
Participativo. Sem dúvida que apesar de seus limites e os conflitos que
gera entre seus participantes, o OP acabou significando ao menos uma forma
de maior controle da população sobre os gastos públicos e sua aplicação
nos serviços básicos na Saúde e na Educação, por exemplo. Mas o OP
lida apenas com uma pequena fatia do bolo orçamentário, do qual mais de
80% fica subordinado à vontade do Executivo e do Legislativo. O OP pode não
ser o supra-sumo do poder popular, mas foi a marca que permite a reeleição
de prefeitos petista até hoje.
De
onde veio e como se afirmou a maioria que hoje comanda o PT?
Desde
os seus primórdios o PT tinha uma cara: Lula. E quem era Lula? Um
sindicalista combativo, pouco instruído, mas com uma inteligência
extraordinária e grande intuição política. Em pouco tempo Lula se
tornou a referência para toda uma geração que lutava contra os pelegos
e enfrentava o final da ditadura militar. Ao seu redor se localizaram
alguns intelectuais (Chico de Oliveira, Francisco Welfort, José Dirceu,
etc) e um grupo de dirigentes sindicais que surgiu das greves e mobilizações
de massas e que não se sentia à vontade com os métodos e práticas
fechadas e sectárias que a maioria dos grupos de esquerda do PT
preservavam. Com Lula organizaram a Articulação dos 113, que mais tarde
ficou conhecida somente por Articulação. É bom lembrar que esta
corrente majoritária chegou a buscar uma relação mais estreita com os
PCs e os regimes do socialismo real do Leste Europeu, além de uma
aproximação com o regime cubano de Fidel Castro. A crise e a queda do
socialismo real foram definidoras para a afirmação pragmática e
reformista da Articulação, que ainda assumia um discurso tímido de
conciliação de classes, muito em função da formação sindical da
maioria de seus quadros.
A
esta corrente de perfil mais sindical e que recebia influências de alguns
intelectuais que já faziam a crítica ao modelo de sociedade e de partido
da esquerda tradicional, se juntaram mais tarde setores que romperam com a
esquerda marxista e assumiram uma face marcadamente social-democrata, também
a partir da crise do Leste Europeu. José Genoíno e Tarso Genro são as
expressões públicas mais conhecidas deste setor.
Se
o setor majoritário teve na crise do socialismo real o ponto para a
afirmação de uma política escancaradamente reformista, para a esquerda
petista restou a perplexidade e a falta de uma crítica consistente àquele
modelo. Os setores trotskistas, que apostavam na chamada Revolução Política,
que deveria conduzir as massas a um novo regime socialista na ex-URSS e no
Leste Europeu, enxergaram nos levantes de massas contra os PCs verdadeiras
revoluções. Mas seu diagnóstico não contava com o fato de que os povos
identificavam socialismo com ditadura, o que os levaria inevitavelmente à
restauração capitalista, encabeçada por políticos burgueses apoiados
pelos EUA.
Talvez
o último grande momento de afirmação do PT como um partido de esquerda
foi durante a campanha eleitoral de 1989. O programa de Lula consagrava as
reivindicações dos movimentos sociais, como a Reforma Agrária e a
Reforma Urbana, as 40 horas semanais de trabalho, além de ter ainda um
forte conteúdo classista no plano político mais geral, como a bandeira
da suspensão do pagamento da dívida externa e o rompimento com o FMI. A
derrota para Collor e a queda dos regimes dos PCs no Leste Europeu
apressaram a guinada definitiva do PT, numa opção evidentemente
reformista.
A
conseqüência da afirmação de uma estratégia reformista da maioria no
PT foi a transformação do partido – antes de combate e alicerçado em
núcleos com algum grau de funcionamento regular – num partido
essencialmente eleitoral, ou seja, movido pelo calendário das eleições
e pelo desejo de ser uma alternativa eleitoral viável. As disputas
internas passaram a se dar não mais no plano preferencial pela definição
de uma estratégia para uma nova sociedade. Esta luta já estava definida,
com a vitória esmagadora dos reformistas. Restou apenas a disputa tática,
por políticas imediatas e pela definição dos programas e candidaturas
petistas. Ora, um partido cuja essência passou a ser quase que
exclusivamente a disputa eleitoral, teria que adotar métodos e condutas
naturalmente deformadas e burguesas, como a filiação indiscriminada, a
compra de votos nas convenções do partido através do binômio
“churrasco / Kombi”.
Na
década de 90 o novo PT já se afirmava, através das administrações
municipais e estaduais (o modo petista de governar) e, sobretudo, das
intervenções do Diretório Nacional nas direções regionais do partido
que ainda ousavam desafiar a linha política majoritária e sua política
de alianças. Foi o que se viu por duas vezes no Rio, até que a esquerda
petista acabou derrotada pelo pragmatismo e a corrupção da Articulação
fluminense, tendo a frente figuras como Jorge Bittar e Benedita da Silva.
No
entanto, a crise das correntes de esquerda do PT (inclusive das que saíram
do partido ou foram expulsas) não se deve apenas ao fechamento dos espaços
democráticos e a afirmação de uma política abertamente conciliadora,
reformista e intervencionista da maioria. Sua raiz está na ausência de
um projeto alternativo de sociedade socialista, com base teórica e
concreta experimentada na luta de classes, o que permanece até hoje como
um desafio para a esquerda socialista de dentro e de fora do PT. E mais,
muitas delas se fecharam em como correntes internas ao PT (em parte pela
determinação da maioria), com pouca inserção social e no movimento de
massas. Algumas ainda mantêm vínculos com a luta social, mas boa parte
de seus quadros está voltada para uma disputa interna perdida e que se dá
em meio a um mero politicismo, baseado em teses, discursos e proposições
teóricas contra o sufocamento do partido. Soma-se a esta incapacidade das
correntes da esquerda petista a marginalidade e a indigência cultural e o
esquematismo dos demais setores socialistas revolucionários que
procuraram se organizar por fora do partido. Não se trata de negar o mérito
das correntes de esquerda, mas alertar para a armadilha a que se deixaram
levar.
O
governo Lula
O
advento do governo Lula tornou evidentes as proposições do setor majoritário
do PT. Há quem compare este governo com o de Nelson Mandela à frente do
governo da África do Sul. Ali também se expressou uma política marcada
por certa independência no plano das relações internacionais, política
econômica conservadora e uma política social marcada por projetos
assistencialistas compensatórios. Seja como for, parece inevitável que o
Brasil tivesse que passar pela experiência de um governo do PT, o que foi
abortado em três eleições presidenciais.
Hoje,
qualquer analista mais sério, seja de qual corrente de pensamento for, há
de reconhecer que o PT é outro, que o discurso de mudanças da campanha
eleitoral foi trocado por um pragmatismo que visa agradar ao mercado e ao
núcleo central do sistema capitalista. As reformas neoliberais (previdência,
trabalhista, etc), as medidas econômicas (juros reais elevados, 4,25% de
superávit primário, lei de falências, etc), a ausência de políticas
efetivas e de longo prazo para enfrentar as mazelas sociais (desemprego,
terra e moradia, miséria, etc), são as marcas deste governo, subordinado
aos ditames do FMI.
No
entanto, é preciso alertar: a grande massa do povo brasileiro ainda nutre
esperanças no governo Lula no final deste primeiro ano do mandato. Todas
as pesquisas dão a Lula mais de 70% de aprovação entre os
entrevistados, o que mostra inclusive um descolamento da figura do
presidente do seu governo. Muitos ainda pedem tempo para o governo se
afirmar, outros acreditam que é preciso apoiar Lula porque ele enfrenta
uma herança pesada e forças poderosas. O fato é que as pesquisas de
opinião não deixam dúvidas de que o governo petista ainda tem muita
lenha para queimar. Além do que, Lula exprime como ninguém a cara do
nosso povo. Por isso, é preciso ser exato e paciente nas críticas.
Uma
crítica equilibrada
A
crítica ao PT pode resvalar por dois caminhos: 1) doutrinário, cuja
conseqüência será o desprezo dos aspectos positivos e a valorização
dos pontos negativos na experiência do PT. Daí a conclusão será,
obviamente, a necessidade de virar as costas para 23 anos do PT e uma
postura sectária com todos que permaneçam no PT; 2) conciliador, que só
valoriza os aspectos positivos e apesar de reconhecer os erros trata de
minimizá-los. Sua conseqüência óbvia será a subordinação à lógica
reformista e a tentativa de justificar a permanência no PT.
É
natural que aqueles que não pertençam ao partido caiam muitas vezes numa
crítica sectária, como forma de se justificar ou de justificar sua opção
por outras vias de organização partidária ou no movimento social. Esta
conduta, mesmo em meio a uma crise que fere o PT de morte para a esquerda,
pode fechar portas e dificultar o diálogo com os setores de esquerda que
permanecem no partido. Também é compreensível que os que sempre
militaram e deram suas energias para a construção do PT tenham
dificuldades até emocionais de assumir certas críticas, o que pode
conduzir a uma postura defensiva e fechada para uma análise dos problemas
que conduziram o PT até o ponto de expulsar parlamentares de esquerda.
Vamos
elencar alguns aspectos que marcam a trajetória do PT:
Méritos
do PT:
.
Surgiu das lutas sociais concretas que se avolumaram no final dos anos 70
(greves do ABC Paulista, luta contra a carestia, etc);
. Foi capaz de fundir os movimentos reivindicatórios com a luta contra a
ditadura militar e pela Anistia;
. Incorporou diversos setores em sua construção enquanto partido (organizações
de esquerda, intelectuais, sindicalistas, ativistas de mov. Populares);
. Ajudou a introduzir o questionamento a preconceitos e o debate sobre
novos costumes na sociedade;
. Arregimentou simpatia popular e de massas, distinguindo-se dos demais
partidos tradicionais;
. Conseguiu difundir e massificar símbolos e lideranças regionais e
nacionais;
. Preservou o diálogo interno com base no convívio entre diversas
correntes de pensamento da esquerda, pelo menos até o início dos anos
90.
Deméritos
do PT:
.
Se afirmou como alternativa de esquerda negando ou subestimando as experiências
anteriores da esquerda brasileira, notadamente a do antigo PCB, que
influiu decisivamente na vida política do país (Aliança Nacional
Libertadora, entrada do Brasil na 2ªGuerra Mundial, campanha do Petróleo
é Nosso, etc);
. Ajudou a fortalecer uma imagem de Lula como semi-Deus, acima de tudo e
de todos, o que hoje explica, de certa forma, a popularidade do Presidente
em detrimento de seu governo;
. Por sua política reformista, que se afirma definitivamente nos anos 90,
acabou por dar total poder aos parlamentares e dirigentes, reduzindo a
importância dos núcleos e deixando as decisões nas mãos de um grupo de
cúpula que hoje coloca em prática no governo o que já fazia no partido.
Iniciar
o debate sobre uma alternativa socialista contemporânea
Muitos
outros pontos poderiam ser levantados, mas o fundamental é lembrar que a
história não se repete. A possível construção de uma alternativa de
esquerda socialista no Brasil se dará num momento diferente, com outros
atores políticos e sociais e numa conjuntura internacional distinta da época
de formação do PT. Portanto, “retomar o PT das origens” é uma
expressão equivocada, em que pese todos os êxitos daquela experiência.
Visitar a história do PT é um primeiro passo para se construir a antítese,
mas apenas um primeiro passo. Uma síntese capaz de produzir nova energia
militante necessitará de debates mais profundos, inclusive sobre que
forma ou formas esta nova alternativa assumirá (se um partido, uma
frente, um movimento, etc).
Hoje,
outras questões terão que ser focadas para que se afirme um novo projeto
de esquerda no Brasil. Será preciso:
.
Compreender a base dos erros cometidos nas experiências do socialismo
real (forma de partido, modelo de sociedade, etc), origem e fonte
inspiradora da maioria das forças políticas da esquerda, inclusive as
que criticaram durante décadas aquele modelo de sociedade;
.
Recuperar as experiências históricas de luta e resistência de nosso
povo (Palmares, Cabanagem, Revolução baiana, Revolta das Vacinas,
Revolta das Chibatas, etc), para compreender suas formas de organização,
de luta e de sobrevivência econômica;
.
Entender que novos atores surgiram no cenário social brasileiro, a partir
da aplicação do projeto neoliberal e suas conseqüências para a classe
trabalhadora (precarização, terceirização, informalidade, etc). Só
assim será possível colar este novo projeto aos atores sociais com
capacidade transformadora radical da sociedade;
.
Inaugurar um novo método de reflexão e de ação, com base no respeito,
na aceitação das diferenças internas como algo natural e necessário,
de respeito e intercâmbio com as organizações sociais no campo e na
cidade;
.
Conhecer as experiências de outros povos na América Latina e no Mundo,
que deram origem às mais recentes lutas sociais e políticas
internacionais (Bolívia, Argentina, Equador, Venezuela, etc).
Portanto,
falar desde já na construção de um novo partido pode ser precipitado. O
que está na ordem do dia é o debate franco, aberto, público sobre a
necessidade de uma nova ferramenta que unifique as lutas e as reivindicações
dos movimentos sociais do campo e da cidade, envolvendo organizações políticas
de esquerda de dentro e de fora do PT, ativistas independentes de esquerda,
intelectuais marxistas, sem-terra, sem-teto, juventude das favelas e
periferias, estudantes, artistas, lideranças sindicais combativas,
parlamentares de esquerda, e todos os setores que se disponham a
contribuir para a construção desta nova ferramenta.
É
fundamental que este debate não se limite a apenas discutir o lançamento
de mais uma sigla partidária (o que pode ser uma imposição da realidade),
mas um movimento que alcance expressão nas lutas populares e da juventude,
no campo e na cidade, de caráter anticapitalista, com forte viés democrático,
capaz de interferir em todas as áreas da sociedade, disputando idéias e
projetos na teoria e na prática.
Artigo
publicado por Henrique Acker - MTL/RJ.
www.mtl.org.br
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